Guerrilla Girls – porque são ainda tão necessárias?

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No século XXI, por que as Guerrilla Girls ainda precisam existir? Porque é que as ativistas feministas no mundo da arte continuam a ser tão importantes?

Neste artigo vamos olhar para as Guerrilla Girls – um grupo de ativistas feministas anónimas que surgiu em 1985 com o objetivo de lutar contra a descriminação e o machismo no mundo da arte através de ações de “manchetes perturbadoras, imagens ultrajantes e estatísticas arrasadoras para expor preconceitos de género e étnicos e corrupção na arte, no cinema, na política e na cultura pop.”

Autora: Rute Ferreira 

Quem são as Guerrilla Girls ?

Desde 1985 as Guerrilla Girls, um coletivo formado por artistas e ativistas feministas , luta contra o sexismo, o racismo e outras formas de opressão no mundo da arte.

Formado em Nova York, o coletivo artístico e feminista trabalha através de ações rápidas, baseadas em táticas de guerrilha — daí a origem do nome, inclusive — e em formas de arte efêmeras, como a performance, projeções em vídeo e instalações.

foto das guerrilla girls - ativistas feministas que se apresentam com máscara de gorilas

Como atuam as Guerrilla Girls

Ao longo de mais de três décadas de atuação, cerca de 60 pessoas já fizeram parte do grupo. As integrantes usam máscaras de gorilas para manter o anonimato — o que mantém o foco não no individual, mas nas questões que elas abordam.

Além disso, as Guerrilla Girls usam de humor e de muita ironia para problematizar preconceito, discriminação, corrupção e outros problemas sociais.

“Podemos ser qualquer um. Nós estamos em todo lugar.”

A atuação do coletivo destas ativistas feministas é baseado no Culture Jamming.

Culture Jamming- termo usado para ações nas quais a cultura mainstream e o consumismo desenfreado são colocados em xeque através do ativismo e da arte de rua. Elas utilizam pôsteres e outdoors, por exemplo, e tem sua mensagem transmitida de forma rápida e clara — e geralmente, de modo irônico.

As ações das Guerrilla Girls

Guerrilla girls com um cartaz a dizer "as mulheres têm de estar nuas para entrarem no museu?

As mulheres precisam de estar nuas para entrar no Met Museum?

 

Muitos dos trabalhos das Guerrilla Girls criticam a forma como os museus têm tratado as mulheres, em particular aquelas que são artistas. Em 2015, elas fizeram uma projeção na fachada do Whitney, em NY, a respeito da desigualdade de rendimento no mundo da arte.

Chamando a atenção dos museus com dados, as Guerrilla Girls apontam, por exemplo, o fato de que muitos museus tem um número ínfimo de obras de mulheres se comparado ao número de nus artísticos em exposição, como é o caso do MASP, em dados de 2017.

 

Ação das Guerrilla girls no MASP de São Paulo

As vantagens de ser uma artista mulher

Outro trabalho que aborda essas desigualdades é o “As Vantagens de Ser Uma Artista Mulher”. Com uma dose de sarcasmo, elas apontam as diferenças fundamentais — e o número muito maior de desafios — com os quais uma mulher precisa lidar para ser artista.

cartaz "as vantagens de ser uma artista mulher"

As Guerrilla Girls e os Museus

O grupo de ativistas feministas surge numa época em que os museus estão se reinventando. História da mulher - curso online certificado

Nos anos 70, acontecem eventos, como a Mesa Redonda de Santiago, no Chile, e encontros que trazem à tona questões como a necessidade do museu dialogar com a comunidade, e de ser um espaço propício ao debate e aberto às demandas sociais. A partir daí se discute o papel social do museu.

Outros encontros e eventos foram se somando a esse marco. Nos anos 80 experiências como os ecomuseus, museus de território e outros tipos não convencionais de museu já subvertiam as estruturas tradicionais.

Em 1984, a Declaração de Quebec traz os princípios base de uma nova museologia. Pode descarregar na ligação abaixo

declaracao-de-quebec-1984-por

Houve ainda um movimento para que os museus, especialmente os de arte e história, fossem mais abertos e dispostos a atuar em prol da sociedade.

Mais adiante, a Terceira Onda Feminista, nos anos 90, amplia o debate em torno do gênero, além das questões de raça e classe. A pesquisadora e historiadora da arte Susie Hodgie declara que:

As artistas feministas questionaram o lugar do nu feminino na arte e a desigualdade que permeava a arte e a sociedade. Por meio de perspetivas femininas, encorajaram o espectador a questionar as injustiças culturais, na esperança de produzir mudanças, combater a desigualdade e dar mais visibilidade às mulheres.

A desigualdade na arte

Chamar a atenção dos museus, colecionadores, público em geral e até mesmo outros artistas para a desigualdade na arte é um objetivo do coletivo de ativistas feministas . Já na década de 80, época dos primeiros trabalhos como “as mulheres precisam estar nuas…” elas apontaram que apenas 4 galerias comerciais em NY exibiam mulheres negras, e entre essas galerias, apenas uma exibia mais do que uma artista.

Ainda é preciso falar sobre isso?

É claro que agora, depois de quase quarenta anos de trabalho do coletivo, bem como uma série de conquistas significativas de direitos, os curadores de arte, diretores artísticos e outros responsáveis por exposições procuram um maior equilíbrio entre os trabalhos de homens e mulheres.

As próprias Guerrilla Girls têm agora as suas obras de protesto representadas em grandes museus.

Então, o trabalho delas — e de todos os ativistas feministas — acabou? Não mesmo.

Ainda são poucas as mulheres que ocupam os museus, enquanto artistas. São baixas, por exemplo, as produções acadêmicas que se ocupam dos trabalhos de mulheres que sejam anteriores ao século XX.

E em uma época em que a ciência e a pesquisa, a cultura e arte estão sendo tão rechaçadas combater o sexismo e o racismo na arte se faz tão necessário quanto nos anos 80.

As Guerrilla Girls hoje

O movimento de ativistas feministas – Guerrilla Girls – no mundo da arte continua a ser necessário e continua ativo.

As Guerrilla Girls continuam o seu papel de denúncia de de protesto como pode ver na página do Tate Modern a elas dedicada

Como é vista a mulher ao longo da história? 

O objetivo do curso online História da Mulher / Género é analisar a figura da mulher ao longo da história mundial, desde a pré-história até à idade moderna.

Desta forma, é possível analisar a situação da mulher, o conceito e a evolução nas diferentes fases históricas.

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