falar sobre a arte africana é regressar às origens da humanidade…

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Falar sobre a arte africana e contar a história da arte africana é regressar às origens da humanidade.

Ao berço da civilização, aos primeiros sinais de cognição humana, de interação com o mundo material e de criação de símbolos visuais que o representem e interpretem.

Primeiras palavras do curso Arte Africana da autoria de Manuela Tenreiro.

a arte africana | as origens da arte

 

a arte africana concha de pigmentos

Concha de mistura e armazenamento de pigmentos. ca.100,000 anos. Gruta de Blombos, África do Sul. Fotografia: Science/AAAS.
Fonte: https://www.theguardian.com/science/2011/oct/13/stone-age-painting-kits

 

Para dar uma perspetiva o mais ampla possível do que isso significa, pensemos que são centenas de milhares de anos, onde a evolução de uma consciência humana se desenrolou em isolamento do resto do mundo.

A partir do Vale da Grande Fenda, situado no atuais estados do Quénia e da Tanzânia, saíram as primeiras migrações de humanos modernos que se espalharam por toda a África.

Uma extensão de cerca de 30 milhões de metros quadrados, criando os primeiros grupos linguísticos, as quatro protolínguas de onde germinaram as cerca de 2000 línguas nativas que hoje se falam em África .

A capacidade artística, o reconhecimento e representação do ambiente, que pode ser apreciada por toda a África em pinturas rupestres e esculturas do período pré-histórico são testemunho de que a arte, como a humanidade, tiveram origem em África.

a historia da arte africana

É importante dar esta dimensão temporal da história da arte africana, porque a inclusão da arte Africana na história da arte é relativamente recente.

Les Demoiselles d'Avignon

Les Demoiselles d’Avignon, Pablo Picasso. 1907 (Museu de Arte Moderna, Nova Iorque)

 

A história da arte enquanto campo de estudo criado no século XVIII era essencialmente eurocêntrica.

Relegava a arte africana , como a arte de outros continentes para a antropologia e a arqueologia.arte africana cursos online sobre a história da arte africana

Nisso foi informada pela mentalidade daquela época quando as nações Europeias se afirmavam como potências colonizadoras e tomavam para si a responsabilidade das chamadas ‘missões civilizatórias’.

Estas justificadas por teorias ‘cientificas’ que colocavam o homem europeu no topo de uma hierarquia biológica e cultural de raças.

Pode-se dizer que a política e a ciência se apoiavam mutuamente na elaboração de teorias que facilitariam a partilha e colonização da África a partir da Conferência de Berlim em 1885.

Para os historiadores de arte dessa época, concentrados na produção e estética Europeias, a arte africana entraria de rompante, primeiro pela mão de antropólogos e colecionadores Europeus.

E depois na revolução artística que inspirou pintores e escultores modernistas por todo o mundo a romper com as regras da estética que até então orientavam o conceito europeu de arte.

a arte africana | a grandeza da antiguidade africana

Reino de Kush Kerma

O Templo Deffufa na cidade de Kerma, Reino de Kush, 3,000 AEC, Sudão
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Western_Deffufa_-_Kerma.jpg

 

O desenvolvimento da arqueologia a partir do século XIX também permitiu a maior visibilidade de uma África que não encaixa na ideia de primitivismo a que se relegaram as culturas Africanas no passado.

Por essa razão, o Egito foi retirado por assim dizer do continente Africano, interpretado e concebido como o berço da civilização Europeia, totalmente separado de uma origem ou interação cultural com a África negra.

Porém, ao longo do século XX fomos aprendendo que o Egito teve a sua origem na África, nas comunidades que habitavam o Nilo.

Sabemos também que por toda a África proliferavam centros urbanos, cidades majestosas, reinos poderosos, rotas de comércio de Norte a Sul, de Leste a Oeste, minério e construções monumentais.

 

Pouco a pouco, através da colaboração entre várias disciplinas como a história, a arqueologia, a antropologia, a genética e as ciências naturais, tem sido possível reconstruir a história da arte em África.


Resumindo, falar sobre a arte africana e contar a história da arte em África é uma tarefa monumental.

A extensão temporal e espacial, e as questões frequentemente polémicas, permitem que aqui se faça apenas um panorama generalizado, inclusivo do maior número possível de culturas, suportes, materiais, estilos de representação, influências e períodos, embora sem grande espaço para aprofundamentos mais específicos.

