A criptoarte ou arte NFT tem posto em causa nos últimos tempos muitos dos paradigmas do mercado da arte e muitos se questionam se irá colocar em causa o valor das obras físicas dos artistas contemporâneos.
Mas primeiro – o que é criptoarte ou arte NFC
Trata-se de um trabalho artístico registado criptograficamente através de uma blockchaine e transformada num token não fungível (Non-Fungible Token (NFT).
A blockchaine assegura a imutabilidade dos registos que teoricamente não poderão ser falsificados, replicados ou modificados.
A criptoarte e a garantia da autenticidade
As obras de criptoarte asseguram, deste modo, a autenticidade da obra de arte e constituem uma salvaguarda para o artista.
Isto porque a tecnologia digital tem permitido a reprodutibilidade técnica da obra de arte. Como nos é dito por Rute Ferreira no curso Mercado da Arte:
Digamos que você decida ter uma obra de arte contemporânea em sua casa. Você encontra uma foto em alta resolução, imprime num bom papel, emoldura e... voilà! Você tem uma obra de arte em sua sala, e o artista que a criou, infelizmente, não recebeu nada por isso.
Vai então usufruir do prazer estético de uma obra de arte sem que o seu criador sequer saiba disso.
Com as obras de arte NFT, mesmo que circulem na internet milhares de cópias da mesma obra, será sempre possível saber qual a original e quem é o seu proprietário.
A arte NFT e o valor da obra de arte
Imagine agora que o autor da obra de arte é, ou se torna, reconhecido no mercado da arte e as suas obras passam a valer milhões?
Quanto vale a sua reprodução? Absolutamente nada.
Isto porque de entre os inúmeros fatores que influenciam o valor de uma obra de arte no mercado da arte o primeiro e mais decisivo é a garantia de autenticidade.
Os valores astronómicos atingidos nos leilões de arte não o são por obras que “talvez sejam de Van Gogh, Picasso, Munch…” mas sim cuja autenticidade esteja garantida e certificada por especialistas.
A criptoarte ao assegurar a autenticidade, valoriza a obra de arte enquanto investimento financeiro.
Torna-se, para quem adquire, um ativo financeiro. Ou melhor, um criptoativo financeiro.
O mercado de NFT cresceu 705% em 2020, de acordo com a NonFungible, empresa especializada em análise de dados do ramo de NFT, movimentando dezenas de bilhões de dólares.
As obras são geralmente vendidas em leilões virtuais e as transações realizadas em criptomoeda.
Algumas atingem já nos leilões valores impressionantes.
Vamos ver
Beeple
Everydays: The First 5000 Days
Este lote foi leiloado na Christie’s e atingiu o recorde de 69 milhões de dólares.
O leilão começou com uma licitação base de 100 dólares.
Veja o vídeo na Christie’s.
Crossroad
Do mesmo artista, o vídeo de 10 segundos, Crossroad, foi inicialmente adquirido por 67 mil dólares em 2020.
No ano seguinte foi vendido, no mercado secundário, por 6,6 milhões de dólares.
Damien Hirst
Damien Hirst, um dos mais conhecidos artistas contemporâneos cujas obras atingem valores extraordinários em leilão, lançou The Currency, em Julho de 2021.
Trata-se de 10 mil NFT que correspondiam a 10 mil obras originais.
Uma exposição na Newport Street Gallery, representante do artista, de 23 setembro a 30 de outubro 2022 será o corolário deste lançamento.
Isto porque os compradores escolheram entre ficar com as obras físicas ou as NFT. 5149 escolheram as obras palpáveis, enquanto 4851 optaram pelos NFT. AS obras físicas correspondentes a estas últimas serão destruídas.
Até ao final da exposição – 30 de outubro – o próprio artista queimará todas estas obras.
O próprio ato de Damien Hirst as queimar as suas obras tornou-se uma performance artística partilhada nas redes socias e notícia de destaque nas televisões e jornais.
E não temos dúvidas que, os que adquiriram estas obras, fizeram um bom negócio.
Irá a arte NFT substituir a produção artística tradicional?
Só o tempo o dirá. Mas acreditamos que não. A criptoarte será mais um meio que os artistas têm ao seu alcance de produzir e comercializar a sua arte.
A arte reflete o seu tempo, responde ao seu tempo, é testemunha da sua história.
E a criptoarte será isso mesmo. O reflexo na arte de um mundo em que a realidade virtual é cada vez mais presente e no qual o consumo se expande e se alarga por via digital.
Voltando à questão inicial – a criptoarte irá mudar os paradigmas do mercado da arte?
Como vimos, já mudou. Mas em que sentido?
Nos métodos de produção artística, na forma de autenticação das obras de arte, nos métodos de comercialização de arte e no acesso à sua aquisição.
Mas, no essencial, o processo inerente ao mercado da arte mantem-se. Continuamos a distinguir claramente o mercado primário e secundário da arte.
O mercado primário com os artistas a venderem, diretamente ou por meio das galerias que os representam, as suas obras.
O mercado secundário com as casas de leilões e as licitações, agora online e em criptomoeda.
E não é por acaso que vemos as grandes galerias de arte e as mais conceituadas casas de leilão do mundo entrarem de forma decisiva no negócio da arte NFT .
Mercado da arte – como funciona o mercado da arte
Neste curso online certificado vai saber como funciona o mercado da arte através de:
- Reflexão sobre a economia da arte, a partir da análise do valor das obras.
- Compreensão das distinções entre o valor estético e o valor de mercado da obra de arte
- Análise das dinâmicas do mercado da arte, considerando alguns pontos específicos da História da Arte.
- Análise dos mercados primário e secundário da arte.
- Compreensão da dinâmica do mercada da arte contemporâneo e das suas oportunidades
Fátima Muralha
Licenciada em história, opcional história de arte. Pós graduação em gestão e valorização do património, especialização em gestão de projetos culturais. Vários cursos de especialização na área da valorização do património, gestão de projetos, museologia e formação profissional. Coordenação de vários projetos ligados ao património histórico e artístico. Autora de várias publicações e comunicações. Criação e coordenação do projeto Citaliarestauro.com.