O pintor Gustave Courbet, figura central do realismo, é conhecido pelas suas pinturas em que revela a verdadeira vida de camponeses e trabalhadores comuns, numa época em que os retratos mais aceites eram os de heróis mitológicos ou cenas religiosas.
Embora retratando o que viu com intenso realismo, politicamente falando Courbet era um idealista e um visionário.
Uma das suas atividades políticas mais importantes tem a ver com a Comuna de Paris.
Conheça este artista que transgrediu as normas da sua época.
Imagem de capa – Gustave Courbet – O Desesperado, 1877.
Gustave Courbet
Gustave Courbet nasceu em França em 1819.
Começou a estudar arte muito cedo e, a partir do final da década de 1840, tornou-se um artista respeitado e admirado.
A sua arte era um desafio, já que a sociedade conservadora não queria ver retratos de pessoas comuns. Mas isso não importava.
O seu plano era um só: pintar apenas o que via, registar o que estava à sua frente.
A situação política em França
Durante o período mais intenso de produção de Courbet, a situação política em França não estava muito calma.
Em 1870, sob o comando de Napoleão III (sobrinho de Napoleão Bonaparte), a França entrou em guerra contra a Prússia. O reino prussiano então aliou-se aos outros estados alemães e invadiu a França, que enfrentou várias derrotas, até que Napoleão se rendeu.
Um governo republicano foi estabelecido no mesmo ano. Extremamente conservador, a sede deste governo mudou-se de Paris para Versalhes.
Como reação, em 1871, surgiu a Comuna de Paris, movimento social que exigia a reforma da economia, a partir de uma forma de governo que era, como o nome sugere, comunal.
Mas o que Gustave Courbet tem a ver com tudo isso?
Desde o início do reinado de Napoleão III, em 1851, Courbet já era considerado um artista que transgredia as normas.
A sua pintura foi considerada uma afronta, pois ele não apenas usou pessoas comuns como tema, mas também retratou as falhas da elite, a sua corrupção e sua moralidade distorcida.
Com a derrota do imperador, Courbet desempenhou um papel significativo na vida política de Paris. Em 1871, ele escreveu numa carta à família:
Estou, graças ao povo de Paris, com a política até ao pescoço […] Paris é um verdadeiro paraíso!
Sem polícia, sem disparates, sem acusações de qualquer tipo, não importa o que aconteça, tudo em Paris funciona como um relógio, oh, se pudesse ficar assim para sempre.
Ele desempenhou muitas funções como membro da Comuna, foi representante da prefeitura e representante do Ministério da Educação Pública. Courbet disse que Paris era um “lindo sonho”.
Mulheres Peneirando Trigo
Este lindo sonho foi baseado nas medidas que os communards implementaram: as manufaturas foram transferidas para cooperativas populares, edifícios vagos foram requisitados para habitação e a proposta de que os altos funcionários do governo recebessem salários iguais aos de um trabalhador comum.
Além disso, pretendiam iniciar um programa de educação política para que o povo se pudesse autogovernar.
Gustave Courbet também formou a Federação dos Artistas, cujo principal objetivo era declarar um manifesto que clamava pela liberdade de expressão e igualdade, bem como pelo fim da interferência do governo nas artes. Foi um projeto audacioso.
O fim do sonho
Infelizmente, o sonho não durou muito.
Em maio do mesmo ano, o exército francês invadiu Paris. A cidade foi bombardeada, várias áreas foram queimadas. Milhares de parisienses foram mortos ou presos.
Courbet, é claro, estava entre eles. Ele foi preso, passou seis meses na prisão. Quando saiu, não tinha mais nada. A sua casa foi confiscada. O pintor não tinha dinheiro, não tinha casa e viu apenas um pesadelo terrível.
Incapaz de viver em paz em França, correndo o risco de ser novamente preso, o pintor realista foi morar na Suíça, em exílio voluntário. Aí permaneceu até à sua morte em 1877. Um final realista para o que foi um lindo sonho.
Swiss Landscape with Flowering Apple Tree, 1876
Rute Ferreira
Sou professora de Arte, com formação em Teatro, História da Arte e Museologia. Também sou especialista em Educação à Distância e atuo na educação básica. Escrevo regularmente no blog do Citaliarestauro.com e na Dailyartmagazine.com. Acredito firmemente que a história da arte é a verdadeira história da humanidade.
1 Comentário.
[…] através das pinturas de Théodore Rousseau (1812-1867), de Jean-François Millet (1814-1875) ou de Gustave Courbet […]