O que são menires e cromeleques | uma pequena viagem por alguns monumentos megalíticos em Portugal

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A partir de alguns exemplares megalíticos iremos ver o que são menires e cromeleques e quais seriam as suas funções para os homens da pré-história.

O megalitismo foi um fenómeno arquitectónico da pré-história essencialmente conotado com as práticas funerárias das comunidades que se estavam progressivamente a sedentarizar em territórios férteis e circunscritos. Contudo, há megálitos deste período aos quais se atribuem outras funções.

Estes denominam-se de menires e de cromeleques, adquirindo principal expressão no Alentejo Central e no Algarve Ocidental, embora se encontrem distribuídos por todo o território português.


o que são menires e cromeleques

Os menires caracterizam-se como monólitos individuais de formato alongado ou ovóide e cravados na terra em posição vertical.

Os cromeleques são conjuntos de menires, ascendendo às dezenas, dispostos em elipses, em círculos, semi-círculos ou rectângulos, e compondo um recinto aberto ou fechado.

Encontram-se geralmente implantados em zonas planas ou em pequenos cabeços, cujos alvéolos de fundação podiam ser rasgos abertos nas rochas, ou no solo, e em alguns casos verificou-se estarem calçados por lascas.

A matéria-prima empregue na estruturação destes monumentos é a pedra, proveniente do território em que se inserem. Menires e cromeleques encontram-se sempre situados na proximidade de povoados pré-históricos.

cronologia de construção

A cronologia de construção destes megálitos é mal conhecida tendo em conta que se encontram implantados em locais desprovidos de estratigrafia vertical. Porém, as datações feitas por OSL (datação de sedimentos por luminescência opticamente estimulada), as recolhas de materiais arqueológicos feitas à superfície, nas camadas arqueológicas que selam os monumentos e nos seus alvéolos de implantação, têm indicado um espectro alargado de datas e todas se integraram no período Neolítico, desde os primórdios até ao final.

Deixa-se como exemplo o espólio encontrado no conjunto do Lavajo 2; placa de grauvaque lisa, pontas de seta, peças em sílex e anfibolito (estas provenientes de um comércio transregional).

decoração

Os menires também contêm outras expressões culturais, pois podiam ser decorados.

No conjunto do Lavajo 1, em Alcoutim (Faro), encontraram-se alinhamentos de “fossettes”, escavadas ao longo de sulcos que percorrem longitudinalmente a superfície do menir, representações antropomórficas esquemáticas e círculos.

Menires 1 e 2 de Lavajo

Menires 1 e 2 de Lavajo, Alcoutim, Portugal

Esta expressão decorativa insere o conjunto no Neolítico.

Os menires alentejanos, por outro lado, contêm representações de báculos e machados, considerados símbolo de poder e comando, associados a representações antropomórficas. No caso do menir de Belhoa, em Reguengos de Monsaraz, verificou-se a representação abstracta de corpos irradiados e linhas onduladas.

A decoração também se verifica nos cromeleques, conforme é o caso de Vale de Maria do Meio, em Évora. Os motivos aí encontrados são de natureza antropomórfica.

cromeleques - cromeleque dos almendres

Cromeleque dos Almendres. Évora, Portugal

qual a função de menires e cromeleques

Os arqueólogos e os historiadores interpretam a utilidade destes monumentos como marcadores de propriedade, como objecto de rituais associados à vida agrária, como objectos de cultos astrais, ou servindo como “calendário”.

O que concorre para esta interpretação são as expressões decorativas que representam objectos utilizados nessas actividades. A reutilização de elementos de mós manuais (dormentes e moventes) na estruturação destes espaços, conforme atesta a descoberta de um dormente colocado com a superfície de trabalho encostada ao menir 1 de Amantes, em Vila do Bispo, bem como a sua orientação, de que é exemplo o cromeleque dos Almendres, orientado segundo a linha equinocial do nascimento solar.

menires mais representativos em Portugal

Os menires mais representativos, a Norte, encontram-se em Marco da Zarelha e na Pedra do Coelho, em Esposende. Na Beira Baixa, destaca-se o menir de Cegonhas, em Idanha-a-Nova. No Alentejo salientam-se vários, nomeadamente em Vale Pincel 1, Sines, na Póvoa e Meadas, em Castelo de Vide, no Outeiro, no Monte da Ribeira e em Belhoa, em Reguengos de Monsaraz e no Monte dos Almendres, em Évora. No Algarve, põem-se em evidencia os menires localizados no Padrão, Vila do Bispo, na Caramujeira, em Lagoa, na Quinta da Queimada, em Lagos, em Benagaia, Silves, em Lavajo, Alcoutim e em Courela do Castanheiro, Bensafrim.

cromeleques mais representativos em Portugal

Relativamente aos cromeleques do território português, são aqueles localizados no Alentejo que melhor representam o fenómeno, nomeadamente o conjunto de Almendres, no Vale de Maria do Meio, o da Portela de Mogos, em Évora, o de Monte das Figueiras, em Pavia e o de Xarez, em Reguengos de Monsaraz.


Referências

 CARDOSO, João Luís – Pré-História de Portugal. Documento PDF. Manual de Pré e Proto História. 1º ciclo de estudos em História. Acessível na Plataforma de E-Learning da Universidade Aberta.

Artigo publicado no Jornal da comunidade cientifica de língua portuguesa – A Pátria.


Diana Carvalho

Diana Carvalho

Mestre em História e Património, membro do Conselho Científico da Revista Herança e colunista em a Pátria. Está actualmente integrada como técnica nas escavações arqueológicas do Castelo de Leiria. É também autora de artigos científicos na vertente do Património Cultural e da História.

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