Os artistas impressionistas foram responsáveis por mudanças no modo de se fazer e ver arte que são percebidas até hoje, seja por suas escolhas técnicas ou estéticas. E da sua arte, podemos aprender lições importantes, verdadeiros ensinamentos para a nossa própria vida.
Neste artigo de Rute Ferreira vamos olhar para algumas pinturas de artistas impressionistas e ver como mudaram a forma de ver a arte e a forma de ver o mundo.
1 – Às vezes a distância ou o tempo podem ajudar
Situações difíceis no trabalho, na família ou nos relacionamentos podem nos deixar malucos. Às vezes é preciso uma dose de distância para se ver as coisas com clareza.
Pense: você já esteve em uma situação, que julgou ser a pior do mundo, até que o tempo passou e quando a coisa ficou distante, você deu boas risadas ou percebeu que talvez não devesse ter dado tanta importância ao assunto? Pois esse é um princípio claro para os artistas impressionistas .
Vamos pegar, por exemplo, a pintura Impressão, Nascer do Sol, de Claude Monet (1840-1926), que deu origem ao nome do movimento.
Impressão, Nascer do Sol, Claude Monet, 1872
Impressão – a pintura que se tornou símbolo dos artistas impressionistas
Olhando à primeira vista, o quadro não passa de um borrão ou de um esboço.
Entretanto, observando com mais atenção entenderemos que se trata de um porto em funcionamento nas primeiras horas do dia.
O pequeno círculo alaranjado atrai o nosso olhar e um tom mais forte de azul marca a linha do horizonte.
À frente no quadro, notamos os barcos, um em especial, centralizado na pintura, bem ao lado de onde o reflexo do sol aparece na água.
2 – Amigos são preciosos e podemos brilhar juntos
A amizade e o convívio são marcantes para os artistas impressionistas que frequentemente retratam os seus grupos de amigos nas suas pinturas.
Ter amigos e aliados é importante. Se você é uma pessoa introspetiva ou pouco gregária pode torcer o nariz pra essa lição, mas o fato é que há muitas coisas que não vamos conseguir fazer sozinhos, e tudo bem pedir ajuda.
O sucesso do Impressionismo deve muito ao fato de que os integrantes do movimento eram amigos.
Três moças com sombrinha (aka As Três Graças), Marie Bracquemond
O grupo dos artistas impressionistas
Para o pintor Eugène Boudin (1824-1898), a perfeição dos artistas impressionistas residia naquilo que eles tinham em comum, e jamais alcançariam o sucesso (ainda que demorado) uns sem os outros.
Essa colaboração foi essencial não só para o crescimento do movimento em si, mas para o trabalho particular de cada um.
Eles formavam um grupo um tanto estranho, mantido coeso graças em parte à natureza colaborativa de Camille Pissarro, o intelecto de Manet e o monumental talento de Monet.
Will Gompertz, Isso é arte?
Os modelos dos artistas impressionistas
Baile no Moulin de la Galette, Pierre-Auguste Renoir, 1876
Além da amizade uns com os outros, os artistas impressionistas também tiveram muitos amigos como modelos.
Renoir, por exemplo, não usou modelos profissionais para esse quadro: simplesmente retratou seus amigos.
Seu amigo Georges Rivière – que também escreveu sua biografia – é o homem sentado à direita, com uma caneta entre as mãos. A então namorada de Renoir, Marguerite Legrand, é a moça dançando em primeiro plano, de vestido rosado.
Então, mesmo que você tenha poucos amigos, não se esqueça de ter os certos.
As lições que podemos tirar das obras dos artistas impressionistas não terminam aqui como veremos de seguida
Edgar Degas… e o Impressionismo
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3 – Arte inspira arte: vá ao cinema ou ao teatro mais vezes!
Eu acredito firmemente que arte inspira arte e que todos nós, uma vez tocados por uma obra de arte podemos dialogar com ela.
A pintura pode inspirar a literatura e vice-versa. A música pode inspirar uma fotografia, e por aí vai.
Porque arte é, também, sobre comunicação. Os artistas impressionistas foram mestres nisso. Vivendo numa época em que a fotografia estava em seu início, o impressionismo possui uma estreita relação com as investigações sobre luz e cor.
A aula de dança, Edgar Degas, 1874
A cor dos artistas impressionistas
A grande importância da coloração na arte impressionista caminhava a par com um crescente colorido no mundo exterior à arte.
