Dia 15 de abril se comemora o Dia Mundial da Arte em todo o mundo.
A data foi decretada pela Associação Internacional da Arte em 2012, em homenagem ao nascimento de um dos maiores gênios da história da arte ocidental, e que representa as muitas faces de ser artista: Leonardo da Vinci.
O artista que acreditava que “a beleza perece na vida, mas é imortal na arte” deixou à humanidade um legado não apenas de obras materiais, mas de um modo de se portar diante da arte que se baseia na curiosidade, no aprender por experiência e na reflexão como parte de qualquer projeto criativo, e que viria a inspirar milhares de artistas ao longo dos séculos e ao redor do mundo.
Para celebrar o Dia Mundial da Arte queremos apresentar hoje uma amostra de cinco obras em que o tema central é a profissão do artista ou o artista executando seu ofício – uma homenagem a todos aqueles que, assim como Leonardo, imortalizaram a beleza da vida e da produção da obra de arte.
Dia Mundial da Arte – O ATELIÊ DO ARTISTA, DE GUSTAVE COURBET (1855)
Uma das obras mais importantes de Gustave Courbet (1821-1880) e do realismo francês o ateliê do artista (ou ateliê do pintor) é um quadro repleto de alegorias.
À esquerda há vários tipos, figuras humanas que pertencem às várias camadas da sociedade. À direita, temos alguns amigos do pintor e pessoas relacionadas à elite de Paris. No centro da imagem, há o pintor, o artista, criando uma tela de paisagem, o vale do rio Loue, uma referência à terra natal de Courbet, em Ornans – e ao seu lado um menino e um gato, e a figura de uma mulher nua, que é um símbolo da arte acadêmica do período. Há quem a veja ainda como uma representação da musa inspiradora de Courbet.
Dia Mundial da Arte – UM CANTO DE MEU ATELIÊ, DE ABIGAIL DE ANDRADE (1884)
Abigail de Andrade (1864-1888) foi a primeira mulher a receber o prêmio principal no Salão da Academia Imperial de Belas Artes, no Brasil.
No quadro Um Canto de Meu ateliê ela se representa de costas para o observador e não chama a atenção para si mesma, mas para seu local de trabalho. Ocupando o centro da tela, além da pintora, há sua tela e cavalete. Há reproduções de esculturas gregas e romanas nas prateleiras nas paredes, anjinhos pré-rafaelitas, flores e reproduções de mestres renascentistas. A disposição das coisas no ateliê sugere uma artista profissional que se ocupa de estudar e aperfeiçoar sua própria técnica e que para isso utiliza referências de todos os tipos.
O mais interessante é que nessa obra Abigail não se coloca como uma mera musa. Ela é tão somente o sujeito de sua pintura, um fato que, no século XIX era um desafio.
Dia Mundial da arte – CLAUDE MONET E SUA MULHER EM SEU ATELIÊ FLUTUANTE, DE EDOUARD MANET (1874)
Diferente dos dois trabalhos apresentados anteriormente, nessa pintura o artista não representa a si mesmo em seu ofício, mas a um amigo.
Edouard Manet (1832-1883) pinta Claude Monet e sua esposa Camille em seu barco-ateliê em 1874.
Os impressionistas, movimento na qual Monet esteve imerso, tinham a particularidade de pintar ao ar livre, para assim captar as diferentes nuances de cor que a luz transmitia ao longo do dia. Nesta pintura, Monet está atento ao seu trabalho, um esboço da margem que tem diante de si. Camille faz companhia ao artista e parece estar distraída ou reservada, enquanto Monet compõe a pintura.
Dia Mundial da Arte – O IMPORTUNO, DE ALMEIDA JÚNIOR (1898)
As pinturas de Almeida Júnior (1850-1899) são sempre “contadoras de histórias” que se desvendam nela mesma, se olharmos com atenção.
Em O Importuno, temos um pintor, com capa e material de trabalho nas mãos, que foi interrompido pelo importuno, a que se refere o título, que o faz afastar ligeiramente a cortina de entrada do ateliê.
Provavelmente é essa visita importuna que faz com que sua modelo, a moça que ocupa o primeiro plano da pintura, de vestido branco, meias e cabelos escuros, se esconda por detrás de um biombo, constrangida torcendo as roupas nas mãos. Enquanto o pintor observa alguém que nós não vemos, a modelo o observa sem que ele a veja – e nós, de alguma forma, também não observamos toda a cena, num círculo?
Dia Mundial da arte – ARTEMISIA GENTILESCHI, AUTORRETRATO COMO ALEGORIA DA PINTURA (1638)
Não foram apenas os artistas do século XIX que se ocuparam de retratar seu ofício. No século XVII a artista italiana Artemisia Gentileschi (1593-1656) também se ocupou do tema enquanto estava na Inglaterra a convite de Carlos I. Com um pincel em uma das mãos e uma paleta na outra, a pintura retrata a personificação da artista ao mesmo tempo em que se coloca como uma alegoria da pintura. De cabelos escuros e presos sem muito cuidado, e um avental marrom sobre um vestido verde, a pintora olha de modo atento para a obra que está produzindo.
Todas essas pinturas têm em comum o fato de mostrarem a produção da pintura, a obra sendo feita, o chamado work in progress. Que hoje elas nos sirvam de inspiração!
Feliz dia mundial da arte!
Rute Ferreira
Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com. Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.