O nascimento de Vénus (1483), de Sandro Botticelli (1445-1510)

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O nascimento de Vénus | Sandro Botticelli

O nascimento de Vénus , de Sandro Botticelli, talvez seja uma das obras mais conhecidas e reproduzidas ao longo dos séculos. Neste artigo iremos conhecer esta obra nos seus detalhes:
  • O que representa – o Mito
  • O quadro – composição e personagens
  • O estilo inconfundível de Botticelli
  • O tempo e contexto em que foi criada
  • Quem era a Vênus de Botticelli?
  • A representação de Vénus na história da arte
Por: Rute Ferreira, autora dos cursos online : Curadoria de Arte | Mercado da Arte | História da Arte no Brasil | e do E-book Mulheres e Mitologia na Arte.

Fonte: Wikiart.org

Quem é a Vénus de Sandro Botticelli

A moça nascida da concha, Vênus para os romanos e Afrodite para os gregos, já estampou, na sociedade moderna, de embalagens a capas de caderno. É a deusa do amor e da beleza, que segundo a versão mais recorrente da mitologia grega, é constituída de espuma do mar e trazida à costa do Chipre, onde foi criada pelas Cáritas, filhas de Zeus.

O nascimento de Vênus: o mito

A mitologia tem duas versões para o nascimento da deusa.

Na primeira, ela aparece como (mais uma) filha de Zeus com Dione, a deusa das ninfas.

Já a segunda versão, mais famosa, está relacionada aos titãs: quando Cronos, filho de Urano, mutila o pai, ele joga seus genitais no mar. Daí, nasce Afrodite, brotando das espumas como uma flor. A deusa é levada por Zéfiro até Chipre (e Zéfiro, não custa lembrar, é o mesmo vento gentil que leva Psiquê até o palácio de Eros).

Ao chegar em Chipre, Afrodite foi recolhida pelas Estações.

Mais tarde foi levada até os outros deuses, que a desejaram como esposa, graças ao cinto mágico que usava. Esse cinto, que aparece em muitas obras de arte como um elemento fundamental, fazia com que todos que a vissem se enamorassem dela.

O nascimento de Vénus: o quadro

Do lado esquerdo, ela recebe o sopro de Zéfiro, responsável pelos ventos do oeste, e do lado direito, uma manta coberta de flores, entregue por uma das Horas, deusas das estações.

O Nascimento de Vénus - Zéfiro e Clóris

O Nascimento de Vénus – Zéfiro e Clóris

 

O Nascimento de Vénus - Primavera, uma das Horas

O Nascimento de Vénus – Primavera, uma das Horas

 

Embora seu corpo esteja numa posição frontal, permitindo ao observador que contemple sua nudez, parcialmente oculta pelas mãos e cabelos, ela inclina o rosto e o olhar para a sua esquerda.

Nascimento de vénus detalhe

Nascimento de vénus detalhe

 

O nascimento de Vénus de Sandro Botticelli – o tempo

Acredita-se que Sandro Botticelli tenha produzido essa imagem através de uma encomenda de um dos Médici, que a queria para enfeitar sua casa. Mitologia Grega e Romana - curso online

Feita numa época em que a produção artística em geral primava por temas católicos, a obra foi vista como uma espécie de apologia ao paganismo.

O momento histórico de sua produção é o Renascimento, período histórico situado entre o século XIV e o século XVI, em que a Itália passa por um momento culturalmente rico e intenso.

O estilo inconfundível de Sandro Botticelli

Embora seja uma obra de qualidade estética inegável, alguns detalhes como o ângulo do ombro de Afrodite já foram apontados como falha em Sandro Botticelli .

Na verdade, esses detalhes, como o alongamento do pescoço e o comprimento dos braços, dão uma mostra do estilo do autor, menos realista que seus contemporâneos, como Rafael, por exemplo.

Sandro Botticelli também foi o responsável por criar a pintura Vénus e Marte, ou seja, Afrodite e Ares, em 1483, que apresenta o deus da guerra adormecido, enquanto é observado por Afrodite.

Embora a deusa seja esposa de Hefesto, um deus manco responsável por forjar espadas, Afrodite mantém um caso ininterrupto com Ares. Segundo Martha Robles, “ela é a companheira natural de Ares, cujas relações confirmam que batalhar e amar são paixões afins”.

Sandro Botticelli, Vênus e Marte, 1483.

Sandro Botticelli , Vênus e Marte, 1483.

O Nascimento de Vénus de Sandro Botticelli revela outros aspetos relacionados com o seu tempo e com o contexto em que foi criada como veremos de seguida.

Quem era a Vênus de Sandro Botticelli ?

Apesar de todo o avanço cultural no Renascimento, a mulher era considerada inferior ao homem, como em muitos outros História da mulher - curso online momentos da história.

Dito isso, seria um escândalo que uma mulher fosse representada nua em uma pintura, mas se esta fosse a representação de uma deusa seria mais aceitável.

Nas pinturas de Sandro Botticelli Afrodite é uma mulher esguia, de rosto delicado e cabelos ruivos que descem em ondas.

É muito provável que a modelo das pinturas seja a jovem Simonetta Vespúcio.

Considerada uma das mulheres mais bonitas de seu tempo, supõe-se que tenha sido amante de Juliano de Médici, o irmão mais novo dos Médici e um dos maiores mecenas de Botticelli.

Embora não se possa determinar ao certo em quantos quadros Sandro Botticelli retratou Simonetta o seu rosto aparece recorrentemente em muitas obras do artista, mesmo após a morte da jovem.

Simonetta Vespúcio

 

Vítima de tuberculose, a moça morreu com apenas 22 anos de idade, e dizem que era tão bonita que seu caixão teria ficado aberto no funeral apenas para que ela fosse admirada. Ela também aparece no quadro Primavera, novamente como Vénus.

Primavera Sandro Botticelli 1482

Vénus, a celebrada deusa do amor

Afrodite é uma das deusas mais celebradas na história da arte, embora quase sempre sob seu nome romano.

Esse nome serviu inclusive para nomear as estatuetas pré-históricas de mulheres, como a Venus de Willendorf, a Venus de Brassempouy e a Venus de Laussel.

O quadro de Botticelli, no entanto, é provavelmente o mais famoso retrato da deusa cuja magia inclui o mistério da transformação e dos sentimentos mais fortes entre os seres humanos.

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Rute-Ferreira

Rute Ferreira

Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com.  Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.

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