Não se pretende dar ênfase maior a uma civilização ou outra na África, mas procura-se dar uma ideia da enorme diversidade cultural que a arte africana representa para o património da humanidade.

Espera-se porém, que este panorama geral possa levantar a curiosidade dos leitores relativamente a culturas e períodos específicos e que esse interesse conduza a estudos e pesquisas mais detalhados que possam enriquecer o seu conhecimento pessoal.


a arte africana | estrutura do curso

O curso foi estruturado em quatro partes partes numa sequência cronológica onde se descrevem em paralelo as produções artísticas das principais culturas nas diferentes regiões geográficas Africanas.

primeira parte

Na primeira parte, aborda-se a expressão artística mais antiga da humanidade: a arte rupestre.

Desde as grutas da África do Sul, onde se manifestam as primeiras práticas artísticas de que há conhecimento, à abundância de pinturas rupestres por todo o pré-Deserto do Saara.

A primeira parte termina há cerca de 5000 anos com a sedentarização da região do Nilo a que a desertificação do Saara obrigou.

segunda parte

segunda parte inicia-se com as primeiras culturas sedentárias nas regiões dos rios Nilo e Níger, os primeiros centros urbanos, o desenvolvimento das culturas da Idade do Ferro e as tradições artísticas destas primeiras civilizações.

Cobre-se um período ao qual nas últimas décadas se convencionou chamar AEC (Antes da Era Comum), o qual em outros tempos de relato histórico se chamava a.C. (antes de Cristo).

Assim, a segunda parte trata da formação, ascensão e queda do Egito, do poderoso Reino de Kush (ou Núbia como lhe chamavam os Egípcios e como ficou conhecida no Ocidente), e a expansão dos povos Bantu a partir do atual Camarões para a África central, do sul e oriental.

terceira parte

terceira parte cobre os primeiros 1500 anos da Era Comum (EC), e é dedicada ao desenvolvimento do Cristianismo e do Islão em África.

Assim, aborda a criação do reino Cristão de Axum (ou Etiópia como lhe chamavam os Gregos, e nome que adotou e pelo qual ficou conhecido no Ocidente).

A expansão do Islão pelo norte da África e pela África oriental, e termina com a chegada dos Portugueses, a conversão do Kongo ao Catolicismo no final do século XV.

 (Kongo e não Congo, uma convenção que os historiadores de África fazem para distinguir a cultura ancestral Kongo do Estado moderno Congo – até porque ao primeiro corresponde parte do atual Congo mas também parte da atual Angola).

quarta parte

Finalmente, a quarta parte sobrepõe-se cronologicamente à terceira em alguns casos, mas em geral faz o panorama da arte dos grandes impérios, reinos, cidades e culturas a partir da chegada dos Europeus e do História da arte em África cursos sobre a Diaspora africana início do tráfico de escravos transatlântico, que marca o começo da Era Moderna.

Terminamos no século XIX-início do século XX, quando a África foi efetivamente dividida e colonizada pelas potências Europeias e objetos artísticos africanos passaram a fazer parte do mercado de arte Europeu, influenciando artistas ocidentais.

Quanto à arte colonial, pós-colonial e da diáspora Africana (ou seja a arte produzida pelos povos afrodescendentes fora da África) merecem o seu próprio espaço num curso separado pelo que não serão abordadas aqui.

Aprenda mais sobre a história da arte africana e sua importância nos cursos online

Manuela Tenreiro

Doutorada em História da Arte pela School of Oriental and African Studies, linha de pesquisa em Artes e Culturas da Diáspora Africana (2008). Estudou artes visuais e fotografia em São Francisco onde atuou como mediadora no mural Pan-American Unity de Diego Rivera. No Brasil, onde residiu entre 2008 e 2017, criou e editou a publicação cultural bilíngue conTRAmare (2013-2018), e colaborou em projetos editoriais, de arte educação, redação, tradução e pesquisa histórica. No Rio de Janeiro frequentou o Curso de Tradução Literária DBB e o Programa Avançado de Cultura Contemporânea na UFRJ. Em Lisboa desenvolve projetos de tradução, escrita e educação nas áreas de história da arte e das culturas da diáspora africana, vindo também a dedicar-se à aprendizagem de ferramentas para a execução de projetos na área das humanidades digitais.

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