O nascimento de Vénus | Sandro Botticelli
O nascimento de Vénus , de Sandro Botticelli, talvez seja uma das obras mais conhecidas e reproduzidas ao longo dos séculos. Neste artigo iremos conhecer esta obra nos seus detalhes:
- O que representa – o Mito
- O quadro – composição e personagens
- O estilo inconfundível de Botticelli
- O tempo e contexto em que foi criada
- Quem era a Vênus de Botticelli?
- A representação de Vénus na história da arte
Por: Rute Ferreira, autora dos cursos online : Curadoria de Arte | Mercado da Arte | História da Arte no Brasil | e do E-book Mulheres e Mitologia na Arte.
Fonte: Wikiart.org
Quem é a Vénus de Sandro Botticelli
A moça nascida da concha, Vênus para os romanos e Afrodite para os gregos, já estampou, na sociedade moderna, de embalagens a capas de caderno. É a deusa do amor e da beleza, que segundo a versão mais recorrente da mitologia grega, é constituída de espuma do mar e trazida à costa do Chipre, onde foi criada pelas Cáritas, filhas de Zeus.
O nascimento de Vênus: o mito
A mitologia tem duas versões para o nascimento da deusa.
Na primeira, ela aparece como (mais uma) filha de Zeus com Dione, a deusa das ninfas.
Já a segunda versão, mais famosa, está relacionada aos titãs: quando Cronos, filho de Urano, mutila o pai, ele joga seus genitais no mar. Daí, nasce Afrodite, brotando das espumas como uma flor. A deusa é levada por Zéfiro até Chipre (e Zéfiro, não custa lembrar, é o mesmo vento gentil que leva Psiquê até o palácio de Eros).
Ao chegar em Chipre, Afrodite foi recolhida pelas Estações.
Mais tarde foi levada até os outros deuses, que a desejaram como esposa, graças ao cinto mágico que usava. Esse cinto, que aparece em muitas obras de arte como um elemento fundamental, fazia com que todos que a vissem se enamorassem dela.
O nascimento de Vénus: o quadro
Do lado esquerdo, ela recebe o sopro de Zéfiro, responsável pelos ventos do oeste, e do lado direito, uma manta coberta de flores, entregue por uma das Horas, deusas das estações.
![O Nascimento de Vénus - Zéfiro e Clóris](https://citaliarestauro.com/wp-content/uploads/2018/05/Nascimento-Venus-3-300x169.jpg)
O Nascimento de Vénus – Zéfiro e Clóris
![O Nascimento de Vénus - Primavera, uma das Horas](https://citaliarestauro.com/wp-content/uploads/2018/05/Nascimento-Venus-1-1-300x169.jpg)
O Nascimento de Vénus – Primavera, uma das Horas
Embora seu corpo esteja numa posição frontal, permitindo ao observador que contemple sua nudez, parcialmente oculta pelas mãos e cabelos, ela inclina o rosto e o olhar para a sua esquerda.
![Nascimento de vénus detalhe](https://citaliarestauro.com/wp-content/uploads/2018/05/Nascimento-Venus-2-300x169.jpg)
Nascimento de vénus detalhe
O nascimento de Vénus de Sandro Botticelli – o tempo
Acredita-se que Sandro Botticelli tenha produzido essa imagem através de uma encomenda de um dos Médici, que a queria para enfeitar sua casa.
Feita numa época em que a produção artística em geral primava por temas católicos, a obra foi vista como uma espécie de apologia ao paganismo.
O momento histórico de sua produção é o Renascimento, período histórico situado entre o século XIV e o século XVI, em que a Itália passa por um momento culturalmente rico e intenso.
O estilo inconfundível de Sandro Botticelli
Embora seja uma obra de qualidade estética inegável, alguns detalhes como o ângulo do ombro de Afrodite já foram apontados como falha em Sandro Botticelli .
Na verdade, esses detalhes, como o alongamento do pescoço e o comprimento dos braços, dão uma mostra do estilo do autor, menos realista que seus contemporâneos, como Rafael, por exemplo.
Sandro Botticelli também foi o responsável por criar a pintura Vénus e Marte, ou seja, Afrodite e Ares, em 1483, que apresenta o deus da guerra adormecido, enquanto é observado por Afrodite.
Embora a deusa seja esposa de Hefesto, um deus manco responsável por forjar espadas, Afrodite mantém um caso ininterrupto com Ares. Segundo Martha Robles, “ela é a companheira natural de Ares, cujas relações confirmam que batalhar e amar são paixões afins”.
![Sandro Botticelli, Vênus e Marte, 1483.](https://citaliarestauro.com/wp-content/uploads/2018/05/Sandro-Botticelli-Venus-e-Marte-1483-300x123.png)
Sandro Botticelli , Vênus e Marte, 1483.
O Nascimento de Vénus de Sandro Botticelli revela outros aspetos relacionados com o seu tempo e com o contexto em que foi criada como veremos de seguida.
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Quem era a Vênus de Sandro Botticelli ?
Apesar de todo o avanço cultural no Renascimento, a mulher era considerada inferior ao homem, como em muitos outros
Dito isso, seria um escândalo que uma mulher fosse representada nua em uma pintura, mas se esta fosse a representação de uma deusa seria mais aceitável.
Nas pinturas de Sandro Botticelli Afrodite é uma mulher esguia, de rosto delicado e cabelos ruivos que descem em ondas.
É muito provável que a modelo das pinturas seja a jovem Simonetta Vespúcio.
Considerada uma das mulheres mais bonitas de seu tempo, supõe-se que tenha sido amante de Juliano de Médici, o irmão mais novo dos Médici e um dos maiores mecenas de Botticelli.
Embora não se possa determinar ao certo em quantos quadros Sandro Botticelli retratou Simonetta o seu rosto aparece recorrentemente em muitas obras do artista, mesmo após a morte da jovem.
Vítima de tuberculose, a moça morreu com apenas 22 anos de idade, e dizem que era tão bonita que seu caixão teria ficado aberto no funeral apenas para que ela fosse admirada. Ela também aparece no quadro Primavera, novamente como Vénus.
Vénus, a celebrada deusa do amor
Afrodite é uma das deusas mais celebradas na história da arte, embora quase sempre sob seu nome romano.
Esse nome serviu inclusive para nomear as estatuetas pré-históricas de mulheres, como a Venus de Willendorf, a Venus de Brassempouy e a Venus de Laussel.
O quadro de Botticelli, no entanto, é provavelmente o mais famoso retrato da deusa cuja magia inclui o mistério da transformação e dos sentimentos mais fortes entre os seres humanos.
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Rute Ferreira
Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com. Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.