ordens mendicantes | o que são e como surgiram?

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Nos finais do século XI novas ordens religiosas com uma essência urbana estavam a formar-se. As ordens mendicantes respondiam às novas necessidades dos crentes.

ordens mendicantes


Imagem de capa: Frades franciscanos diante da heresia ( Cathar Consolamentum), segunda metade do século XIII, Bibliothèque nationale de France


o crescimento das cidades

Acerca do ano 1100 acontecem grandes mudanças no ocidente europeu, principalmente o crescimento das cidades. Cidades criam novas inquietações e questões religiosas, que em tempo desdobram-se em novos movimentos religiosos. A ascensão urbana gerou prosperidade, muitos indivíduos e instituições enriqueceram e a Igreja Católica não era uma exceção. A fortuna incomodava muitos fiéis que acreditavam que o objetivo maior era cuidar da alma e não de bens materiais. Esse clamor pela espiritualidade só evidenciou ainda mais a dissonância do voto de pobreza e da realidade na prática.

novas ideias e novas crenças

Simultaneamente o desenvolvimento de universidades e a oferta do conhecimento inspirava nova ideias e o desejo de contestar as crenças mais antigas. Algumas das novas crenças eram inquietantes e outras até hereges. Tudo isto ocorre em conjunto com um arrebatamento de entusiasmo religioso causado pelas Cruzadas.

As pessoas desejavam agir para fazer alguma diferença e solucionar os problemas a que estavam sujeitas. Seria esperado que os monges tomassem frente a estes movimentos, mas as ordens monásticas antigas não eram adequadas para lidar com as novas problemáticas urbanas. A vida monástica era tradicionalmente rural e não capacitava os monges a fazer frente as questões que se apresentavam na urbe. Além disto, as ordens monásticas antigas também haviam enriquecido, os monges abriam mão de seus bens, porém os monastérios se beneficiavam das vastas terras e de outras captações de posses da Igreja Católica.

Muitas pessoas passaram a perceber a Igreja como uma instituição materialista, a riqueza monástica além de contradizer a natureza dos seus votos, comprovava estas percepções.

as ordens mendicantes

Nos finais do século XI novas ordens religiosas com uma essência urbana estavam a formar-se para tentar solucionar as questões citadinas. Os membros destas novas ordens queriam reproduzir a vida dos apóstolos, uma vida simples e focada na pregação e na fé. Eles não só abriam mão de seus bens como viviam uma realidade austera, viajavam de cidade em cidade se sustentando através de doações, vivendo na mendicância, origem do termo “ordens mendicantes” que as designa.

ordens mendicantes | a ordem dos franciscanos

Uma das ordens mais famosas foi fundada por um nobre italiano conhecido como São Francisco de Assis. Os Franciscanos ajudavam os pobres, os doentes e pregavam a fé no evangelho nas cidades. Inicialmente eles não detinham nenhum bem e tinham pouca organização, seguiam algumas regras criadas por seu fundador São Francisco.

ordens mendicantes | a ordem dos dominicanos

Uma outra ordem mendicante eram os Dominicanos, fundada por Domingos Gusmão, um austero espanhol que desejava que a ordem tivesse como objetivo combater a heresia, eram mais organizados que a maioria dos mendicantes com muitas regras. Estudavam doutrinas ortodoxas em espaços ofertados pela própria ordem.

a vivência das ordens mendicantes

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O Encontro de São Domingos e São Francisco de Assis. Por Fra Angelico. Fine Arts Museums of San Francisco, EUA

Os Franciscanos e os Dominicanos tinham a intenção de viver de esmolas e por não estar presos a paróquias ou outras atividades religiosas eram livres para pregar o evangelho pelas ruas, ouvir confissões e ser a Igreja fora da Igreja. Essencialmente, ambas as ordens se percebiam mimetizando Cristo. A escolha por estas condições gerou uma grande popularidade às ordens mendicantes.

A população que percebia a Igreja Católica distante das suas questões necessitava de reforma. O desejo de reforma entre os laicos inspirou outros movimentos religiosos, como os Cátaros e os Valdenses que posteriormente foram considerados heréticos.

o reconhecimento das ordens mendicantes pelo papado

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O Papa aprova os estatutos da ordem dos franciscanos. Por Giotti, 1295-1300. Louvre Paris, FR.

Mais tarde Dominicanos e Franciscanos encontrariam dificuldades para manter seus ideais de pobreza radical. Os mendicantes eram um problema ao papado, pois eram incontroláveis, tinham pouca ou nenhuma hierarquia ou liderança, além disso eram itinerantes. Acreditando que reconhecimento geraria maior controle e obediência a Igreja, o papa Inocêncio III reconhece oficialmente os Franciscanos e os Dominicanos como ordens da Igreja Católica. Após o reconhecimento os Franciscanos passaram a ser mais organizados.

Embora todas as ordens mendicantes fossem proibidas, algumas foram reconhecidas até o final do século XIII.

a popularidade das ordens mendicantes e a critica à igreja católica

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Frades franciscanos diante da heresia ( Cathar Consolamentum), segunda metade do século XIII, Bibliothèque nationale de France

As ordens mendicantes eram de tal forma populares que mesmo proibidas elas permaneciam se multiplicando. À medida que iam se espalhando estas ordens se tornaram gradualmente mais radicalmente críticas a riqueza e ao distanciamento da Igreja Católica. Este movimento desempenhou papel essencial no enfraquecimento do poder papal. Devido a este consequente enfraquecimento, a Igreja passou antagonizar qualquer ameaça herética e passou a tomar medidas enérgicas para evitar dissidência. Inicialmente excomungando e posteriormente se radicalizou ainda mais com a Inquisição que utilizava de tortura e outros meios para identificar hereges, eventualmente a Inquisição encontraria nos Dominicanos uma forte aliança, como mendicantes eles estavam espalhados por todos os lugares e detinham do conhecimento necessário devido ao treinamento e estudo que recebiam da própria ordem, assim estavam capacitados a identificar e refutar pregações heréticas.

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A imagem ilustra o suposto “Milagre do Fogo” dos Dominicanos em seu estágio posterior de desenvolvimento. Dominic Guzmán e os Albigenses, 1480, Pedro Berruguete Museo del Prado. Madri, Espanha

Referências Bibliográficas

BARROS, José D’Assunção. HERESIAS NA IDADE MÉDIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AS FONTES E DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA

FRANCO, José Eduardo. Das Ordens às Congregações Religiosas

Marina Barros Cabral

Marina Barros Cabral

Licenciada em Artes Cênica com habilitação em Indumentária pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e licenciada em ensino de artes visuais pela UNILAGOS. Atuou como educadora artística bilíngue no ensino básico e como compradora de moda. Atualmente cursando Mestrado em História da Arte, Património e cultura visual na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por Artes Visuais, História da arte, filosofia, cultura, estética, património, curadoria e restauro.

Área de concentração Arte medieval e renascentista. Colabora com a Citaliarestauro.com, nas áreas de História da Arte e Estudos Medievais.

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