Neste artigo conheça um dos escultores que melhor representaria a estética barroca no Brasil, Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como O Aleijadinho .
O Barroco no Brasil repercutiu as tendências estéticas europeias e as caraterísticas de teatralidade, movimento, grandiosidade.
A integração da escultura barroca em contexto de espaços arquitetónicos, ou de enriquecimento de edifícios pré existentes, foi também no Brasil uma realidade.
No entanto, como é frequente na arte brasileira, os estilos artísticos inspirados na Europa assumiram caraterísticas únicas e diferenciadoras.
O Aleijadinho é um magnifico exemplo não só de mestria estética e técnica mas igualmente destas inegualáveis caraterísticas assumidas pela arte brasileira.
o Barroco no Brasil
Na época do “descobrimento” do Brasil, predominava na Europa a estética barroca, que se opunha à estética renascentista.
Enquanto esta se baseava na razão e nos modelos da antiguidade clássica, aquela tinha seus fundamentos em uma profunda emoção e seu foco estava em temas religiosos.
Por ter como foco a temática religiosa, a maior parte das obras em estilo barroco, sobretudo no Brasil, consiste em imagens de santos, profetas e da Sagrada Família.
O nível de detalhes das obras era extremo; muitas das esculturas barrocas, por exemplo, eram ornamentadas com folhas de ouro e as coroas chegavam a ser de prata ou de ouro também.
Percebe-se aí o quanto o fator econômico está intimamente ligada à produção artística.
Esse tipo de detalhes nas obras de arte só chegou a ser possível graças ao período abundante, em termos de riqueza, pelo qual o país passava, especialmente a região de Minas Gerais.
E foi nessa região, em Ouro Preto, que nasceu em 1730, um dos escultores que melhor representaria a estética barroca no Brasil, Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho .
O Aleijadinho
Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, o que ajudou a construir um mito por trás do escultor.
O Aleijadinho trabalhava sob encomendas, o que era comum na época, costume que vinha da Europa inclusive.
Assim como também o fato de que ele aprendeu o ofício de tradição familiar, ajudando o pai e o tio em sua juventude.
O primeiro projeto individual de Aleijadinho é executado em 1752, um desenho para um chafariz em Ouro Preto.
A partir de então sua habilidade foi sendo cada vez mais reconhecida e seus trabalhos cada vez mais encomendados.
A despeito disso, o problema do preconceito consistiu um grande obstáculo em vida de Aleijadinho.
O Aleijadinho era filho de um arquiteto português e sua escrava africana.
Por ser mulato, e por ter nascido escravo muitas vezes deixou de receber encomendas como mestre, sendo contratado como artesão diarista e sendo bem menos remunerado.
Por volta de 1777, o Aleijadinho começou a dar sinais de uma misteriosa doença que atrofiou seus membros e o fazia andar de joelhos, daí sua alcunha.
O que poderia ser a gota d’água para o artista, já marginalizado por suas origens, serviu exatamente como o contrário.
Quando perdeu os dedos das mãos, passou a amarrar instrumentos em seus braços parra continuar esculpindo em madeira e pedra-sabão.
Falecido em 1814, pobre e cego, hoje é um dos artistas coloniais mais celebrados e reconhecidos no Brasil e fora dele, autor de um vasto e belíssimo conjunto de esculturas.
O Aleijadinho, porém, é uma exceção à regra.
Comumente, os artistas barrocos não assinavam suas obras, e muitas esculturas são obras de artistas anônimos, artesãos religiosos, preocupados em demonstrar o esplendor de sua fé.
Garcez e Oliveira (2011) dizem que:
“Não existia ainda a noção de ‘autoria’, muito valorizada hoje. Os artistas eram artífices ou artesãos que trabalhavam muito para ganhar a vida. Contavam com a ajuda de auxiliares, muitas vezes mulatos, que trabalhavam por qualquer dinheiro. Estes ajudavam anonimamente a terminar obras que hoje tem um valor incalculável e fazem parte do patrimônio cultural da humanidade.”
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Rute Ferreira
Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com. Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.