O que é a arte sacra? Qual a diferença entre arte sacra e arte religiosa?

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Quer conhecer os conceitos de arte sacra e arte religiosa? O que as diferencia?

Neste artigo iremos explorar os conceitos de arte sacra e de arte religiosa e a importância desta diferenciação ao nível da história da arte e da conservação de obras de arte.

Um exemplar da arte sacra islâmica: na Grande Mesquita de Kairouan, na Tunísia, a parte superior do mihrab (nicho de oração) está decorada com mosaicos do século IX e pintados com motivos vegetais entrelaçados.

Um exemplar da arte sacra islâmica: na Grande Mesquita de Kairouan, na Tunísia, a parte superior do mihrab (nicho de oração) está decorada com mosaicos do século IX e pintados com motivos vegetais entrelaçados.

 

Temos tendência a utilizar os 2 conceitos de forma indiscriminada para de obras de arte criadas em contexto religioso.

No entanto, ao longo da história, a função das obras de arte muitas vezes se altera. Alteram-se igualmente os conceitos aplicáveis e as formas de garantir a sua salvaguarda e conservação.

Enquadram o conceito de arte sacra as obras de arte de caráter religioso com função de culto.

Vamos abordar de seguida os seguintes pontos:

1 – Diferença entre os conceitos de arte sacra e arte religiosa.

2 – Tipologias e estilos da arte sacra .

3 – Função pedagógica da arte sacra .

4 – Abordagens ao nível da conservação e restauro.

1 – Arte sacra / arte religiosa

Distingue-se assim da arte religiosa ou da imaginária religiosa pela sua função. Isto é, destina-se ao culto.

Podemos ter obras de caráter religioso ou com temáticas e motivações religiosas ou ainda que despertem no espetador sentimentos religiosos e que não se enquadrem, assim, no conceito de arte sacra.

O conceito está pois ligado à função dos objetos artísticos e não à motivação que esteve na base da sua criação.

arte sacra esquema

2 – arte sacra | tipologias e estilos

As obras de arte sacra podem abarcar várias tipologias de objetos e várias técnicas artísticas.

Alguns tipos de objetos artísticos:

  • arquitetura das igrejas e templos
  • esculturas
  • painéis no teto das igrejas
  •  pinturas
  •  gravuras
  •  frescos
  • vitrais,
  • mosaicos
  • utensílios litúrgicos
  • vestimentas e paramentos litúrgicos
  • tapeçarias
No que respeita ao estilo artístico, as obras podem ter sido produzidas em vários estilos conforme a época, o local ou o gosto vigente.
Igreja de Marco de Canavezes, Siza Vieira – 1996

Igreja de Marco de Canavezes Siza Vieira

Igreja Paroquial de Fornos, em Marco de Canaveses, a Igreja de Santa Maria foi projetada pelo arquiteto português Álvaro Siza Vieira. Recebeu vários prémios internacionais e constitui uma enorme inovação no conceito de edifício religioso. Integra a lista de 8 edifícios de Siza Vieira em fase de candidatura a Património Mundial. Sendo uma obra de arte com função de culto enquadra-se na ideia de arte sacra .

 

No que respeita à religião, podemos encontrar obras de arte sacra – destinadas ao culto – nas várias religiões.

Temos assim arte sacra cristã, budista, islâmica, etc.

Na religião budista, por exemplo, as Thangka (ou Thanka) são pinturas que retratam deidades e seres iluminados do panteão do Budismo Tibetano.  Constituem uma base para a aprendizagem dos princípios religiosos.

 

ThankaThanka de Guhyasamaja Akshobhyavajra. Tibete Central, século XVII. Rubin Museum of Art

3 – arte sacra | função pedagógica

Neste contexto, e ao longo da história, encontramos muitas obras com uma função eminentemente pedagógica relativamente às mensagens litúrgicas que se pretendiam transmitir.

Nas igrejas católicas, por exemplo, as imagens relacionadas com cenas bíblicas, com os Evangelhos, com as vidas de Santos têm por função despertar a religiosidade dos fiéis e acompanhar as celebrações litúrgicas.

As imagens substituem ou coadjuvam a mensagem verbal e escrita em tempos de baixa literacia.

E, em muitos casos, são, literalmente, uma forma de contar histórias, passo a passo. O caso mais frequente é a representação da Via Sacra ou Passos do Senhor.

Mas no que respeita à vida dos Santos temos também alguns casos bem interessantes.

Veja o exemplo dos caixotões da Igreja de São Vicente de Sousa, no concelho de Felgueiras, Portugal.

Igreja São Vicente de Sousa

São vicente 2

São vicente 1

Os caixotões da capela mor relatam por imagens a vida e o martírio de São Vicente, o Orago da Igreja. Os caixotões estão numerados sequencialmente seguindo os episódios da vida do Santo.

E se as obras de arte religiosa estiverem musealizadas?

conservação preventiva de obras artísticas Ao longo da história as obras de arte vão alterando a sua função. Muitas das obras de arte religiosa produzidas originalmente com uma função de culto encontram-se atualmente em museus.

No caso dos monumentos ocorre a sua dessacralização passando a funcionar como lugares de visita e fruição e não como locais de culto.

Na sua origem têm um caráter religioso mas a sua função foi alterada. Passando a centrar-se no estudo, na história, nas caraterísticas artísticas, na fruição.

A designação de Museu de Arte Sacra aplicada a muitos museus que exibem obras que na sua origem tiveram outrora função de culto é frequente e perfeitamente esclarecedora do conteúdo das suas coleções embora os objetos não tenham atualmente uma função de culto.

4 – Como estes conceitos têm influência na conservação de obras de arte?

A abordagem à conservação de obras de arte terá forçosamente de ser diferente.

As necessidades conservativas dos objetos per si é igual em função das caraterísticas dos materiais constituintes, das condições ambientais ou dos processos de alteração / degradação ao longo do tempo.

Mas será possível criar as condições de conservação ótimas para uma escultura que se encontra a culto numa igreja, por exemplo?
Enquanto que num ambiente museológico a conservação da obra de arte considera as necessidades conservativas do objeto, no caso da arte sacra terão de se ter em conta muitos outros aspetos, por exemplo:
  • as condições do próprio edifício;
  • as condições de exposição da peça;
  • a frequência e condições de utilização e de deslocação (no caso de esculturas de vulto, panos, bandeiras, etc, utilizados em procissões, por exemplo);
  • os hábitos e tradições de culto (flores e velas junto às obras de arte de devoção, por exemplo, podem constituir um risco para a conservação destas obras de arte.

A conservação de obras de arte sacra é assim um desafio tanto para as instituições que as têm à sua guarda como para toda a comunidade.

Implica o conhecimento dos princípios de conservação aplicáveis aos materiais per si e o equilíbrio com as funções de culto tão importantes para a identificação e coesão de uma comunidade.

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Fátima Muralha

Fátima Muralha

Licenciada em história, opcional história de arte. Pós graduação em gestão e valorização do património, especialização em gestão de projetos culturais. Vários cursos de especialização na área da valorização do património, gestão de projetos, museologia e formação profissional. Coordenação de vários projetos ligados ao património histórico e artístico. Autora de várias publicações e comunicações. Criação e coordenação do projeto Citaliarestauro.com.

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