A partir do século XIX vários avanços químicos e técnicos levaram a um enorme crescimento na disponibilidade de corantes
Karin Grimmes, em Arte Moderna, vol.1, Taschen
A Ópera e o Teatro
A ópera e o teatro despertaram bastante interesse dos artistas impressionistas também.
E não somente os espetáculos em si, mas seus bastidores e plateia. É o caso, por exemplo, da próxima pintura de Mary Cassat.
Os efeitos dessa composição são dos mais interessantes: o colar de pérolas, que dá nome à pintura, serve como ponto focal. O broche de flores no vestido, visto de perto, parece uma pequena mancha e o caminho da tinta fica marcado.
Atrás da mulher, a artista coloca um espelho, que numa curva elegante, mostra o outro lado do camarote, o lado para onde ela dirige seu olhar e sorriso.
É impossível identificar os rostos, embora as roupas nos deem uma noção do gênero das pessoas.
Da próxima vez que for ao cinema ou ao teatro, tente pensar em que fotografia ou pintura você produziria com uma cena vista. É um interessante exercício criativo.
Mulher com Colar de Pérolas no Camarote, Mary Cassat, 1879
4 – Leia mais. Só tem a ganhar.
Considere a quantidade de quadros dos artistas impressionistas que representam pessoas lendo.
No quadro de Berthe Morisot (1841-1895), podemos observar uma moça de vestido branco, em primeiro plano, sob um fundo de diferentes tons de verde.
Em seu lado esquerdo, está uma sombrinha também esverdeada, num tom mais escuro, e no seu lado direito, um leque aberto – seu tom também esverdeado é mais claro.
A jovem está totalmente absorta na leitura de um livro.
Leitura, Berthe Morrisot, 1873
Mais uma vez a luz é a grande protagonista da tela, ao revelar diferentes nuances do verde, em sutis mudanças gradativas – do campo onde a leitora se encontra ao lenço amarrado em seu chapéu.
5 – Fique mais perto da natureza
Esta dica é um problema porque mora numa cidade grande? Então que tal um passeio por um parque arborizado da sua cidade?
Pense em alternativas, como os artistas impressionistas. Não estamos dizendo que precise ir à uma floresta isolada.
Em Telhados Vermelhos, Camille Pissarro(1830-1903) a composição apresenta um conjunto de casas com árvores ao redor.
É inverno, e tons de verde, marrom e vermelho marcam a obra.
Telhados Vermelhos, Camille Pissarro, 1877.
Perceba que as árvores que não estão totalmente desfolhadas, sobretudo as da direita, tem suas folhas pintadas com pequenas manchas, em pinceladas stacatto, ou seja pinceladas rápidas que não apresentam o acabamento, comum nas pinturas neoclássicas.
O pôr e o nascer do Sol
Se mesmo isso for muito difícil, considere apreciar o nascer ou pôr do sol, como nessa pintura de Alfred Sisley (1839-1899).
Os artistas impressionistas deram grande atenção à luz e às matizes de cor em vários momentos do dia. O nascer e o pôr do sol foram horas privilegiadas nas pinturas impressionistas .
Pôr do sol em Port Marly, 1876, Alfred Sisley
A maior lição dos artistas impressionistas: siga seu caminho
“No que me diz respeito, serei fiel ao meu direito de seguir livremente o meu caminho”
Camille Pissarro
A história do movimento impressionista contém vários fracassos. Os artistas estavam buscando uma arte nova, que falasse com eles, e não mais só reproduzisse modelos antigos, de séculos anteriores.
Queriam uma arte moderna para o homem moderno. Era um desafio à Academia de Belas Artes, de onde inclusive alguns entre eles vinham.
Em 1874, alguns deles, entre os quais Monet, Renoir e Pissarro, organizaram uma exposição no segundo andar do edifício Boulevard des Capucines, emprestado pelo fotógrafo Félix Nadar.
Estrada da Fazenda de São Simeão, Claude Monet, 1864
A primeira exposição impressionista
Cerca de 3500 pessoas visitaram a exposição, entre elas o crítico de arte Louis Leroy (1812-1885), que foi ácido em seu comentário sobre as obras, em especial sobre a pintura Impressão, Nascer do Sol, de Monet. Leroy escreveu que qualquer papel de parede era mais bem acabado que aquela pintura, em um artigo chamado A Exposição dos Impressionistas. E assim o grupo ficou – e ainda é – conhecido.