Museu de Santo André (SP – Brasil) | A preservação da memória local

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Conheça o Museu de Santo André e o seu papel na preservação do patrimonio cultural e da memória local .

Por: Emília Mori Sarti Fernandes. Autora do curso Linhas Gerais da Gestão Museológica.

Museu de Santo André | O início

Museu de Santo André

A história do Museu de Santo André é, no mínimo, um tanto curiosa. No início do século XX, os vereadores se preocuparam em criar uma escola a qual atendesse maior número de alunos, uma vez que, até aqueles dias existiam apenas algumas aulas realizadas nas residências dos professores.

Com essa finalidade, o terreno foi doado por Clara Thon Fláquer e Secundino Domingues. O projeto foi do arquiteto José Van Humbleck e a fachada de J.B. Maroni. A obra foi realizada pelos construtores Luis Carvalho de Souza e Antonio Pinto Alvez em 1912 e a partir de 1914, a escola abrigou o Primeiro Grupo Escolar da Região do Grande ABC Paulista (Brasil).

A arquitetura

Conforme autora Maria Elizabeth Peirão Corrêa:

O partido arquitetônico é caracterizado pela existência de um pátio interno, em torno do qual desenvolve-se a circulação coberta que interliga as salas. As plantas são simétricas, sendo reservadas uma das alas à seção masculina e outra à seção feminina. Bem no eixo da simetria está localizado o acesso central do prédio, que dá para um vestíbulo ou portaria, antes de se atingir a galeria de circulação. Essas galeria possuem as mesmas características dos alpendres e varandas de algumas casas do fim do século passado, com suas coberturas apoiadas em colunas de ferro forjado e arrematadas por lambrequins de madeira rendilhado”.[1]

[1] Corrêa, Maria Elizabeth Peirão, Mirela Geiger de Mello, and Helia Maria Vendramini Neves. Arquitetura escolar paulista: 1890-1920. Fundaçao para o Desenvolvimento da Educação, 1990.

As atividades permaneceram na escola por 74 anos, tornando-se parte da paisagem e relevante para memória local.

Museu de Santo André | a preservação da memória local

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Estátua de João Ramalho, localizada no Centro Cívico de Santo André

 

Assim, em 1950 surgiu a preocupação em constituir, adquirir, preservar e guardar objetos e informações referentes à cidade de Santo André, bem como de seus cidadãos. Nesse contexto, o desenvolvimento da cidade desde a época da Vila Fundada por João Ramalho até a Modernidade foram possíveis devido ao projeto de criação do Museu, de uma Biblioteca Pública, Monumentos Históricos, dentre outros.

Nas décadas posteriores foram tomadas outras iniciativas por políticos, instituições de ensino, professores e alunos, porém, pela dificuldade de conciliar os interesses do estado e da prefeitura, os projetos não continuaram.

Um exemplo foi a criação – em 1966 – do Museu Histórico Pedagógico pelo Instituto Américo Brasiliense.

Pode estar interessado no artigo sobre o conceito de patrimonio cultural.

Museu de Santo André | a recolha e catalogação

Após esse fato, os funcionários de Santo André passaram a registrar as ações em relatórios, desenvolveram pesquisas e coletas de documentos, assim como a organizar a Campanha “O Nosso Passado Pode Estar Com Você”, iniciativa essa com objetivo de incentivar os cidadãos andreenses a doar objetos, fotos e até depoimentos para uma exposição de mesmo nome.

A formação do Museu de Santo André

Museu de Santo André

Com toda essa participação popular e a dos funcionários, constituiu-se na década de 1980, a Comissão Organizadora do Museu de Santo André, cujo resultado foi o projeto do Museu, proporcionando a continuidade de coleta dos bens culturais, a divulgação do acervo na mídia, além da formação da pequena equipe para trabalhar no Museu.

Essa pequena equipe tornou possível as exposições: “Timbres Raros”, “25 Anos de Fotojornalismo do Diário do Grande ABC” (jornal de grande circulação nas cidades do Grande ABC), “89 Anos de Estrimilique”, “Registros da Vila de Paranapiacaba” (A Vila pertence ao Município de Santo André), dentre outras.

A criação oficial do Museu

Dessa forma, o Museu de Santo André foi oficialmente criado em 03 de agosto de 1982, pelo Decreto Municipal no. 5942 e passou a ocupar o espaço do I Grupo Escolar de São Bernardo em 1990. Em outubro de 2005, através da Lei Municipal no. 8.764 o Museu passou a denominar-se “Museu de Santo André Doutor Octaviano Armando Gaiarsa”.

