Falar sobre a arte africana e contar a história da arte africana é regressar às origens da humanidade.
Ao berço da civilização, aos primeiros sinais de cognição humana, de interação com o mundo material e de criação de símbolos visuais que o representem e interpretem.
a arte africana | as origens da arte

Concha de mistura e armazenamento de pigmentos. ca.100,000 anos. Gruta de Blombos, África do Sul. Fotografia: Science/AAAS.
Fonte: https://www.theguardian.com/science/2011/oct/13/stone-age-painting-kits
Para dar uma perspetiva o mais ampla possível do que isso significa, pensemos que são centenas de milhares de anos, onde a evolução de uma consciência humana se desenrolou em isolamento do resto do mundo.
A partir do Vale da Grande Fenda, situado no atuais estados do Quénia e da Tanzânia, saíram as primeiras migrações de humanos modernos que se espalharam por toda a África.
Uma extensão de cerca de 30 milhões de metros quadrados, criando os primeiros grupos linguísticos, as quatro protolínguas de onde germinaram as cerca de 2000 línguas nativas que hoje se falam em África .
A capacidade artística, o reconhecimento e representação do ambiente, que pode ser apreciada por toda a África em pinturas rupestres e esculturas do período pré-histórico são testemunho de que a arte, como a humanidade, tiveram origem em África.
a historia da arte africana
É importante dar esta dimensão temporal da história da arte africana, porque a inclusão da arte Africana na história da arte é relativamente recente.
A história da arte enquanto campo de estudo criado no século XVIII era essencialmente eurocêntrica.
Relegava a arte africana , como a arte de outros continentes para a antropologia e a arqueologia.
Nisso foi informada pela mentalidade daquela época quando as nações Europeias se afirmavam como potências colonizadoras e tomavam para si a responsabilidade das chamadas ‘missões civilizatórias’.
Estas justificadas por teorias ‘cientificas’ que colocavam o homem europeu no topo de uma hierarquia biológica e cultural de raças.
Pode-se dizer que a política e a ciência se apoiavam mutuamente na elaboração de teorias que facilitariam a partilha e colonização da África a partir da Conferência de Berlim em 1885.
Para os historiadores de arte dessa época, concentrados na produção e estética Europeias, a arte africana entraria de rompante, primeiro pela mão de antropólogos e colecionadores Europeus.
E depois na revolução artística que inspirou pintores e escultores modernistas por todo o mundo a romper com as regras da estética que até então orientavam o conceito europeu de arte.
a arte africana | a grandeza da antiguidade africana

O Templo Deffufa na cidade de Kerma, Reino de Kush, 3,000 AEC, Sudão
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Western_Deffufa_-_Kerma.jpg
O desenvolvimento da arqueologia a partir do século XIX também permitiu a maior visibilidade de uma África que não encaixa na ideia de primitivismo a que se relegaram as culturas Africanas no passado.
Por essa razão, o Egito foi retirado por assim dizer do continente Africano, interpretado e concebido como o berço da civilização Europeia, totalmente separado de uma origem ou interação cultural com a África negra.
Porém, ao longo do século XX fomos aprendendo que o Egito teve a sua origem na África, nas comunidades que habitavam o Nilo.
Sabemos também que por toda a África proliferavam centros urbanos, cidades majestosas, reinos poderosos, rotas de comércio de Norte a Sul, de Leste a Oeste, minério e construções monumentais.
Pouco a pouco, através da colaboração entre várias disciplinas como a história, a arqueologia, a antropologia, a genética e as ciências naturais, tem sido possível reconstruir a história da arte em África.
Resumindo, falar sobre a arte africana e contar a história da arte em África é uma tarefa monumental.
A extensão temporal e espacial, e as questões frequentemente polémicas, permitem que aqui se faça apenas um panorama generalizado, inclusivo do maior número possível de culturas, suportes, materiais, estilos de representação, influências e períodos, embora sem grande espaço para aprofundamentos mais específicos.
Não se pretende dar ênfase maior a uma civilização ou outra na África, mas procura-se dar uma ideia da enorme diversidade cultural que a arte africana representa para o património da humanidade.
Espera-se porém, que este panorama geral possa levantar a curiosidade dos leitores relativamente a culturas e períodos específicos e que esse interesse conduza a estudos e pesquisas mais detalhados que possam enriquecer o seu conhecimento pessoal.