Transmitimos a nossa breve reflexão sobre o que é uma obra de arte sem entrarmos em consideração sobre o que é arte e como este conceito é definido. Pode estar interessado no artigo “O que é arte”.
interpretação de obras de arte
Como nos diz Heidegger (A Origem da Obra de Arte):
«A obra dá publicamente a conhecer outra coisa, revela-nos outra coisa; ela é alegoria. À coisa fabricada reúne-se ainda, na obra de arte, algo de outro. (…) A obra é símbolo.»
Pode ler um resumo neste link.
Desta forma, e seguindo o raciocínio de Heidegger, torna-se necessário, ao fazer a interpretação de obras de arte , desdobrar o pensamento do artista no momento da feitura da sua obra. Esta leitura vai retirar o carácter de «coisa» (das Dinghaft, segundo Heidegger) para transformá-la em algo mais. A obra é madeira, é pedra, é tela, sim; mas, não apenas. Ela tem esse elemento «coisal», mas é ainda algo mais, porque há um significado intrinsecamente ligado à «coisa»; um significado que foi atribuído pelo próprio artista quando trabalhou a madeira, esculpiu a pedra ou pintou a tela.
Assim, devemos buscar a verdadeira essência reinante na sua produção, analisando cada pormenor de produção, atentamente, e «perguntarmos à obra o que é e como é» (Heidegger).
como analisar uma obra de arte
Então como analisar uma obra de arte qualquer que seja a sua natureza ou técnica.

A análise pode ser objectiva (ou visual), em que se descreve os elementos como são vistos, ou subjectiva (ou simbólica), que descreve os nossos sentimentos aquando da visualização da obra.
Podemos ainda analisar uma obra segundo um ponto de vista formal (ou estético) que analisa toda a sintaxe visual (composição), com contexto histórico, temática, organização de elementos – o que envolve uma pesquisa mais abrangente.
Como uma leitura pode ser muito dependente das sensações que provoca em cada um de nós, encontram-se estabelecidos alguns elementos-base para a leitura de uma obra de arte. Assim, há que ter em conta estes critérios comuns: época, técnica, tema e recursos utilizados pelo artista.
Assim, e sempre que necessário recorrendo à pesquisa, antes de iniciar a leitura propriamente dita, devemos:
1) Obter dados sobre o autor (como data de nascimento e morte, origem social, formação, outras obras);
2) Reconhecer o assunto (cena religiosa, histórica, mitológica, alegórica, retrato, paisagem,…; se se encontra exposta, e qual foi a sua primeira aparição pública, etc.);
3) Analisar o assunto (ou seja: uma descrição do que se encontra representado, lugares, enquadramentos, personagens, acções, etc.).
Se for o caso, também podemos acrescentar dados relativos ao local onde se encontra, criando uma legenda breve: autor, título, data de execução, suporte, dimensões, lugar de conservação/exposição.
Quando descrevemos uma obra, devemos começar por anotar as nossas primeiras impressões. Poderão ajudar-nos numa fase posterior da nossa análise. Contudo, há que ter em conta que devemos sempre justificar as nossas conclusões de modo que outros consigam relacionar-se com elas e, assim, entendê-las. Podemos, por exemplo, estabelecer comparações entre obras ou mesmo entre artistas e considerar alternativas que poderiam ter sido escolhidas pelos artistas ou o que terá afectado as suas escolhas naquela obra em particular.
Por fim, deveremos concluir a nossa análise com uma descodificação dos significados (reais ou simbólicos) da obra em análise.
E lembrem-se: tudo aquilo que for realmente observável na obra é digno de nota e motivo para análise.