Segundo a Sandra Perez e Nilo Mattos de Almeida:

De acordo com a lei municipal número 5.942, em 3 de agosto de 1982 foi criado, em sua forma legal, o que seria o Museu de Santo André. [1]A prefeitura escolheu, então, uma Comissão Organizadora, que daria continuidade ao projeto, dando vida à sua versão física. Dentro desse grupo, estava o médico e vereador, Octaviano Armando Gaiarsa, um dos grandes incentivadores e participantes do projeto e que, alguns anos depois, nomearia o nome do museu. Wilson Stanziani, arquiteto e museólogo, também foi um dos principais responsáveis por colocar tudo aquilo em bases sólidas. Após passar por alguns diferentes formatos e localizações, o museu se fixou na antiga casa do Grupo Escolar em 1990.[2]

[1] PEREZ, Sandra. Santo André: a invenção da cidade. 2010. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 2010. Acesso em: 2017-06-08. Acesso 30 set, 2019.
[2] ALMEIDA, Nilo Mattos de. Casa do Olhar, Museu de Santo André e Sabina : possibilidades para um plano de gestão de acervo em rede [doi:10.11606/D.103.2015.tde-27102015-120303]. São Paulo : Museologia, Universidade de São Paulo, 2015. Dissertação de Mestrado em Museologia. [acesso 2017-06-08]. Acesso em 30 set, 2019.

Museu de Santo André | a atualidade e as grandes linhas de atuação

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Frente do Jardim Principal do Museu

 

Dentre todo Acervo, há 70 mil sob a guarda do Museu. A manutenção geral do prédio é realizada pela própria Prefeitura de Santo André.

Com o foco de conservar o objeto e sua relação com a cidade, há uma curiosidade na coleção museal: são as 300 caixas de fósforos de comércios locais. São caixas das décadas de 1950, 1960 e 1970 e, embora exista bastante interesse em conhecer, são resguardadas na reserva técnica do Museu, onde só pessoas autorizadas podem adentrar.

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Detalhes da Fachada do Museu

 

Em 1992, o prédio o qual o Museu de Santo André está situado, foi tombado pelo COMDEPHAAPASA (Conselho Municipal de Defesa ao Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André) e em 2002 foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho Municipal de Defesa ao Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) pela sua inserção na memória local e a relevância como remanescente da política educacional do início do Século XX.

As grandes linhas de atuação

O Museu se dedica a cinco linhas de atuação: as exposições, a ação educativa e cultural, a biblioteca, sala especial e serviço de captação de doações, potencializando o estreitamento dos laços com a sociedade.

 

Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa, Rua Senador Fláquer, 470 – Centro – Santo André – SP (Brasil), *0 55(11) 4427-7297 e 0 55 (11) 4436-3631, e-mail: museu@santoandre.sp.gov.br, Estacionamento para visitantes: Acesso à Rua Gertrudes de Lima, 499 – Centro –  Santo André –SP – entrada Gratuita.

Pode ter interesse no artigo da autora sobre a definição e funções do museu.

Referências Bibliográficas:

  1. GONÇALVES, Aguinaldo; LEAL, Fátima Regina Talavella; KLEEB, Suzana Cecília. Reconhecimento de paisagens em Santo André, SP, Brasil: uma experiência de Inventário de bens culturais . Revista CPC, São Paulo, n. 12, p. 151-166, oct. 2011. ISSN 1980-4466. Disponível em: http://www.journals.usp.br/cpc/article/view/15685/17259. Acesso em: 08 june 2017.
  2. Processo 24929-86, Estudo de Tombamento do Museu GE Prof. José Augusto de Azevedo Nunes – Livro do Tombo Histórico: inscrição nº 377, p. 103 a 110, 05/09/2011.
  3. GRANJO, Maria Helena Bittencourt. I Grupo Escolar em Santo André: trabalhos e folguedos enquanto a cidade cresce. Centro Universitário Fundação Santo André, 2003. Disponível em: http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S22.470.pdf Arquivado em 11 de setembro de 2017. Acesso em 10 ago, 2019.
  4. CORRÊA, Maria Elizabeth Peirão; MELLO, Mirela Geiger de; e NEVES, Helia Maria Vendramini. Arquitetura escolar paulista: 1890-1920. Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 1990.
  5. MUSEU SANTO ANDRÉ DR. OCTAVIANO ARAMNDO GAIARSA. Wikipedia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_de_Santo_Andr%C3%A9_Dr._Octaviano_Armando_Gaiarsa Acesso em 30 ago, 2019.
  6. Prefeitura de Santo André. MUSEU SANTO ANDRÉ DR. OCTAVIANO ARAMNDO GAIARSA. Disponível em: https://www2.santoandre.sp.gov.br/index.php/cidade-de-santo-andre/33-secretarias/cultura-esporte-lazer-e-turismo/184-museu-de-santo-andre-dr-octaviano-armando-gaiarsa Acesso em 30 set, 2019.

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Emilia Mori foto (002)

Emília Mori

Colaboradora no “Citaliarestauro.com” – Criação e tutoria do Curso “Linhas Gerais da Gestão Museológica” e do Curso “Patrimônio Cultural” e vários artigos. Experiência profissional nas áreas da docência e museologia. Pós Graduação em Gestão e Ensino a Distância; Graduação em História; Pós-graduação em Gestão Museológica;  Pós-graduação em Docência; Graduação em Direito; Pós graduação em Patrimônio Cultural.

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