Hoje propomos um pequeno jogo de análise de arte a partir da pintura de Alfred Stevens – O Banho.

O Banho, 1867 – Alfred Stevens (no Museu d’Orsay; imagem de domínio público).
Este jogo consiste na aplicação dos 3 níveis de análise iconográfica propostos por Erwin Panofsky à obra de Alfred Stevens.
Vai pois encontrar neste artigo:
1 – Uma apresentação sintética do método de análise.
2 – Um separador fechado com a proposta de resolução deste desafio. Pode abrir quando quiser mas aconselhamos que seja apenas depois de tomar as suas notas relativamente à análise da obra em causa.
3 – Por fim falaremos um pouco sobre Alfred Stevens.
Aprenda mais sobre análise iconográfica de obras de arte
Os 3 níveis de análise de Panofsky
Embora atualmente algumas das interpretações de obras de arte realizadas por Erwin Panofsky sejam questionadas por alguns historiadores de arte, certo é que Panofsky entendeu a arte como nenhum historiador havia antes conseguido, assumindo a Iconografia como disciplina própria.
Em 1939, Panofsky apresenta o seu método iconológico de análise da obra de arte.
Para ele, a análise não poderia depender apenas das fontes literárias, até porque, nem sempre são existentes.
Passa a investigar, assim, o modo como, de acordo com as diferentes condições históricas a que está sujeito, o artista escolhe o tema, objeto ou facto. Passa a estudar o significado.
Panofsky deu este mesmo exemplo:
Um homem levanta o seu chapéu.
Em termos iconográficos, o que existe é esta ação em que o homem retira o chapéu da cabeça.
Todavia, numa análise iconológica, descortina-se um significado do gesto. Tendo como base a cultura ocidental que possuem ambos intervenientes (quem vê e quem levanta o chapéu), sabemos que aquele é um gesto de cordialidade.
Todavia, chegar a este nível de compreensão depende, à partida, de um conhecimento prévio dos valores sociais que envolvem esse gesto.
Assim sendo, Panofsky identifica três níveis de compreensão:
- O primário ou natural. (o quê?)
- O secundário ou convencional. (quem, onde?)
- O terciário ou intrínseco. (porquê, como?)
Podemos compreender melhor na tabela seguinte:
Desafio – “O Banho” de Alfred Stevens 1867
Olhe com atenção para a imagem. Tente responder às questões propostas no método de análise acima descrito.
1 – o quê?
2 – quem, quando, onde?
3 – porquê, como?

O Banho, 1867 – Alfred Stevens (no Museu d’Orsay; imagem de domínio público).
1ª leitura:
Mulher no banho.
2ª leitura:
Uma mulher, num momento de contemplação, tem um livro aberto e segura uma flor, enquanto se banha.
As cores da banheira dizem-nos que se trata de uma banheira de cobre, o que não era vulgar na época e demonstrava uma qualidade elevada.
A torneira fixa em forma de cisne é de um modelo pós-imperialista e, sendo ela fixa, aponta para uma banheira fixa também. Estes dados reforçam a ideia que se trata de uma mulher de alta sociedade.
O livro aberto também nos demonstra que haveria de ali estar para um banho longo, e portanto quente. Também reforça que será de classe alta, para custear tal despesa.
O facto de ainda estar de camisa interior aponta para os banhos públicos. O relógio na saboneteira reforça esta ideia, dizendo-nos que tem um tempo estabelecido, e portanto, possivelmente, haverá alugado aquele local.
Por outro lado, a almofada onde está pousado o livro indica algo mais íntimo e doméstico.
3º leitura:
Uma mulher no banho, num momento intimista e sensual, consistente com uma das temáticas preferidas da pintura da época romântica.
Ela está pensativa; o seu gesto contemplativo, de quem quase larga a flor que tem entre os dedos, aliado ao livro aberto mostram a sua distração. A flor na mão diz-nos apontará talvez para um amor antigo em quem ela estará a pensar.
O local onde se encontra é ambíguo e difícil de definir, podendo ser público ou doméstico.
Todavia, a intenção do pintor não parece ter passado por essa definição, pela reconstrução de uma história, mas a de um momento de lassitude e sensualismo de uma mulher que nos permanece anónima, realçada pela sua feminilidade. Talvez fosse esta a intenção última do autor: mostrar os atributos femininos.
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Alfred Stevens
Alfred Émile Léopold Stevens (11 maio 1823 – 24 agosto 1906) foi um pintor belga que alcançou grande sucesso no seu tempo sobretudo com quadros de mulheres elegantes.
Estudou na Real Academia de Belas Artes de Bruxelas e expôs nos Salões de Bruxelas e de Paris.
As suas obras renderam-lhe rendimentos avultados. No entanto, estes não resistiram a alguns maus investimentos e gastos avultados e Stevens viveu o final da sua vida em Paris, sozinho e em quartos modestos.
Alfred Stevens esteve atento à realidade social da sua época retratada nesta obra do início da sua carreira “O que é chamado de vadiagem, ou os caçadores de Vincennes” (What is Called Vagrancy or, The Hunters of Vincennes) de 1854.
Mas indiscutivelmente Alfred Stevens é associado aos retratos de elegantes mulheres, quer em ambientes intímos, como “O Banho”, quer integrados em paisagens.

Alfred Stevens The Psyché (My Studio),c.1871

Alfred Stevens Retrato da Sra. Howe 1900

Alfred Stevens Uma mulher elegante 1884

Alfred Stevens Tarde no Parque 1885
O artista não ficou indiferente ao fascínio causado pela arte oriental. Tal como os impressionistas e pós- impressionistas, o japonismo exerceu clara influência na obra de Stevens.

A parisiense japonesa 1872