Monumentos megalíticos em Portugal – pinturas e gravuras

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Neste artigo iremos conhecer alguns dos mais impressionantes monumentos megalíticos em Portugal abordando as expressões pictóricas neles encontradas – pinturas e gravuras.

Dólmenes, menires e cromeleques são monumentos megalíticos do período pré-histórico do Neolítico que não só nos impressionam pela sua imponência como também pela sua carga simbólica, expressa nas decorações das suas superfícies.

As próximas linhas dedicam-se à análise da sua iconografia e técnicas decorativas em alguns monumentos megalíticos em Portugal enquanto se relevam os monumentos dignos de referência.

dolmen de Antelas
Dolmen de Antelas, Oliveira de Frades, crédito Ken Williams, NatGeo

Cronologia das pinturas e gravuras nos monumentos megalíticos em Portugal

Dentro da fase neolítica, a cronologia apontada para estas manifestações artísticas por pinturas ou inscultura situa-se entre a segunda metade do V milénio a.C. e os inícios do III milénio a.C., tendo encontrado principal expressão no centro interior e norte.

Quanto aos dólmenes, a primeira referência documental que se conhece acerca de pinturas no interior de câmaras megalíticas em Portugal deve-se a D. Jerónimo Contador d´Argote, que em 1734 fez menção à decoração de uma mamoa em Esposende.

Mais tarde, no século XIX, José Leite de Vasconcellos e José Fortes dão a conhecer dólmenes pintados noutras regiões, respectivamente na Beira Alta, Trás-os-Montes, Minho e Douro Litoral.

Elizabeth Shee Twohig (1981) que dividiu a expressão iconográfica dos megálitos encontrada em Portugal em dois grupos.

Uma situada no centro interior, contemplando o distrito de Viseu e os cursos médio e alto dos rios Mondego e Vouga, e o outro localizado a Norte do Douro.

O primeiro grupo que se referiu possui representações geométricas, esquemáticas e cenas de estilo naturalista, que não ocorrem nessa outra região mais setentrional.

Técnicas decorativas nos monumentos megalíticos em Portugal

Em termos de técnica decorativas salientam-se as pinturas a negro e a vermelho, utilizando ocres, e as insculturas, feitas por incisão.

Beira Alta

Os monumentos megalíticos em Portugal que se salientam na Beira Alta, nomeadamente no distrito de Viseu são o dólmen de Antelas, em Oliveira dos Frades, a Arquinha da Moura, em Tondela, a Orca dos Juncais, em Vila Nova de Paiva e o dólmen de Pedralta, em Cota. No distrito da Guarda, destaca-se o dólmen de Carapito I, em Aguiar da Beira, e em Aveiro, o dólmen 2 de Chão Redondo, no Sever do Vouga.

De todo este conjunto sito na Beira Alta, é o dólmen de Antelas, em Viseu, o mais notável devido ao facto de toda a superfície das suas oito lajes conter representações de desenhos, elaboradas a ocre vermelho, datadas do IV milénio a.C.

dolmen de Antelas

Dolmen de Antelas, Oliveira de Frades, crédito Ken Williams, NatGeo

 

O esteio da cabeceira apresenta a iconografia mais rica e significativa, contendo uma composição pictórica de “zigue-zagues”, figuras estilizadas de carácter antropomórfico, um báculo e a representação de um pente, dividida a meio por uma linha horizontal.

O esteio contíguo à sua direita é o segundo mais iconograficamente mais rico, cuja composição também se divide a meio por uma linha horizontal, dispondo de representações de ondulados serpenteantes verticais e uma figura humana de estilo sub-naturalista vestida e com um cinto.

Os restantes esteios contêm figuras esquemáticas onde predominam as linhas onduladas. Um dos esteios do lado esquerdo possui um sol, a vermelho.

Também merece destaque o dólmen de Arquinha da Moura, em Tondela, dado a representação antropomórfica complexa encontrada no seu interior. Este elemento encontra-se voltado para o observador, estando sobreposta por duas circunferências concêntricas, de onde partem dois longos raios aparentemente sustentados pelos braços desta figura.

Arquinha da moura

Douro Litoral e Trás-os-Montes

No Douro Litoral e Trás-os-Montes, salientam-se os dólmenes do Padrão, em Baltar (Paredes, Porto), de Madorras 1, Vilarinho da Castanheira, Zedes, Fonte Coberta (Alijó), Chã da Parada 1 e 3, estes na serra da Aboboreira (Baião/Amarante) e Chão de Brinco 1, em Cinfães.

Minho

No Minho Litoral destacam-se os dólmens de Barrosa, de Afife, de S. Romão de Neiva e de Chafé, em Viana do Castelo, porém é no Alto Minho, que se fez a descoberta mais interessante.

Esta reporta-se ao planalto de Castro Laboreiro (Melgaço), nomeadamente à mamoa 2 da Portela do Pau e à da Mota Grande.

Monumentos megalíticos em Portugal Mota grande

Nesse primeiro monumento observaram-se bandas em “zigue-zague” horizontais, representadas nos seis esteios, bem como algumas circunferências, por vezes articuladas com as linhas horizontais serpentiformes, e uma figura de carácter antropomórfica.

Num dos esteios detectou-se pintura a negro. Estes monumentos poderiam ter contido uma maior riqueza pictórica não fossem as agressivas condições climáticas a que estão sujeitos.

Em suma, nos monumentos megalíticos em Portugal e no que respeita aos dólmenes, em termos de complexidade e exuberância são as gravuras do planalto de Castro Laboreiro, a par das pinturas do Dólmen de Antelas, em Oliveira dos Frades e da Arquinha da Moura, em Tondela, que ocupam o lugar de destaque.

Sul de Portugal

Nos monumentos megalíticos de Portugal no sul do país, são escassas as referências a este tipo de manifestações artísticas em dólmenes, porém, os menires e os cromeleques, cuja expressão arquitectónica é mais evidente no Alentejo Central e no Algarve Ocidental do que no restante território, apresentam evidentes traços decorativos que se inserem no Neolítico.

Quanto aos menires destacam-se o conjunto do Lavajo 1, em Alcoutim (Faro), onde se encontraram alinhamentos de “fossettes”, escavadas ao longo de sulcos que percorrem longitudinalmente a superfície do menir, representações antropomórficas esquemáticas e círculos.

Monumentos megalíticos em Portugal

Os menires alentejanos, por outro lado, contêm representações de báculos e machados, considerados símbolo de poder e comando, associados a representações antropomórficas.

No caso do menir de Belhoa, em Reguengos de Monsaraz, verificou-se a representação abstracta de corpos irradiados e linhas onduladas.

monumentos megalíticos em Portugal Belhoa, Reguengos A decoração também se verifica nos cromeleques, conforme é o caso de Vale de Maria do Meio, em Évora, sendo os motivos aí encontrados são de natureza antropomórfica.

CARDOSO, João Luís – Pré-História de Portugal. Documento PDF. Manual de Pré e Proto História. 1º ciclo de estudos em História. Acessível na Plataforma de E-Learning da Universidade Aberta.

TWOHIG, Elizabeth Shee – The megalithic art of Western Europe. Oxford: Clarendon Press, 1981.

Texto - Diana Carvalho

Publicado no Jornal A Pátria

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