Erwin Panofsky (1892-1968) foi um historiador de arte alemão que marcou a história da arte no século XX através dos seus estudos de iconologia. O seu trabalho moldou significativamente o estudo académico da arte e da interpretação cultural.
Neste artigo, analisaremos o método de análise iconológica com alguns exemplos práticos.
Por: Yolanda Silva, autora dos cursos online Iconografia e Análise de Obras de Arte
O método de análise iconológica de Erwin Panofsky
Em 1939, Erwin Panofsky apresenta o seu método iconológico de análise da obra de arte.
Neste, Erwin Panofsy defende que não podemos apenas depender das fontes literárias. Estas nem sempre são fiáveis, porque podem nem existir!
Segundo afirma, devemos investigar o o modo como, de acordo com as diferentes condições históricas a que está sujeito, o artista escolhe o tema, objeto ou facto; e passa a estudar o significado.
Erwin Panofsky
O exemplo de Erwin Panofsky é muito claro:
Um homem levanta o seu chapéu.
Em termos iconográficos, o que existe é esta acção em que o homem retira o chapéu da cabeça. Todavia, numa análise iconológica, descortina-se um significado do gesto.
Tendo como base a cultura ocidental que possuem ambos intervenientes (quem vê e quem levanta o chapéu), sabemos que aquele é um gesto de cordialidade.
Todavia, chegar a este nível de compreensão depende, à partida, de um conhecimento prévio dos valores sociais que envolvem esse gesto.
Os 3 níveis de análise iconológica
Erwin Panofsky identifica assim os três níveis de compreensão que já vimos:
- O primário ou natural
- O secundário ou convencional
- O terciário ou intrínseco.
Erwin Panofvsky dá um exemplo prático
A partir da imagem d’A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, Erwin Panofsky especifica cada um destes pontos.
A Última Ceia – Leonardo da Vinci, Sala do Refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie, Milão.
Nível primário
O nível primário corresponde a um nível básico de entendimento, ou seja, a perceção natural da obra.
Neste primeiro nível, não usamos conhecimentos nem domínios culturais aprofundados para perceber a mensagem.
Portanto o que identificamos: treze homens à mesa na hora da ceia
Segundo nível
O segundo nível de compreensão requer já um certo conhecimento iconográfico, na medida em que aqui começa a interpretação da mensagem e do seu significado.
Assim, qualquer indivíduo que tenha tido uma educação da cultura ocidental poderá, à partida, identificar a cena como a da Última Ceia de Jesus com os seus Apóstolos.
Terceiro nível
No terceiro e último nível de interpretação, o observador não apenas recebe e interpreta a mensagem contida naquela representação, como procura interpretá-la sob o ponto de vista histórico, social e cultural, procurando inter-relações que ampliem o seu significado.
Este nível vê a arte não apenas como ato isolado, mas como produto de circunstâncias históricas, sociais e culturais propícias à sua criação.
Desta forma, o terceiro nível de análise iconológica necessita de um conhecimento e entendimento mais aprofundados, a nível técnico, cultural e histórico, para responder à última questão: «O que significa?»
3ª Leitura: o tema encontra-se representado na sala de refeitório do Convento – um tema recorrente para este tipo de divisão, pelo seu carácter doutrinal e referência ao momento da refeição.
Vamos explorar um pouco mais estes três níveis de análise da obra de arte de Erwin Panofsky colocando-o em prática com um exemplo diferente.
Erwin Panofsky – A iconografia como área de estudo
Aby Warburg
A iconografia como área de estudo surge com os estudos do historiador de arte Aby Warburg (1866-1929), ainda no século XIX.
Ele defendia que a história das imagens é o que nos ensina a sua função geral, sendo assim um mecanismo de expressão das necessidades e expectativas e uma forma de comunicação religiosa e política.
No entanto, é apenas com Erwin Panofsky (1892-1968) que a Iconografia se torna verdadeiramente uma área de estudo.
Tendo sido aluno de Warburg na Universidade de Hamburgo, Erwin Panofsky desenvolveu os seus próprios estudos, tendo em vista a definição de Iconologia.
Em 1939, no seu ensaio Studies in Iconology, Erwin Panofsky – tal como Warburg – falava da leitura dos elementos de uma obra de arte para além da simples descrição formal da mesma.
Por outras palavras, sugeriu que, perante uma obra de arte, não nos devemos limitar a perguntar “o quê?”, mas também “porquê?”.
Desta forma, o trabalho de Erwin Panofsky ultrapassou as fronteiras disciplinares, integrando a filosofia, a literatura e a história intelectual na história da arte. A abordagem de Erwin Panofsky influenciou académicos de outras áreas, como os estudos culturais, a teoria literária e a filosofia.
Análise formal e simbólica de arte
Pacote de 3 cursos online : Iconografia dos Santos + Iconografia (Jesus e Maria) + Análise de obras de arte
No final deste Pacote de cursos os participantes estarão aptos a reconhecer e distinguir os conceitos de iconografia e iconologia, identificar e reconhecer personagens e cenários, utilizando a análise iconográfica.
Conhecer os elementos formais indispensáveis para a leitura de uma obra de arte. Aprender como analisar obras de arte interpretando os seus elementos.
Aprender a enquadrar uma obra de arte no seu contexto histórico, geográfico e social.
Aprender como analisar obras de arte sob o ponto de vista temático e estilístico.