No dia mundial do teatro saiba um pouco mais sobre a essência do teatro e conheça a sua faceta efémera. Mas no dia mundial do teatro não podemos deixar de olhar para a outra faceta desta arte, a que perdura através da dramaturgia.
“O mistério do teatro reside numa aparente contradição. Como uma vela, o teatro consome a si mesmo no próprio ato de criar a luz.”
Margot Berthold
dia mundial do teatro
No dia 27 de março celebramos o Dia Mundial do Teatro e que tal descobrirmos um pouco mais sobre a sua história no Ocidente?
dia mundial do teatro | O théatron
Anfiteatro de Epidauro
O théatron, origem da palavra, a princípio designava o lugar de onde se via o drao, o drama, a ação.
Em sua origem etimológica, o teatro está muito mais ligado à ideia de recepção que a de produção. Contudo, o espectador grego não via passivamente – o público participava ativamente daquilo que era, para ele, um ritual.
Além de designar o local, o edifício, teatro também diz respeito à ação dramática em si, à representação. Em seu conhecido estudo História Mundial do Teatro, a escritora Margot Berthold diz, em seu prefácio:
“O mistério do teatro reside numa aparente contradição. Como uma vela, o teatro consome a si mesmo no próprio ato de criar a luz.”
dia mundial do teatro | a efemeridade
E essa deve ser, sem dúvida, a característica mais marcante dessa forma de arte. Diferente de outras modalidades artísticas, como a pintura, ou a escultura, que atravessam o tempo e podem ser sempre revistas, o teatro se encerra enquanto acontece, sua efemeridade é aquilo que o diretor Eugenio Barba chama de “procurar a vida num papel machê”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_teatro#/media/Ficheiro:Paris_Comedie-Francaise.jpgAguarela do interior da Comédie française, Sec. XVIII
dia mundial do teatro | a dramaturgia
Página do Auto de Inês Pereira, de Gil Vicente
Entretanto, há uma face do teatro que eventualmente dura e que assim como uma pintura, também pode atravessar gerações: a dramaturgia.
Chamamos de dramaturgia o texto teatral, e em sua origem, a palavra traz a ideia de ação – ou seja, a dramaturgia não é um texto feito apenas para ser lido mas, principalmente, para ser posto em ação.
Gil Vicente
Há autores que se dedicaram quase que exclusivamente a esse tipo de trabalho, como é o caso do português Gil Vicente, cujas obras, em geral Autos, são até hoje lidas, encenadas e assistidas. Nada mais justo para o homem considerado o “pai do teatro português”.
O autor se utilizava de elementos teatrais para satirizar comportamentos, especialmente entre aqueles que detinham o poder.
O Auto da Barca do Inferno, uma de suas obras mais populares, e cujo enredo gira em torno de dois barcos que conduzem as almas para o Inferno ou para o Céu, um fidalgo e um frei, por exemplo, são conduzidos para a barca do inferno – em sua conversa com o barqueiro da danação, eles tentam explicar seus comportamentos em vida, mas já é tarde demais. Gil Vicente não os perdoa.
O teatro como crítica e alegoria
Gil Vicente não foi o único a utilizar os recursos teatrais para falar de algum tema polêmico ou criticar uma suposta elite.
No Brasil, em 1974, em plena ditadura militar, Gianfrancesco Guarnieri escreveu uma peça que se passava numa distante aldeia medieval, em que um poeta amanhece morto, misteriosamente, enforcado numa praça. A peça foi submetida à censura vigente e passou, podendo ser apresentada.
De fato, os censores não perceberam que Guarnieri se utilizara de uma alegoria para tratar de um tema muito mais contemporâneo a eles: a morte do jornalista Vladimir Herzog, um ano antes (segundo o governo, ele se enforcara na prisão, mas acredita-se que tenha sido assassinado pelo estado).
Em outros tempos e lugares, outros dramaturgos também utilizaram a alegoria como um recurso teatral, como uma forma de dizer aquilo que de outro modo talvez não prestássemos tanta atenção.
Conheça os e-books e cursos online da Citaliarestauro desta autora
Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com. Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.