No século XIX, estando a fotografia ainda a despertar, surge inesperadamente Julia Margaret Cameron, que aos 48 anos descobriu este meio de registo de imagem, apaixonando-se obcecadamente por ele, tornando-se num marco na história da fotografia.
A sua personalidade determinada e o seu espírito empreendedor colocaram-na entre os melhores fotógrafos da época, deixando-nos um espólio fotográfico brilhante e único.
Imagem de capa – The Kiss of Peace, The J. Paul Getty Museum, 1869.
Breve biografia de Julia Margaret Cameron
Julia Margaret Cameron (1815-1879) nasceu em Calcutá, na Índia.
Embora tenha sido educada na França até à idade de 19 anos, regressou à Índia em 1838, onde casou com Charles Hay Cameron, jurista e plantador de chá, um homem 20 anos mais velho que ela.
Em 1848 o casal e os seus filhos mudaram-se para Inglaterra, integrando-se na vida intelectual e artística de Londres.
Quando já contava com 48 anos de idade, Julia Cameron recebeu de sua filha uma máquina fotográfica. Mal sabia ela, que aquele presente iria modificar a sua vida para sempre, passando a dedicar-se à fotografia de corpo e alma.
Com a ajuda do seu amigo e mentor, Sir John William Herschel, rapidamente adquiriu o domínio do processo do colódio húmido, começando assim a sua carreira fotográfica. Transformou um galinheiro num improvisado laboratório e em estúdios algumas dependências da sua casa.
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As fotografias de Julia Margaret Cameron
Julia Margaret Cameron começou rapidamente a desenvolver um estilo fotográfico distinto, original e invulgar para a fotografia que se fazia na época.
As suas fotografias caracterizam-se pelos longos tempos de exposição, a falta de nitidez provocada por um ligeiro desfoque, a supressão de detalhes, as manchas provocadas pelo modo irregular de como aplicava o colódio húmido e pela utilização do simbolismo da iluminação.
Todos estes elementos contribuíram para aumentarem a carga de emoção das suas imagens.
Pode-se considerar que a obra fotográfica de Julia Margaret Cameron se divide em duas categorias: os retratos em close-up e as cenas alegóricas baseadas em obras religiosas e literárias (míticas e lendárias).
Os retratos
Usufruindo de uma posição privilegiada na sociedade e de uma estreita ligação com o mundo da arte e da literatura, Cameron teve a oportunidade de fotografar pessoas influentes da época, tais como, Sir John William Herschel, Alfred Lord Tennyson, Charles Darwin, John Everett Millias e William Michael Rossetti.
Os retratos são na sua maioria fotografados de perto incluindo apenas o rosto do retratado, por vezes com um olhar distante sugerindo uma necessidade de privacidade.
O retratado ao mesmo tempo parecia nobre, virtuoso e pensativo.
A iluminação era fenomenal, a luz suave iluminando o perfil do rosto subtilmente, acentuava delicadamente as características faciais.
Cameron ao fotografar as celebridades vitorianas, os seus amigos, familiares, crianças, vizinhos e empregados, conduzia-os a uma introspeção psicológica, para captar-lhes assim, a essência das suas almas e as suas personalidades.
Como fotografava as mulheres
As mulheres eram fotografadas por Cameron de uma forma íntima e pessoal, evidenciando os ideais do papel de mulher como mãe e esposa.
Contudo, o facto de muitas das suas figuras aparecerem fora de foco e de cabelos soltos sugere que Cameron desejava emancipar a mulher, sendo uma defensora da dignidade e da independência destas, contribuindo assim, para mudanças na sociedade vitoriana.
Nas suas imagens salienta-se a preocupação estética, estas eram carregadas de emoção, fruto dos gestos, das expressões dos retratados e da iluminação dramática utilizada.
As cenas alegóricas
As cenas alegóricas representam a outra metade do trabalho de Julia Margaret Cameron.
Nestas é notória a influência pré-rafaelista, nas quais dava asas à sua imaginação e criatividade, recriando cenas teatrais, dispondo as pessoas que seriam fotografadas, como um pintor faria com os personagens dos seus quadros.
As imagens representavam cenas históricas ou cenas de obras literárias, sendo feitas com o intuito de parecerem pinturas a óleo, que incluíam uma riqueza de detalhes, como os trajes históricos, a decoração e os adereços.
Cameron pretendia criar grandes fotografias com as qualidades subtis de luz e sombra que ela admirava na pintura.
As fotografias de Julia Margaret Cameron
Julia Cameron fez todos os esforços para promover a fotografia, tornando-se membro das sociedades fotográficas de Londres e da Escócia.
Tentou dar um novo estatuto à fotografia, elevando-a à categoria de arte, rompendo assim, com o paradigma da fotografia convencional.
O seu estilo não era apreciado por alguns artistas da época, tendo sofrido muitas críticas, chegando a ser ridicularizada.
Contudo, o seu entusiasmo pela fotografia e o apoio incondicional da família e amigos deram-lhe a força necessária para continuar com o seu trabalho, tornando-se num dos mais prolíferos e avançados amadores do seu tempo.
Certa vez Cameron comentou:
“Eu ansiava por prender toda a beleza que viesse até mim, e por fim o desejo foi satisfeito”.
Julia Margaret Cameron considerava a fotografia a “arte divina”.
A sua carreira fotográfica foi curta, abrangendo apenas 11 anos da sua vida, no entanto foi pioneira na evolução da fotografia artística, sendo o seu trabalho inovador, ficando muito à frente do seu tempo.
Faleceu em 1879, mas o seu trabalho continua a fazer parte dos retratos mais conhecidos da história da fotografia.
Cada um de nós olha para o mundo circundante de uma maneira única e incomparável. Julia Margaret Cameron é um exemplo notável dessa forma única de olhar o mundo, transpondo-o para as suas fotografias.
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Bárbara de Castro Ferreira
Licenciada em Conservação e Restauro. Curso de Fotografia de Longa Duração, pelo IADE-Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing. Técnica de Gestão e Recuperação de Jardins Históricos e Espaços Verdes. Trabalho na recuperação e manutenção de jardins históricos. Vários prémios e exposições em Fotografia com trabalhos editados.
5 Comentários.
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