Hoje propomos um pequeno jogo de análise de arte a partir da pintura de Alfred Stevens – O Banho.
Este jogo consiste na aplicação dos 3 níveis de análise iconográfica propostos por Erwin Panofsky à obra de Alfred Stevens.
Vai pois encontrar neste artigo:
1 – Uma apresentação sintética do método de análise.
2 – Um separador fechado com a proposta de resolução deste desafio. Pode abrir quando quiser mas aconselhamos que seja apenas depois de tomar as suas notas relativamente à análise da obra em causa.
3 – Por fim falaremos um pouco sobre Alfred Stevens.
Aprenda mais sobre análise iconográfica de obras de arte
Os 3 níveis de análise de Panofsky
Embora atualmente algumas das interpretações de obras de arte realizadas por Erwin Panofsky sejam questionadas por alguns historiadores de arte, certo é que Panofsky entendeu a arte como nenhum historiador havia antes conseguido, assumindo a Iconografia como disciplina própria.
Em 1939, Panofsky apresenta o seu método iconológico de análise da obra de arte.
Para ele, a análise não poderia depender apenas das fontes literárias, até porque, nem sempre são existentes.
Passa a investigar, assim, o modo como, de acordo com as diferentes condições históricas a que está sujeito, o artista escolhe o tema, objeto ou facto. Passa a estudar o significado.
Panofsky deu este mesmo exemplo:
Um homem levanta o seu chapéu.
Em termos iconográficos, o que existe é esta ação em que o homem retira o chapéu da cabeça.
Todavia, numa análise iconológica, descortina-se um significado do gesto. Tendo como base a cultura ocidental que possuem ambos intervenientes (quem vê e quem levanta o chapéu), sabemos que aquele é um gesto de cordialidade.
Todavia, chegar a este nível de compreensão depende, à partida, de um conhecimento prévio dos valores sociais que envolvem esse gesto.
Assim sendo, Panofsky identifica três níveis de compreensão:
- O primário ou natural. (o quê?)
- O secundário ou convencional. (quem, onde?)
- O terciário ou intrínseco. (porquê, como?)
Podemos compreender melhor na tabela seguinte:
Desafio – “O Banho” de Alfred Stevens 1867
Olhe com atenção para a imagem. Tente responder às questões propostas no método de análise acima descrito.
1 – o quê?
2 – quem, quando, onde?
3 – porquê, como?
1ª leitura:
Mulher no banho.
2ª leitura:
Uma mulher, num momento de contemplação, tem um livro aberto e segura uma flor, enquanto se banha.
As cores da banheira dizem-nos que se trata de uma banheira de cobre, o que não era vulgar na época e demonstrava uma qualidade elevada.
A torneira fixa em forma de cisne é de um modelo pós-imperialista e, sendo ela fixa, aponta para uma banheira fixa também. Estes dados reforçam a ideia que se trata de uma mulher de alta sociedade.
O livro aberto também nos demonstra que haveria de ali estar para um banho longo, e portanto quente. Também reforça que será de classe alta, para custear tal despesa.
O facto de ainda estar de camisa interior aponta para os banhos públicos. O relógio na saboneteira reforça esta ideia, dizendo-nos que tem um tempo estabelecido, e portanto, possivelmente, haverá alugado aquele local.
Por outro lado, a almofada onde está pousado o livro indica algo mais íntimo e doméstico.
3º leitura:
Uma mulher no banho, num momento intimista e sensual, consistente com uma das temáticas preferidas da pintura da época romântica.
Ela está pensativa; o seu gesto contemplativo, de quem quase larga a flor que tem entre os dedos, aliado ao livro aberto mostram a sua distração. A flor na mão diz-nos apontará talvez para um amor antigo em quem ela estará a pensar.
O local onde se encontra é ambíguo e difícil de definir, podendo ser público ou doméstico.
Todavia, a intenção do pintor não parece ter passado por essa definição, pela reconstrução de uma história, mas a de um momento de lassitude e sensualismo de uma mulher que nos permanece anónima, realçada pela sua feminilidade. Talvez fosse esta a intenção última do autor: mostrar os atributos femininos.
Interpretação de obras primas do classicismo e romantismo
Alfred Stevens
Alfred Émile Léopold Stevens (11 maio 1823 – 24 agosto 1906) foi um pintor belga que alcançou grande sucesso no seu tempo sobretudo com quadros de mulheres elegantes.
Estudou na Real Academia de Belas Artes de Bruxelas e expôs nos Salões de Bruxelas e de Paris.
As suas obras renderam-lhe rendimentos avultados. No entanto, estes não resistiram a alguns maus investimentos e gastos avultados e Stevens viveu o final da sua vida em Paris, sozinho e em quartos modestos.
Alfred Stevens esteve atento à realidade social da sua época retratada nesta obra do início da sua carreira “O que é chamado de vadiagem, ou os caçadores de Vincennes” (What is Called Vagrancy or, The Hunters of Vincennes) de 1854.
Mas indiscutivelmente Alfred Stevens é associado aos retratos de elegantes mulheres, quer em ambientes intímos, como “O Banho”, quer integrados em paisagens.
O artista não ficou indiferente ao fascínio causado pela arte oriental. Tal como os impressionistas e pós- impressionistas, o japonismo exerceu clara influência na obra de Stevens.