O Museu de Lisboa é formado por cinco lugares onde se pode descobrir Lisboa e as suas histórias:
Palácio Pimenta, Teatro Romano, Santo António, Casa dos Bicos e Torreão Poente partilham uma identidade e uma missão: revelar Lisboa de diferentes formas, para dar a conhecer a riqueza de uma das cidades mais antigas da Europa.
Conheça um dos novos percursos do Museu por Manuela Tenreiro, autora do curso Artes e Culturas da Diáspora Africana.
Um Museu ativo na sua relação com a sociedade
O Museu de Lisboa tem um papel ativo na divulgação da história e património cultural da capital, com novas exposições, incluindo “Viagem ao Interior da cidade”, a exposição de longa duração instalada no Palácio Pimenta, onde se pode visitar a magnífica Maqueta de Lisboa anterior ao Terramoto de 1755.
Tem ainda um calendário de atividades educativas integradas no programa Descola, que atua no Município de Lisboa com o objetivo de aproximar os jovens e as instituições culturais da cidade.
O Museu de Lisboa
Desde 2015, o Museu de Lisboa mudou muito.
Distribui-se por cinco pólos – o Palácio Pimenta, o Teatro Romano, o Museu Santo António, o Núcleo Arqueológico das Casa dos Bicos, e o Torreão Poente da Praça do Comércio.
Está ainda a planear-se um futuro espaço museológico no edifício de moagem da antiga Manutenção Militar, integrado no futuro Hub Criativo do Beato.
O Museu de Lisboa deixou de ser um museu dedicado exclusivamente a apresentar a história da cidade dentro das paredes do seu edifício.
Passou a estar mais atento a novas interpretações históricas, às transformações sociais e do espaço urbano, a abordagens mais experimentais e transdisciplinares, às práticas culturais para a inclusão e pluralidade, e a levar às próprias ruas as histórias da cidade que o museu preserva no seu interior.
Em suma, tornou-se um museu atento às vozes e experiências dos cidadãos e, por isso, mais próximo do público e das questões sociais atuais.
Visitas percurso pelas ruas da Cidade
Nesse sentido, o Museu de Lisboa vem desenvolvendo uma curadoria de exposições com temáticas mais abrangentes e diversificadas, e um programa de atividades educativas em forma de Visitas-Percurso pelas ruas da cidade, que nos levam pelos lugares de memória dos grupos históricos que compõem o mosaico social, étnico e cultural da cidade de Lisboa.
Os lugares invisíveis da escravatura
É o caso da visita-percurso “Os lugares invisíveis da escravatura”, concebida e realizada por Ana Paula Antunes, historiadora e investigadora, e Ana Margarida Campos, antropóloga e mediadora do serviço educativo do Museu.
O percurso
Junto ao rio, a partir do Torreão Poente onde se inicia o percurso – área aproximada do ponto de desembarques em massa de africanos escravizados pelos portugueses entre os séculos XV e XVIII -, são elas as contadoras desta história ainda tão escondida dos manuais escolares.
Ao longo do trajeto que atravessa a Praça do Comércio e daí percorre a Rua da Alfândega, a Rua dos Bacalhoeiros, a Rua do Comércio, a Rua do Ouro e o Rossio, vamos conhecendo e visualizando as histórias destes lugares que dessa forma perdem o caráter “invisível” atribuído ao nome dado a esta visita.
São lugares que, apesar da sua permanência, já pertenceram a uma planta diferente da atual, numa cidade pré-terramoto de 1755, mais desordenada e caótica.
No entanto, as ruas por onde passamos nesta visita-percurso do Museu de Lisboa correspondem a um dos mais importantes pólos comerciais (como aliás se pode verificar pelos nomes das próprias ruas) do início da época moderna.
São as ruas à beira de um rio na confluência de três continentes voltados para o Atlântico, e onde o povo Africano teve um papel de construção essencial e que está na base da formação das sociedades contemporâneas.
O início do percurso na “Casa dos Escravos”
Do desembarque nos cais ribeirinhos, à “Casa dos Escravos”, situada no atual edifício do Ministério das Finanças seguimos pelas ruas onde o dia a dia de africanos escravos e libertos se desenrolava pela prática de diversas atividades, desde vendedores de rua a prestadores dos vários serviços essenciais ao funcionamento urbano.
Os locais da identidade
O percurso do Museu de Lisboa termina no Largo de São Domingos, em frente à Igreja do mesmo nome, que foi a casa da “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”, lugar de convivência e resistência de africanos e afrodescendentes, escravos e libertos, ao longo dos séculos.
A partir destas formas de associativismo os Africanos recriaram as suas identidades num novo contexto, desenvolvendo práticas culturais das suas raízes em novas linguagens estéticas e sensoriais, e contribuindo para a formação de uma cultura portuguesa onde o elemento africano foi sendo invisibilizado e retirado à identidade nacional.
Uma história de Lisboa mais completa
A visita-percurso “Os lugares invisíveis da escravatura” resgata um pouco desse legado e contribui assim para revelar uma história de Lisboa mais completa.
Uma história inclusiva de uma componente humana essencial de ser-se “Alfacinha” – a herança cultural Africana que nos enriquece, literalmente, há quase tantos séculos quanto os que somam a nossa existência enquanto nação.
Na manga, o Museu de Lisboa tem já outros percursos dedicados ao mesmo tema e planeados para breve. Mais passeios a tornar visíveis os tantos lugares de Lisboa que percorremos diariamente, mas nem sempre conhecemos.
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Manuela Tenreiro
Doutorada em História da Arte pela School of Oriental and African Studies, linha de pesquisa em Artes e Culturas da Diáspora Africana (2008). Estudou artes visuais e fotografia em São Francisco onde atuou como mediadora no mural Pan-American Unity de Diego Rivera. No Brasil, onde residiu entre 2008 e 2017, criou e editou a publicação cultural bilíngue conTRAmare (2013-2018), e colaborou em projetos editoriais, de arte educação, redação, tradução e pesquisa histórica. No Rio de Janeiro frequentou o Curso de Tradução Literária DBB e o Programa Avançado de Cultura Contemporânea na UFRJ. Em Lisboa desenvolve projetos de tradução, escrita e educação nas áreas de história da arte e das culturas da diáspora africana, vindo também a dedicar-se à aprendizagem de ferramentas para a execução de projetos na área das humanidades digitais.