O isolamento e a solidão nas obras de Edward Hopper

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As obras de Edward Hopper estão entre as que mais gosto. O isolamento, a solidão e, de modo geral, o silêncio de seus quadros, falam muito comigo. Gosto de seus personagens taciturnos, de suas noites, de suas janelas e até de, quando existe, seus céus azuis de doer e um sol que insiste em iluminar sem aquecer.

Edward Hopper

Edward Hopper

Edward Hopper

Nascido em Nova York em 1882, Hopper estudou no Instituto de Artes e Design. A partir de 1906 fez visitas à Europa para completar sua formação.

Até a primeira metade do século XX isso era algo comum entre os artistas, que muitas vezes iam financiados por seus governos, instituições de ensino ou familiares.

Uma vez que conheceu de perto o que estava sendo produzido na Europa, Hopper não se sentiu atraído pelas experiências abstratas que estavam em seu auge, mas se interessou profundamente pelo realismo.

A partir de 1913, ele passou a trabalhar na chamada arte comercial, como ilustrador de revistas, o que fez por cerca de dez anos. Não era o trabalho de seus sonhos, mas com ele, Hopper aprendeu técnicas de composição que levaria para suas pinturas.

Na década de 1920, Hopper estava mais seguro enquanto artista e mais maduro em suas criações.

Casa na Ferrovia

Casa na Ferrovia, Edward Hopper, 1925

Casa na Ferrovia, Edward Hopper, 1925

 

Na década de 1920, Hopper estava mais seguro enquanto artista e mais maduro em suas criações. Com a obra Casa na Ferrovia, de 1925, ele inaugurou um período de intensa produção, em que se destacam a vida urbana estadunidense e cenas rurais.

Em tempo: Casa na Ferrovia inspirou a casa em que Norman Bates morava com sua mãe no filme Psicose (1960), de Alfred Hitchcock.

Obra de Edward Hopper: Notívagos e “o paradoxo do isolamento em meio à visibilidade”

Em suas pinturas contidas, indiferentes e realistas, Hopper evoca uma marcante sensação de alienação urbana, dando ênfase ao que o sociólogo americano Richard Senett chamava de o “paradoxo do isolamento em meio à visibilidade”.

In: Tudo Sobre Arte, org. Stephen Farthing.

 

Notívagos, de Edward Hopper, 1942

Notívagos, de Edward Hopper, 1942

 

Luz fluorescente do lado de dentro, escuridão do lado de fora. O contraste dessa iluminação é uma das primeiras coisas que notamos em Notívagos¹, pintura de 1942.

Nota: Algumas traduções chamam esse quadro de Falcões, ou Falcões da Noite, ou Aves da Noite, que é uma tradução mais literal para Nighthawks, mas chamo Notívagos porque estou adotando a nomenclatura constante na obra Tudo Sobre Arte.
O jogo de luz e sombras é bem definido e dá ao quadro uma caraterística teatral (e um pouco sinistra).

Não há portas visíveis no restaurante, o que transmite uma sensação de encarceramento: os personagens estão isolados e nós, observadores, não podemos nos aproximar.

Notívagos, de Edward Hopper, 1942 detalhe

Notívagos, de Edward Hopper, 1942 detalhe

 

Nosso olhar é conduzido, quase de imediato, para o trio: o homem de chapéu e a mulher de vermelho, e o balconista.

Os clientes têm as mãos próximas, no entanto, não interagem. Embora eles estejam lado a lado, poderiam ser estranhos, e ainda que sejam íntimos, nesse momento, cada um se encontra absorto em seu próprio pensamento. O balconista, por sua vez, observa a frente da loja escura do outro lado da rua, em que só é possível divisar uma caixa registradora.

Notívagos, de Edward Hopper, 1942 detalhe

Notívagos, de Edward Hopper, 1942 detalhe 

 

Um terceiro cliente, um homem, está de costas está em uma meia sombra, mais isolado que os demais, oculto pela própria pintura. A presença desse homem sem rosto, marcado pelo anonimato, é um dos elementos mais importantes do quadro, pois salienta a sensação de que o pequeno universo do restaurante é completamente impenetrável.

Edward Hopper: a solidão e o isolamento

A maioria das obras de Edward Hopper toca, de uma forma ou de outra, nas questões da solidão e do isolamento. Da falta de interação. Do pouco contato.

Muitas das pinturas são de casas e janelas que dão só uma sensação de que não há ninguém há muito, e ao mesmo tempo, que alguém se move na ponta dos pés para não atender a quem vem de fora.

Perto do final dos anos 40, o Expressionismo Abstrato deixa Hopper um pouco isolado (ou ele mesmo se isola?), porque é um tipo de arte bem diferente do realismo.

No entanto, mais tarde, com a Pop Art, sua arte se tornou uma referência.

Edward Hopper morreu em 1967, e sua esposa, Jo Nivison, doou parte do trabalho dele ao Whitney Museum.

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Rute-Ferreira

Rute Ferreira

Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com.  Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.

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