Neste artigo veremos o que é a análise de obras de arte com um exemplo de uma obra de Juan Gris, conhecido como o “mestre das imagens disfarçadas”.
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A análise de obras de arte significa compreender os aspetos formais de uma obra de arte e o seu contexto histórico.
Mas significa também compreender a intenção do artista e as formas mais ou menos óbvias em que essa intenção é expressa.
Poder-se-ia dizer que a análise na arte implica 3 passos:
- análise formal
- análise de conteúdo
- análise da intenção
A seguir, vamos ver como isto se aplica à pintura de Juan Gris Natureza-morta com toalha axadrezada.
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Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Still_Life_with_Checked_Tablecloth_MET_DP332907_ms.jpg
Juan Gris – Analisando os aspetos formais…
Pintor: Juan Gris (1887-1927)
Título original da obra: Bodegón con mantel a cuadros (Natureza-morta com toalha axadrezada)
Local de produção: Paris, França
Data de produção: 1915
Localização actual: Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque (EUA)
Dimensões: 116.5 x 89.2 cm
Material: óleo e grafite sobre tela
Condição: [sem informação; presume-se boa]
Temática: Natureza-morta
Estrutura: Sem dados sobre moldura.
O pintor desconstrói os objetos numa «explosão» radial de formas geométricas cuidadosamente coordenadas para criar a impressão de simultaneidade de perspetivas.
Utiliza ainda uma imitação da técnica papier-collée (jornal dobrado sobre a mesa e pormenor junto à garrafa, onde se lê «EAU»).
Composição: A composição é determinada em redor da mesa.
São criados vários eixos estáticos radiando no sentido dos cantos superiores, com linhas mais fortemente angulosas (ângulos agudos) e sombras bem marcadas.
Ao centro distingue-se uma fruteira, uvas, garrafas, copos e chávenas.
Sobre o tampo da mesa, está também colocado um jornal.
O padrão da toalha de mesa espalha-se um pouco por toda a composição, num jogo de simultaneidade de planos típico do Cubismo.
Do mesmo modo, a própria chávena está desdobrada em duas vistas simétricas.
O pintor optou por desenhar linhas curvas brancas (igualmente simétricas), no lado esquerdo da tela para fazer representar uma guitarra.
Toda a composição é um jogo de reflexos e linhas cuja continuidade não é quebrada.
As cores são suaves, mas usadas sem timidez, predominando o xadrez verde e branco (e respetivas nuances), mas também vermelho, amarelo e azul.
Em plano de fundo, temos uma parede lisa pelo lado direito, simulação de tábuas de madeira do chão, que estão ainda presentes pelo lado esquerdo da tela, como se projetando o mesmo na parede, fundindo-se com pormenores de um outro padrão e do xadrez da toalha de mesa.
Note-se que nos cantos inferiores a madeira tem um castanho natural, enquanto na zona lateral esquerda e superior tem a mesma cor verde-azulada da parede do lado oposto.
Juan Gris – Sobre o conteúdo…
Pela marcação da data feita pelo próprio Gris no verso da tela, esta pintura é enquadrada no período final do Cubismo – o Cubismo Sintético.
Também analisando a composição facilmente se chega a essa conclusão:
- Temática puramente decorativa e de estudo (em atelier): natureza-morta.
- Representação racional, geométrica e plana das formas com quebra de contornos.
- Perspectivas múltiplas e desdobramento de planos.
- Uso do papier collé (collage).
Gris ficou marcado entre os demais cubistas por preferir imagens mais claras e ordenadas, sendo visto como um purista.
Neste quadro, apresenta-nos um tema clássico da pintura cubista – a natureza-morta.
Dispõe sobre uma mesa chávenas, taças de vinho, uma fruteira de pé alto (com uvas verdes), uma garrafa de vinho tinto, uma garrafa de stout da marca Bass (distingue-se pelo logotipo do diamante vermelho), um jornal e uma guitarra.
À primeira vista, aparece-nos como um estudo de imagem típico do Cubismo: a simultaneidade de planos e o jogo de perspetiva.
No entanto, há um aspeto muitas vezes ignorado nesta pintura que é a formulação de uma outra imagem latente através dos diversos elementos desdobrados que encontramos na tela.
Gris é apelidado por alguns críticos como o mestre das imagens disfarçadas.
De facto, acredita-se que, nesta pintura, além dos objetos já enumerados, adivinha-se a cabeça de um bovino.
Juan Gris – Vamos olhar de novo!
Analisando os objetos, a sua posição e as linhas de perspetiva escolhidas pelo pintor, podemos distinguir o animal:
- A simetria da chávena no canto da mesa simula o focinho de um touro.
- Os círculos concêntricos a preto e branco à esquerda representam um olho.
- A garrafa de stout parece uma orelha.
- A linha recurvada da guitarra assemelha-se ao contorno de um chifre.
Outro pormenor apontado em algumas análises diz respeito às letras «EAU» no rótulo da garrafa: parecem deliberadamente remeter para «bEAUjolais» (tipo de vinho produzido em França), mas podem igualmente ser uma parte da palavra francesa para touro: «taurEAU».