A obra de Josefa de Óbidos reveste-se de pormenores de graciosidade e encanto. Tanto nas suas naturezas mortas como nas obras de pintura religiosa esta pintora do barroco português marca a diferença nos pequenos detalhes.

Vamos conhecer um pouco mais sobre esta pintora do sec. XVII cuja obra foi aceite e reconhecida no seu tempo. Para além das pinturas de naturezas mortas e religiosas, Josefa d’Óbidos realizou igualmente gravuras em metal.
Nota Biográfica de Josefa de Óbidos
Os dados biográficos de Josefa d’Ayalla são escassos. A maioria dos autores consultados aponta o seu nascimento para cerca de 1630, em Sevilha e a sua morte para 1684, em Óbidos. Filha de pai português e mãe espanhola, a pintora devia encontrar-se já em Portugal no ano de 1636. Em Óbidos, local onde residiu a maior parte da sua vida, desenvolveu a sua atividade pictórica.
Num ambiente pouco próprio ao desenvolvimento das belas artes plásticas, Josefa de Óbidos levou a cabo uma vasta produção aceite com agrado pelos seus contemporâneos, recebendo encomendas diversas. Trabalhou para diversos conventos e igrejas e como retratista da família real.
Este fator faz com que ainda hoje muitas das suas obras estejam dispersas por igrejas e coleções particulares.
Esta pintora, que assinava a maioria dos quadros Josefa de Óbidos , Josefa de Ayalla , Josefa d’Óbidos ou, simplesmente Óbidos.
Fez também gravuras, duas das quais (Santa Catarina e São Pedro, realizados em Coimbra) teriam constituído a sua iniciação nas artes plásticas.
Josefa de Óbidos e o Contexto Cultural da Península Ibérica no Séc. XVII
Para compreender a obra de um pintor é necessário integrá-la no contexto cultural em que ela se insere. No caso concreto de Josefa de Óbidos, esta integração deve ser feita não só no contexto português mas também no âmbito mais vasto das condições culturais peninsulares. Ao olharmos para os quadros de Josefa de Óbidos temos ainda de refletir sobre a pintura barroca em Portugal e o seu contexto “periférico” relativamente à arte produzida além-Pirinéus.

Agnus Dei Francisco de Zurbarán, c1635 40, Museu do Prado
No séc. XVII, Portugal viveu a inserção na coroa castelhana com todas as consequências a nível da cultura que estão subjacentes a esta situação. Não devemos, no entanto, estabelecer uma relação direta entre perca de independência e “castelhanismo” da cultura portuguesa uma vez que o bilinguismo e a própria interação cultural, já antes de 1580, estavam presentes, sobretudo nos meios ligados à corte. A anexação de Portugal por Castela não fez mais que acentuar estes fatores relegando a produção literária e artística realizada em Portugal para um certo provincianismo.
Os autores portugueses do séc. XVII, como D. Francisco Manuel de Melo, escreveram tanto em português como em castelhano. Estudiosos deste autor apontam muitas vezes para a identificação das suas ideias com as de escritores espanhóis.

Natureza morta Francisco de Zurbaran, 1633, Norton Simon Museum, Pasadena, CA, US
Do mesmo modo, tende-se a ver, nas obras de Josefa de Óbidos, a influência da pintura espanhola . É particularmente apontada a influência dos “bodegones” de Sevilha como Sanchez Cottan e Francisco Zurbarán.
Bodegón – designa o termo de pintura de natureza morta na arte espanhola. Pode saber mais sobre os bodegones na arte espanhola do sec. XVII neste vídeo.
A pintura de Josefa de Óbidos integra-se no panorama específico da cultura portuguesa do séc. XVII: uma ampla influência da cultura castelhana que se interpenetra com a especificidade cultural do nosso país.
Vamos de seguida ver as particularidades da obra de Josefa de Óbidos expressa nos pequenos detalhes.
Josefa de Óbidos – a influência espanhola e a especificidade da pintora
A pintura de Josefa d’Ayalla integra-se, como referido, no panorama da pintura ibérica de seiscentos. Marcado por uma posição periférica, mesmo provinciana, de Portugal relativamente à arte europeia do mesmo período.
A influência da produção artística espanhola é notória ao nível das temáticas e do tratamento formal das mesmas. Mas olhemos para algumas pinturas.

Josefa de óbidos cordeiro-pascal-1670
Neste Agnus Dei de Josefa d’Óbidos o tratamento formal é muito similar às pinturas dedicadas à mesma temática na arte seiscentista ibérica. No entanto, a austeridade é quebrada pela introdução de elementos decorativos florais. O Cordeiro de Deus, mantendo-se como elemento central, é emoldurado por flores e folhas coloridas.
Vamos olhar de seguida para as caraterísticas particulares das naturezas mortas e da pintura religiosa de Josefa de Óbidos.
2 Comentários.
Muito bom texto! Obrigado por o colocares aqui.educheapessay
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