O que é Patrimonialização ?

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Quando falamos em património cultural sobressai um termo que é quase obrigatório para entendermos todo este conceito:  a patrimonialização .

No artigo de hoje, vamos debruçarmo-nos sobre esta grande palavra – patrimonialização – e a importância do processo para o património cultural .

Texto: Vanessa Miranda, autora do Guia para a Preservação do Património

Também pode ler este artigo em Español | English

Património Cultural e Patrimonialização

claustro de um convento

 

Entender o património cultural

O património cultural assume uma importância significativa para a sociedade contemporânea, sendo, por isso, um tema transversal a muitas áreas científicas. Curso de Interpretação do Patrimonio

Isto acontece porque existe uma grande necessidade de refletir e conhecer as questões interligadas à memória coletiva e social, à seleção de elementos do passado, à identidade social, à função do património, bem como às manifestações culturais das comunidades.

Mais do que nunca, cresce a necessidade de compreender quem somos e qual é a nossa identidade.

É dentro desta bolha reflexiva que o património deixa de ser apenas sobre o monumental, o histórico ou o artístico, tornando-se também um espólio – um livro infinito onde o passado é interpretado a partir do presente, segundo critérios de seleção e valorização específicos de cada época.

Entre memórias passadas, importa ter um olhar atento às necessidades do presente e do futuro!

O que é Patrimonialização

De forma simples, a patrimonialização é um processo que permite atribuir valores, significados, sentidos e usos a objetos, modos de vida, saberes e conhecimentos sociais. Para tal, é fundamental compreender o património cultural no seu real contexto social, cultural e económico. Capa do Guia para a Interpretação do Património

Origem da patrimonialização

Este fenómeno de patrimonialização tem as suas raízes num acontecimento histórico que remonta ao Século das Luzes, durante a alvorada da Revolução Francesa.

Neste período, a apropriação dos bens disponíveis à nação foi inventariada a partir dos bens do clero e da nobreza. O novo governo francês, fruto da resolução da Assembleia Constituinte de 1789, cumpriu o imperativo estatal de proteger o património material, incluindo obras de arte e edifícios.

É a partir deste momento histórico que a patrimonialização se solidifica como uma prática determinante, com o objetivo de proteger os bens culturais tangíveis.

No entanto, é importante lembrar que o património classificado ou distinguido corresponde apenas a uma parcela selecionada e protegida, mediante um discurso que se pretende homogéneo.

O outro lado da patrimonialização

A patrimonialização também acarreta um peso significativo quando existe uma disputa pelo património, tendo em vista a diferenciação face a outros bens.

Ou seja, quando um bem cultural tem uma importância considerável e se estende por mais locais, concelhos ou regiões, pode surgir uma disputa de direitos sobre esse bem.

Exemplo disso são os diversos castelos espalhados por várias regiões portuguesas, que, embora integrem o património cultural da região, nem sempre representam o rosto daquela área.

Ainda podemos referir algumas classificações de Património Imaterial da Humanidade da UNESCO que englobam vários países e regiões como o caso da Dieta Mediterrânica (Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Itália, Marrocos e Portugal).

Este processo de atribuir significado a um objeto ou bem, ainda que conduzido pelo poder público, deve ser usufruído pela comunidade em geral, com vista ao desenvolvimento económico e ao reforço da identidade coletiva.

centro histórico com castelo

 

Além disso, a patrimonialização – a atribuição de significados ou valores pode gerar momentos de tensão, negociações ou conflitos entre as visões dos especialistas e dos habitantes locais.

Para evitar tais conflitos, é essencial, através de uma visão alargada, prestar atenção e respeitar o que aquele bem ou objeto significa para os habitantes. Afinal, nem toda a cultura pode ou deve ser patrimonializada.

A patrimonialização tende a atribuir um carácter de permanência, enquanto a cultura está em constante mudança.

O património cultural funciona quase como uma base, uma figura de ordem e coesão social, que, para alcançar o seu estatuto, necessita de passar por um processo de significados, valores e atenção — a patrimonialização .

Este fenómeno (re)significa e revaloriza os objetos ou bens. Porém, subsiste um desafio: a constante destruição do património.

Refletiremos sobre isto proximamente.


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Vanessa Miranda site

Vanessa Miranda

Contar e escrever histórias, é assim que me lembro de ser desde sempre. Sou licenciada em Gestão de Atividades Turísticas e Mestre em Património Cultural. Esta paixão levou-me a criar uma pequena empresa de atividades turísticas cuidadosamente planeadas, centradas na história de Lisboa e na história, muitas vezes esquecidas e subestimadas, das mulheres.

Além de percursos a pé pela cidade, atuo como consultora na produção de conteúdos no desenvolvimento e produção de conteúdos de roteiros turísticos para a app Walkbox. Escrevo artigos de opinião para um jornal na Madeira e outro em Barcelos.  Movida por valores, sou voluntária numa associação onde assumo o papel de criadora e gestora de conteúdos.

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