Analisando Arte | Laocoonte e seus Filhos
Dentre as muitas obras belas e fascinantes que o período helenístico legou à humanidade, o conjunto escultórico Laocoonte e Seus Filhos com certeza é um dos mais comoventes.
A força dessa obra de arte, produzida num dos períodos de maior florescimento artístico na Grécia, vai desde seu tema até a extrema habilidade dos artistas na representação da tragédia vivida pelo sacerdote.
Vamos olhar para esta escultura fascinante na companhia de Rute Ferreira.
Hagesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes, Laocoonte e Seus Filhos, c. 175-50 a.C, Museo Pio Clementino, Vaticano
Laocoonte e a Guerra de Troia
Esculpida por Hagesandro, Atenodoro e Polidoro, em mármore, a obra pode ser a cópia de um original anterior, feito em bronze, que não chegou aos nossos dias.
Isso é questionável, porém. O fato é que se trata de uma das mais bonitas representações da arte e da mitologia grega.
Laocoonte é um dos personagens que aparece na Eneida, de Virgílio e na Iliada, de Homero. Natural de Troia, ele fez uma advertência aos compatriotas.
“não aceitem o cavalo de madeira, presente dos gregos, ou seremos todos destruídos”.
Os sacerdotes e adivinhos são peças fundamentais na Mitologia Grega, pois estabelecem a relação entre passado, presente e futuro. Na tragédia de Édipo, por exemplo, é o velho adivinho Tirésias quem conduz a teia de revelações que vão da ascenção à queda do monarca tebano.
Mas voltemos a Laocoonte. Com sua advertência, ele não apenas chegou perto de frustrar todo o plano do exército grego. Ele desafiou os deuses, e os contos sobre essas criaturas não cansam de mostrar que isso nunca fica sem um castigo, muitas vezes cruel demais. Foi esse o caso de Laocoonte.
A Guerra de Troia, diferente do que muitos pensam, não foi um incidente de amor isolado envolvendo Paris e Helena. Seus motivos e implicações transcendem e muito esse romance.
Ao ver a interferência do sacerdote, Poseidon (em algumas versões do mito) envia duas serpentes marinhas que atacam Laocoonte e seus filhos, Antífantes e Timbreu.
É uma das histórias mais terríveis sobre a crueldade dos deuses olímpicos, um verdadeiro conto de terror.
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A Escultura Laocoonte e Seus Filhos
E esse terror e crueldade são capturados com maestria nessa escultura, datada de mais ou menos 1750-50 a.C e descoberta em 1506.
Justamente o período em que a Europa vivia o Renascimento – que não por acaso, é o período histórico em que a Antiguidade Clássica é vista e resgatada como fonte não apenas de inspiração, mas também de conhecimento.
No período conhecido como helenístico, em que esse conjunto foi produzido, a Grécia acabava de passar por uma verdadeira revolução no sentido de produção artística.
Enquanto nos séculos anteriores o artista ainda esculpia e pintava com certa rigidez, já em finais do século V a.C a principal característica da obra de arte passa a ser a leveza.
Além disso, o trabalho do artista passa a ser visto de outra forma; ele não tem agora somente uma função religiosa ou política, mas começa a ser admirado pelo trabalho que realiza e por sua habilidade, especialmente na representação do corpo humano.
Representar o corpo humano não é uma tarefa fácil, mas os gregos a executaram muito bem.
A noção de simetria, harmonia e beleza desenvolvida nas estátuas gregas é realmente algo fascinante. Veja novamente a estátua que apresentamos hoje para confirmar isso.
Em Laocoonte e Seus Filhos, a figura central é o sacerdote.
O corpo forte e vigoroso se contorce de dor e agonia ao ser envolvido pelas serpentes. Músculos contraídos e até mesmo veias salientes são vistas no corpo do sacerdote.
Este que olha para o alto em atitude desesperadora.
Com uma das mãos – a única que está inteira – ele segura e tenta repelir uma das serpentes, que envolvendo o braço de um de seus filhos, lhe morde na altura da cintura.
Os dois rapazes, Antífantes e Timbreu, completam o doloroso quadro.
O jovem da esquerda, o menor deles, num gesto parecido com o do pai, tenta tirar de si a serpente, de forma inútil. Sua expressão de dor chega até nós: é uma criança sendo devorada injustamente por um monstro.
Do outro lado, o rapaz mais crescido olha para o pai enquanto tenta se desenvencilhar da besta que se enrosca em seu tornozelo.
Em poucos instantes, tudo terá terminado para eles e os planos dos deuses seguirão sem maiores interrupções.
Nesse momento, porém, embora imóvel, todo grupo é dinâmico. A rigidez que marcou os primeiros trabalhos gregos no campo da escultura não aparecem aqui.
Tudo flui: os movimentos de esforço evidentes, as torções e a expressão de luta e dor em cada face.
7 Comentários.
maravilhoso artigo. Obrigada.
Obrigado pelo comentário.
Não tem de quer, passe bem… querida s2
Os dos melhores textos do blogue, fluido e detalhado na medida certa. Inspirador. Obrigada
Obrigada por seu comentário, Marta. ♥️
Ameiiiiiiii, só não gostei da atividade que eu tive que fazer… poxa entendi nada desse texto bjss vamos para a sala
[…] Sacerdote Laocoonte impedido de destruir o cavalo por serpentes […]