O neoclassicismo designa um movimento cultural surgido na Europa a partir de meados do Sec. XVIII perdurando até às primeiras décadas do Sec. XIX. Como é comum na história da arte, o estilo que sucede a um outro nasce, precisamente,com o propósito de se opor ao seu antecessor, ou seja, apresentar uma proposta estética diferente.
Texto por Diana Ferreira
Neste artigo ficará a conhecer:
- surgimento do neoclassicismo
- edifícios neoclássicos
- em França
- em Inglaterra
- caraterísticas do neoclassicismo
Surgimento do neoclassicismo
O surgimento do neoclassicismo prende-se com um cansaço do fausto relativo ao exagero ornamental do Barroco e do Rococó, que conduziu à reação neoclássica, retornando às formas austeras da Antiguidade.
Em linhas claras, rigorosas e elegantes de corpos compactos, já conhecidos do Renascimento, o fascínio sobre as construções clássicas era notório e passou a ser considerado exemplo de arte superior e a seguir.
Aliados à época do Iluminismo, que se orientava estritamente pela razão, os arquitetos estavam convencidos que era possível influenciar os homens através das formas arquitetónicas, motivando-os a uma atitude guiada pela razão e pela moral.
Baseados nelas, os arquitetos erigiram edifícios harmoniosos e racionais, influenciados pelas regras arquitetónicas e matemáticas da Grécia Antiga, assim como, pelos escritos de Vitrúvio.
Para a admiração das formas passadas, grande importância tiveram os desenhos publicados dos templos gregos e os escritos do arqueólogo alemão Johann Joachim Winckelmann sobre as escavações realizadas em Herculano (1738) e Pompeia (1748). Estas cidades soterradas pelo Vesúvio no sul de Itália, originaram um gosto e fascínio pela antiguidade romana, tornando Roma no local de encontro de artistas do neoclassicismo e originando o nascimento da arqueologia.
As obras de arte reencontradas levaram curiosos a Pompeia, Herculano e Paestum, e a Grécia e o Egipto causaram também entusiasmo por parte dos artistas.
Edifícios neoclássicos
Em França
A influência destas descobertas é notória no primeiro edifício deste estilo a ser projetado em França.
A igreja dedicada a Sta. Genoveva (padroeira de Paris), foi construída entre 1764-1790 com o traço de Jacques-Germain Soufflot, e inspirada no Panteão de Roma, na sua linguagem, fachada e cúpula, e convertida em Panteão Nacional, após a Revolução em 1791.
Igreja dedicada a Sta. Genoveva | convertida em Panteão Nacional https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pantheon_of_Paris_007.JPG
Igualmente de traço romano temos, na mesma cidade, a Igreja da Madeleine (1806-42), de Barthélemy Vignon.
Destinada a comemorar as vitórias de Napoleão, e nitidamente influenciada nos templos romanos, assim como o Arco de Triunfo da Étoile (1806-36), também em Paris.
Igreja da Madeleine (1806-42)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_la_Madeleine#/media/File:Iglesia_de_la_Madeleine.jpg
Arco de Triunfo da Étoile (1806-36)
Em Inglaterra
Observa-se uma forte influência no arquiteto italiano maneirista Andrea Palladio, que teve em Robert Adam (arquiteto e decorador) o seu principal representante.
Autor de várias residências privadas em Londres como a Wynn House (em Saint James Square), Home House (em Portman Square) e a Portland Place, entre muitas outras.
Wynn House (em Saint James Square)
Caraterísticas do neoclassicismo
Utilizaram os elementos construtivos clássicos (colunas, ordens e entablamentos) e adaptaram este estilo antigo às necessidades do seu tempo, conciliando-o com os novos sistemas construtivos, maquinarias e materiais.
A cultura substitui o culto, criando novas tipologias encomendadas pelo estado.
Hospitais, museus, bibliotecas, escolas, cafés, teatros, óperas, bolsas, bancos, repartições públicas e sedes de governo, apresentavam fachadas semelhantes aos templos da antiguidade em edifícios de grandes dimensões, deixando praticamente de construir igrejas e palácios e cingindo-se à função pública de encomenda estatal.
A decoração era discreta e reduzida ao mínimo, em edifícios austeros e rigorosamente simétricos, de fachadas longas onde predominava o eixo central e a forte horizontalidade, reforçada pelos telhados retilíneos coroados por urnas ou esculturas e pela ausência de torres e cúpulas, onde ao contrário dos templos gregos a fachada não era pintada.
Os relevos revestiam frontarias de edifícios públicos e privados, copiando as formas de representação dos modelos clássicos, com roupagens e poses semelhantes às dos deuses.
No interior, pinturas murais e relevos em estuque, influenciados pelas casas de Pompeia e Herculano, decoravam as estruturas.
Utilizaram materiais nobres como o mármore, o granito e a madeira, entre alguns modernos como o ladrilho cerâmico e o ferro fundido, em plantas de formas geométricas baseadas no quadrado e no círculo e com jardins à francesa (geométricos) e à inglesa (simulação da natureza no seu estado natural, irregular e espontâneo) que eram o remate final para a unidade pretendida na arquitetura do século das Luzes.
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Diana Ferreira
Licenciada em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e mestre em Museologia em Espanha (Valladolid).
Trabalhou na Galleria Nazionale d’Arte Moderna di Roma e na direção da Galleria dos Uffizi, em Florença.
Bolseira diversas vezes com projetos de estudo e trabalho em Itália e Espanha, foi formadora e professora responsável pela disciplina de História da Arte no Porto, e de Introdução à História da Arte, Iconografia e História da Arquitetura, na Academia de Arte em Florença.
Em 2014 publicou o livro Guia dos Tesouros Arquitetónicos. Lisboa, Chiado Editora, 2014, fruto de uma investigação aprofundada sobre os temas.