Santos e Mártires: como eram identificados?
Imagem de São Gonçalo pertencente à Igreja do Carmo – Porto
O uso dos atributos prendia-se com a necessidade de identificar as personagens religiosas perante um público, na sua maioria, analfabeto.
Podem ser encontrados os nomes dos respectivos santos inscritos na auréola ou numa filactera (espécie de legenda explicativa, na base da figura).
Todavia, o uso de sinais ou símbolos, tal como era tradição nas religiões pagãs, provou-se muito mais eficaz, tendo sido com o tempo, mais aceite.
O Santo era, então, individualizado pelo aspecto físico, pelas roupagens, armas, animais ou outros símbolos que se relacionassem com a sua história.
como podemos distinguir as figuras santas?
Podemos distinguir a figura santa por dois aspectos:
– as suas características – aspecto físico e indumentária;
– os seus atributos – elementos de vários tipos que se relacionam geralmente com a sua condição, profissão, história de vida ou de martírio.
o aspeto físico
Na generalidade dos casos, o aspecto físico é mais ou menos estandardizado e com poucas variações:
– as feições tendem a ser equilibradas, de silhuetas esguias e aspecto algo frágil, como forma de sugerir a vida de ascetismo (com algumas excepções, como São Cristóvão, representado como um homem de aspecto mais atlético);
– a maioria das imagens apresenta-se sã, mas muitas representações demonstram os santos a sofrer as mutilações dos seus martírios;
Guido Reni São José com o menino Jesus, fonte wikicommons
– são representados na plenitude da idade, excepto aqueles que morreram em jovens ou que habitualmente são vistos como idosos (como São José e São Jerónimo);
– predominam os tipos físicos europeus, em particular os mediterrânicos;
Santa Wilgefort crucificada. Escultura em madeira (século XVI, Igreja de Saint Etiénne em Beauvais – França).
– as barbas são curtas nos mais jovens e longas nas personagens patriarcais (de notar que há uma santa que apresenta barba, Santa Wilgeforte, a única excepção à suavidade caracterizadora dos rostos femininos);
– é raro encontrar santas representadas com cabelos longos visíveis (um dos exemplos é Santa Madalena);
– é, igualmente, raro encontrar inferioridades físicas e desfigurações (mas, encontramos São Roque com as úlceras da lepra e Santa Noémia com o pé deformado em pata de ganso, como excepções à regra).
a indumentária
A indumentária revela-nos algo mais sobre a identidade da imagem, ajudando a definir alguns aspectos da sua vivência, condição e país de origem do santo em questão, bem como a posição hierárquica que ocupa dentro da Igreja, se a tiver.
Podemos delinear alguns aspectos gerais:
– aqueles santos dos primeiros séculos do Cristianismo, vestiam-se de modo convencional, com túnica branca cingida, manto e sandálias;
– os Apóstolos apresentam-se do mesmo modo, mas descalços (segundo motivos religiosos, induzidos no Novo Testamento);
– um santo que tenha tido actividade militar era representado com as suas armas e couraças (por vezes, criando anacronismos);
– Anjos e Arcanjos das Milícias Celestes podem surgir representados com armas e couraças, embora, geralmente, surjam com túnicas brancas;
– a indumentária reflecte a condição social, diferenciando um camponês (por exemplo, Santo Isidro), de um pastor (Santo Vendelin) ou de um rei (São Luís de França);
Menino Jesus Romeiro de Santiago (óleo sobre tela, autor desconhecido, segunda metade do século XVII; Museu de Aveiro – Portugal)
– os romeiros apresentam-se com o chapeirão, bordão ou cajado (por vezes com cabaça), uma capa curta (a romeira) e, por vezes, uma concha (da romagem a Santiago);
Neste dia de todos os santos pode ainda ficar a conhecer alguns dos principais santos e seus atributos na secção dedicada à iconografia no nosso blogue.