Quando falamos em contexto histórico do barroco temos de colocar uma questão.
“Por que falamos em contextos do surgimento do barroco e não, simplesmente, em contexto?”
Por Teresa Campos dos Santos, autora do curso online Um Roteiro do Barroco.
Na verdade, o barroco, à semelhança de muitos outros movimentos artísticos (como comumente os designamos), surgiu sob diversas motivações e, logo, contextos.
Porém, primeiramente, será pertinente concentrarmo-nos na definição de movimento, particularmente daquele que nos encontramos a tratar: o Barroco.
O Contexto histórico do barroco – Na “cronologia dos estilos”
O Barroco
David, de Bernini, 1623-1624 (Galeria Borghese, Roma)
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bernini%27s_
David.jpg
sucede ao Renascimento
David, de Miguel Ângelo, 1501-1504
(Accademia di Belle Arti di Firenze)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:David_von_Michelangelo.jpg
Entre ambos, definiu-se ainda um outro gosto, o “Maneirismo” o qual, de algum modo, parece antecipar a linguagem barroca.
Rapto das Sabinas, Giambologna, 1581-1582
(Museu Nacional de Capodimonte)
https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Giambologna_raptodasabina.jpg
É, no entanto, importante lembrar que em qualquer um destes casos estamos a referir-nos a categorias criadas posteriormente para melhor definir, analisar e estudar determinados períodos históricos.
O contexto histórico do Barroco
Assim sendo, definindo o contexto histórico do Barroco , a arte produzida, grosso modo, entre o século XVII e as primeiras décadas do século XVIII insere-se no dito movimento barroco, o qual defendeu uma dada linguagem estética que, de certa forma, os artistas seguiram.
Contudo, tal significa que a arte realizada em todo o mundo durante este período se regeu pelos pressupostos do barroco?
Naturalmente que não. O barroco difundiu-se, sobretudo, pela Europa e pela América Latina, com uma diferente expressão consoante a geografia e a cronologia em que se manifestou.
A Vocação de São Mateus, Caravaggio, 1599-1600 (Igreja São Luís dos Franceses, Roma)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Caravaggio,_Michelangelo_Merisi_da_-
_The_Calling_of_Saint_Matthew_-_1599-1600_%28hi_res%29.jpg
O Jardim de Amor, Rubens, c. 1633 (Museu do Prado, Madrid)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:El_jard%C3%ADn_del_amor_Rubens_lou.jpg
A Ronda Noturna, Rembrandt, 1642 (Rijksmuseum, Amesterdão)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Nightwatch_by_Rembrandt.jpg
As Meninas, Velásquez, 1656 (Museu do Prado, Madrid)
Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Las_Meninas,_by_Diego_Vel%C3%A1zquez,_from_Prado_in_Google_Earth.jpg
Santa Ceia, Manuel da Costa Ataíde (Mestre Ataíde), 1828 (Colégio do Caraça, Minas Gerais)
Autor da imagem: User:Tetraktys
Fonte: htps://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mestre-Athayde_-_Ceia_-_Car.jpg
Como é comum na história da arte, o estilo que sucede a um outro nasce, precisamente, com o propósito de se opor ao seu antecessor, ou seja, apresentar uma proposta estética diferente, caso contrário o seu surgimento não faria sentido.
O barroco não foi exceção e, por isso, se o renascimento recuperava os valores clássicos da harmonia e da proporção, o barroco trouxe a assimetria e o movimento.
Atentemos no seguinte texto de Heinrich Wölfflin:
“Enquanto o espaço renascentista se reduz à superfície, o Barroco desenvolve-se em profundidade; daí o seu dinamismo, que obriga o olhar a avançar e a retroceder, temendo sempre deixar escapar a forma; por isso, a insistência barroca nas linhas oblíquas, as curvas e as superfícies arqueadas que desfazem a perpendicularidade renascentista de horizontais e verticais; donde, os retorcidos e os movimentos impetuosos, a utilização dos efeitos luminosos e a dissolução de contornos na penumbra. O resultado é que a contemplação se torna impossível, ficando tudo subjugado à inquietação da emoção e do desejo.”
Mas porquê este interesse do barroco na “inquietação da emoção e do desejo”?
Os artistas associados às primeiras manifestações do barroco são italianos e Roma parece ter sido um dos principais berços deste movimento. Na realidade, porque o clima cultural, político e, acima de tudo, religioso o propiciou. Isto, porque o aparecimento do barroco é indissociável do movimento da Contra-Reforma em que a Igreja procurou aproximar ou reaproximar os crentes, após o afastamento sentido na sequência da Reforma protestante.
Assim, o barroco foi, em parte, uma linguagem ao serviço da Igreja e, por isso, usou da tal “emoção” e do tal “desejo” para reconquistar a admiração e a devoção dos crentes.
Também por isso teve como principal pólo de expansão Itália, sendo bem aceite nos países que com ela partilhavam afinidades religiosas, e menos bem aceite nas geografias mais próximas dos ideais luteranos.