A artista cubana premiada – Ana Mendieta – morreu com apenas 36 anos de idade, após cair do 34º andar do prédio onde morava. O trabalho de Mendieta explorava, entre outras coisas, a violência de gênero.
New York, 8 de setembro de 1985. Um corpo cai do 34º andar de um prédio em Greenwich Village. Era o corpo da artista Ana Mendieta. O marido dela, o também artista Carl Andre, ligou para a emergência, informando que o casal teve uma discussão e completou: “ela foi para o quarto e eu fui depois dela e ela se jogou da janela.”
A morte trágica e prematura de Mendieta, que tinha apenas 36 anos de idade, permanece como um acontecimento controverso. Vizinhos ouviram o casal discutir violentamente antes da morte da artista, algo que o próprio Carl Andre confirmou.
E ficou a questão: suicídio ou assassinato?
Quem foi Ana Mendieta ?
Ana Mendieta nasceu em Cuba, em 1948. Quando tinha doze anos de idade, ela e sua irmã foram enviadas aos Estados Unidos através da operação Peter Pan, e foi morar no Iowa, onde segundo a própria artista, ela era vista como:
“um ser erótico (o mito da latina ardente), agressivo e de certa forma diabólico. Isso criou em mim uma atitude muito rebelde”.
A produção de Mendieta tem um caráter notadamente autobiográfico, marcado pelo contexto político e social vivido por ela. Em seu trabalho, ela explora tanto as questões relacionadas à violência de gênero e ao feminismo, quanto suas referências enquanto mulher latino-americana, através da body art.
A partir de 1978, Ana Mendieta integrou o Artists In Residence Inc, a primeira galeria para mulheres nos EUA, e a partir de então, fez diversos contatos com outras artistas de vanguarda do movimento de arte feminista, então em ascensão. Esses mesmos contatos fizeram com que Mendieta percebesse e declarasse que:
“o feminismo americano, como está, é basicamente um movimento da classe média branca.”
Ana Mendieta e Carl
Ana conheceu o marido Carl em um painel, realizado pela galeria e chamado How has women’s art practices affected male artist social attitudes?².
Carl Andre, nascido em 1935, era um artista minimalista, que teve suas origens na escultura.
Na chamada para a emergência, Carl confirmou a versão dos vizinhos de que ele e Ana tinham brigado e disse: “Minha esposa é uma artista e eu sou um artista e nós tivemos uma disputa sobre o fato de que eu era mais, eh, fiz mais exposições do que ela. Ela foi para o quarto e eu fui depois dela e ela se jogou da janela.”
Como ambos estavam sozinhos, não houve nenhuma testemunha ocular que pudesse confirmar ou negar o que Carl declarou.
Após um processo que durou cerca de três anos, Carl foi declarado inocente, e a morte de Mendieta foi considerada um acidente ou suicídio. Esse resultado, entretanto, não foi bem recebido por outras artistas e grupos feministas: além dos protestos à época, acontecem protestos ainda nos dias de hoje, especialmente relacionados à data de sua morte.
Arte, Violência, Feminismo e Ritual
Por considerar que o feminismo americano era um movimento da classe média branca, Mendieta procurou formas de romper esse limite com sua arte.
Através da body art, ela traz à tona questões como a violência de gênero, estupro, além de outras questões, como a ancestralidade.
É como ela aparece em Imagem de Yagul, de 1973, em que se deita em uma tumba asteca e se funde à própria terra e as flores que cobrem seu corpo, tornando-se uma unidade com a natureza.
O mesmo propósito atingido em A Árvore da Vida, de 1979, em que também utiliza seu corpo como matriz para desenvolver a ideia de fusão com a natureza e com os elementos que remetem à sua ancestralidade, às antigas deusas que são uma unidade com o universo.
Impressões Sobre o Vidro – Ana Mendieta
Antes de ter seu corpo como matriz para uma arte-ritual, Ana Mendieta também debateu a questão da violência como um ponto central de sua obra.
Em 1972, ela realiza a obra Impressões Sobre o Vidro, em que uma placa de vidro deforma o seu próprio corpo.
Observe com o vidro machuca, oprime e muda a forma do corpo da artista. As leituras acerca podem suscitar debates dos mais diversos.
Cena de Estupro – Ana Mendieta
Em Cena de Estupro, feita no ano seguinte, observamos uma arte dolorosa, crua e brutal. Cada uma das imagens que remete ao estupro, por si só, é símbolo de uma agonia, e está ligada ao estupro real de uma jovem na Universidade de Iowa.
Durante uma hora, ela ficou atada à mesa, nessa posição, enquanto o público assistia. Uma metáfora dolorosa.
Outras reflexões e trabalhos
Outras reflexões foram feitas por Mendieta.
Ela criou a série Silhueta, em que reuniu trabalhos ao longo de sete anos, entre 1973 e 1980. Em algumas dessas obras, Mendieta expõe o fato de ter sido retirada de seu país muito jovem e diz: “Tendo sido arrancada da minha terra natal durante a adolescência, estou oprimida pela sensação de ter sido expulsa do útero. Minha arte é a forma em que restabeleço os laços que me conectam ao universo.”
Artista do body art, politicamente engajada, envolvida diretamente em discussões sobre a violência de gênero, a morte trágica de Mendieta interrompeu uma produção que poderia ter sido ainda muito mais intensa.
Fonte das Imagens – Wikiart
Texto – Rute Ferreira
Rute Ferreira
Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com. Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.
2 Comentários.
Hola rute , obrigado , muito interessante saber o que aconteceu assim como as declarações da artista ,agora comprendo melhor a s6a rebeldia
Hi rute ! obrigado , muito interessante saber o que aconteceu assim como as declarações da artista ,agora comprendo melhor a s6a rebeldia okey abracos