Um projeto de acessibilidade em museus

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Os museus como pontos de inclusão social e a acessibilidade cultural em museus são temas que, embora com cada vez mais debates e iniciativas não têm ainda o desenvolvimento necessário.

É preciso debater, falar sobre as questões de acessibilidade cultural mas sobretudo desenvolver mais e mais iniciativas para que a inclusão no acesso à arte e ao património cultural seja uma realidade.

A inclusão social não se limita a eliminar barreiras físicas, embora sendo este um aspeto fundamental, mas também a tornar acessível a todos o processo de aprendizagem inerente à fruição do Património cultural.

Mas mais ainda, deve permitir a interação e colaboração de todos (visitantes e comunidade local) nos processos de salvaguarda do Património e de construção de espaços museológicos. O conceito de inclusão social está assim intimamente ligado aos de museologia social e ecomuseus.

Partilha de iniciativa de acessibilidade cultural

Conforme acima se afirma a eliminação de barreiras físicas não é o único aspeto a considerar mas é fundamental para garantir a acessibilidade cultural para todos. E, porque há tanto para fazer, as iniciativas são sem dúvida de grande relevância e a sua divulgação importante.

Partilhamos assim um projeto de acessibilidade cultural descrito na primeira pessoa por Daniela Fatela Geraldes.



Projeto de acessibilidade cultural

O meu nome é Daniela Fatela Geraldes, e estou a realizar um doutoramento em Educação Artística na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

O meu primeiro contacto com a acessibilidade cultural aconteceu em 2021, durante a curadoria da exposição “Os Santos d’Afurada”.

A criação de imagens em relevo e descrições em braille para as peças expostas fez-me perceber que a acessibilidade cultural , especialmente em museus, ainda está muito pouco desenvolvida.

Nesse verão, tornei-me voluntária da ACAPO e tive a oportunidade de interagir diretamente com pessoas cegas e com baixa visão, compreendendo melhor as suas necessidades e expetativas ao visitar espaços culturais.

exemplo de acessibilidade cultural do Museu do Prado

Projeto do Museu do Prado, Madrid, instalação de várias reproduções de obras famosas em relevo

O inicio do projeto

Ao ingressar no doutoramento, decidi centrar a minha investigação na acessibilidade cultural para pessoas cegas e com baixa visão. Inicialmente, pensei em trabalhar com crianças em escolas de referência, utilizando a metodologia Visual Thinking Strategies (VTS), que promove o pensamento crítico e o diálogo através da análise de obras de arte.

Pretendia aplicar essa abordagem com imagens em relevo, inicialmente utilizando obras narrativas como The Milkmaid, de Vermeer.

A leiteira Vermeer

Vermeer, Johannes: A Leiteira, 1658. Óleo sobre tela. Rijksmuseum, Amsterdan- Holanda

 

No entanto, percebi que qualquer obra, até as abstratas, pode ser trabalhada em relevo, desde que os elementos essenciais sejam realçados através de texturas diferenciadas.

Projeto de acessibilidade cultural com o Museu Soares dos Reis

Como visitante regular do Museu Nacional de Soares dos Reis, sugeri ao museu a possibilidade de transformar algumas pinturas do seu acervo em imagens em relevo.

O objetivo é permitir que estas obras sejam experienciadas por todos, independentemente das suas necessidades, promovendo uma abordagem inclusiva onde as ferramentas acessíveis são vistas como enriquecedoras para todos.

Nesta parceria, foram selecionadas nove obras de diferentes épocas e artistas, que serão apresentadas em relevo no formato A3, ao lado das pinturas originais, para que todos possam apreciar a sua dimensão visual e tátil.

1 Imagem em relevo da obra "The Milkmade" de Vermeer. Foi o primeiro teste feito.

Imagem em relevo da obra “The Milkmade” de Vermeer. Foi o primeiro teste feito.

 

Exemplo de imagem em relevo de uma obra do Museu Nacional de Soares dos Reis. Um campo de trigo – Seara (Arredores de Paris) -Silva Porto (1850 – 1893) 1878-79 Óleo sobre tela

Exemplo de imagem em relevo de uma obra do Museu Nacional de Soares dos Reis. Um campo de trigo – Seara (Arredores de Paris) -Silva Porto (1850 – 1893) 1878-79 Óleo sobre tela

 

A experiência de acessibilidade cultural será complementada por audiodescrição, orientando o toque e fornecendo informações sobre a obra, o autor, o contexto artístico e cultural, e as suas características físicas.

Atividades escolares

Estão previstas quatro sessões ao longo do projeto, incluindo, possivelmente, atividades com a escola de referência para alunos cegos e com baixa visão do Porto.

Apresentação e discussão da investigação no 10º EPRAE que decorreu na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Apresentação e discussão da investigação no 10º EPRAE que decorreu na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Espero que estas ações continuem após o término do doutoramento, já que irei doar as imagens em relevo ao museu para que sejam utilizadas de forma contínua.

Este artigo é também um convite.

Se trabalha num museu, galeria ou instituição cultural e tem interesse em soluções que tornem as suas exposições mais acessíveis, estou disponível para colaborar.

Além disso, fico à espera do vosso feedback sobre o projeto e das vossas experiências com acessibilidade cultural .

Podem contactar-me através dos contactos da Citaliarestauro.com do email daniela.geraldes@hotmail.com ou pelo LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/daniela-fatela-geraldes-34620a18b/

Despeço-me com uma frase de Maria Vlachou:

“A acessibilidade não é apenas importante para pessoas com deficiência e pessoas Surdas, mas sim, diz respeito a todos nós”.

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