A arte conceptual de Joseph Kosuth é uma das expressões mais representativas da relação entre arte e linguagem, e de um conceito que defendia que a arte deve se questionar a todo momento.
Para começar, não pense na arte apenas como um objeto, como pinturas ou esculturas, mas pense nela primeiro como um pensamento ou percepção.
Conheça a arte conceptual de Joseph Kosuth com a Rute Ferreira, autora do curso Curadoria de Arte - Exposição.
Imagine a seguinte situação: é domingo e você decide ir visitar um museu. Uma ótima ideia para uma tarde com a família, você pensa. Então você chega ao museu escolhido e se depara com algo inusitado: uma cadeira.
Joseph Kosuth, Uma e Três Cadeiras,1965, MoMA © Joseph Kosuth
Uma e Três Cadeiras,1965
OK, você pensa, a arte é sair da sua zona de conforto e ir além das convenções e padrões, mas sério, uma cadeira?!
Você se aproxima e encontra algo que o deixa curioso: duas fotos na parede. Uma delas é uma reprodução fotográfica da cadeira que você está vendo. A outra apresenta uma definição do dicionário para cadeira.
Tudo bem, você pensa, esses artistas estão indo longe demais.
O que isso significa? Sobre o que é essa arte? E o mais importante, por que alguém decidiu expor cadeiras em um museu?
Se você se identificou com o confuso visitante do museu, imagine como o público de Nova York se comportou quando a obra Uma e Três Cadeiras, de Joseph Kosuth (1945-), foi exibida pela primeira vez no MoMA em 1965.
Joseph Kosuth
O que é arte conceptual ?
Em 1965, a arte conceptual ou arte conceitual – uma arte que não está necessariamente ligada a um objeto estético – estava
A arte conceitual de Joseph Kosuth é uma das expressões mais representativas da relação entre arte e linguagem, e de um conceito que defendia que a arte deve se questionar a todo momento.
Para começar, não pense na arte apenas como um objeto, como pinturas ou esculturas, mas pense nela primeiro como um pensamento ou percepção.
Joseph Kosuth afirmou que toda arte depois de Marcel Duchamp é arte conceptual uma vez que a arte passou a existir só conceptualmente.
Esse raciocínio foi o ponto de partida para muitos artistas da década de 1960, que, como Kosuth , questionaram a validação das formas de arte tradicionais decorrentes de sua crescente comercialização.
Podemos dizer que um artista conceitual é, antes de tudo, um filósofo.
Porquê cadeiras?
Mas, por que fotografar e expor cadeiras em um museu tão grande como o MoMA?
É aqui que as coisas ficam ainda mais interessantes: cada uma dessas cadeiras desempenha um papel diferente na obra de arte.
A cadeira de madeira, ao centro, é o que na arte se chama ready made, uma manifestação artística que se popularizou graças a Duchamp.
A ideia é tirar um objeto de seu uso cotidiano e dar a ele um novo significado em um espaço como um museu. Assim, a cadeira não é mais um móvel sobre o qual se senta, mas algo que é observado e analisado.
Nessa perspectiva, um objeto comum é elevado ao status de obra de arte.
A representação fotográfica da cadeira enfatiza um dos mais antigos temas de debate na arte: a imitação.
A definição de cadeira, por outro lado, estimula a análise entre o que vemos como real – ou pelo menos o que se apresenta como real – e o que construímos em nossas mentes com a ajuda de palavras
Kosuth tinha apenas 20 anos quando expôs Uma e Três Cadeiras. Ele fez o mesmo experimento com outros objetos e, no mesmo período, começou a trabalhar com neon. Uma coisa interessante sobre esse material é que eles representam em um objeto exatamente a informação verbal que carregam.
Na arte conceptual a quebra de uma fronteira fica clara: o verbal substitui o pictórico.
Quatro Cores, Quatro Palavras, de Joseph Kosuth, 1966
Arte conceptual – Arte como uma ideia como uma ideia
A série Art As Idea As Idea, que Kosuth começou ao mesmo tempo, é outra coisa que certamente mereceria a sua atenção no museu.
O artista pegou uma série de palavras – uma palavra e sua definição – e as exibiu em chapas fotográficas.
O conceito é claro: a arte não está no meio em si, mas na ideia que ele expressa.
Isso é o que, para Kosuth, também deve ser entendido como arte.
“Definition”, 1966.
Arte conceptual – Arte para pensar
Uma das críticas mais comuns à arte conceptual de Joseph Kosuth (e a esse tipo de arte em geral) é que ela é uma arte abertamente intelectual.
Pessoalmente, acho que é um tipo de arte em que o observador é convidado a pensar além do usual e do que normalmente ele entende como a função da arte.
A arte conceptual oferece uma variedade de maneiras para o público participar do processo de construção de significado.
Afinal, se uma cadeira é exposta em um museu, não parece divertido descobrir as razões disso?
