Acompanhe uma reflexão sobre a museologia social e o papel do turismo cultural para o envolvimento das comunidades locais na preservação e valorização do património.
Texto - Rute Ferreira
Turismo cultural
Toda atividade turística é cultural, contudo, há um segmento específico do turismo para designar aquele em que a motivação é conhecer uma nova cultura, descobrir hábitos de outras pessoas e comunidades, seus costumes e tradições.
É o chamado Turismo Cultural.
O interesse desse turista não se limita ao roteiro de sol e praia, mas está baseado no conhecimento do território, de seus moradores, saberes e modos de vida, bem como em suas produções artísticas e artesanais, monumentos e história.
E o que essa atividade tem a ver com a Museologia Social ?
De acordo com os pressupostos da Nova Museologia a ideia tradicional do museu apenas como um edifício é substituída pela noção maior de um território.
O museu é assim um espaço de troca de saberes, partilha e experiência e a coleção e acervo são compreendidos como o patrimônio local.
A Nova Museologia e a Museologia Social
As origens das discussões sobre a Nova Museologia estão muito localizadas nos anos 70 do século XX, mas na verdade são anteriores.
Ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) já se questiona o papel social dos museus.
Um dos pontos marcantes para o desenvolvimento dessa discussão está localizado nos eventos de maio de 1968 na Europa, enquanto há, na América Latina, uma gradual tomada de consciência sobre sua própria identidade.
Os museólogos e outros profissionais de museus começam a refletir, discutir e afirmar o papel político dos museus, principalmente nas conferências de 1971 e 1972, na França, e na Mesa Redonda de Santiago em 1972, no Chile.
É especialmente a partir da Mesa Redonda de Santiago que outras discussões no âmbito da museologia social vão surgir.
Assim como uma necessidade de participação e afirmação comunitária e popular.
Aparecem cada vez mais iniciativas de ações mais próximas da sociedade, como os museus comunitários em que a sociedade é responsável pela salvaguarda de seu património local.
Antes de continuarmos a reflexão sobre a relação entre turismo cultural e museologia, uma síntese sobre o que é Património Cultural.
Como a museologia social e o turismo cultural se tocam então?
Em 3 pontos fundamentais:
1 – Em primeiro lugar, existe a necessidade de interação com a comunidade.
Uma das faces do turismo cultural é conhecer hábitos e tradições locais, e isso pode ser mais bem feito se houver a preocupação local com o património.
A busca por alternativas sustentáveis para realização de suas ações também é uma questão que se vê nos dois campos.
2 – O turismo cultural fortalece, por sua própria natureza, a necessidade de se preservar o ambiente visitado, o que também acontece na museologia.
A sustentabilidade da atividade turística e a preservação do equilíbrio ecológico é atualmente uma incontornável preocupação a nível mundial.
Os operadores turísticos, em conjunto com as comunidades locais são chamados a promover um turismo mais verde e equilibrado.
3 – Há ainda os aspetos relacionados às políticas públicas e aos direitos humanos fundamentais.
Nomeadamente porque tanto o turismo como a museologia tendem a desenvolver boas práticas de inclusão social.
4 – Mais do que isso, o museu pode ser um ponto de partida para a criação de um roteiro turístico cultural.
Cada vez mais o museu deixa o seu espaço físico para se alargar ao território em que está inserido.
Museologia social e inclusão social
Aspeto fundamental nesta relação entre turismo cultural e museologia social prende-se com a inclusão social.
A inclusão social não se limita a eliminar barreiras físicas, embora sendo este um aspeto fundamental, mas também a tornar acessível a todos o processo de aprendizagem inerente à fruição do Património cultural.
Mas mais ainda, deve permitir a interação e colaboração de todos (visitantes e comunidade local) nos processos de salvaguarda do Património e de construção de espaços museológicos.
O conceito de inclusão social está assim intimamente ligado aos de museologia social e ecomuseus.
Pode consultar um Guia de boas práticas para a inclusão social em monumentos neste artigo.