Há 12000 anos, quando o Saara era Verde: testemunhos da arte rupestre

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Como testemunha a arte rupestre há 12,000 anos, no fim da última era glacial, o Saara era uma vasta savana percorrida por grandes manadas de animais, com lagos e peixes espalhados em toda a sua extensão, e ponteados de pequenas comunidades seminómadas e pastorícias.

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Por Manuela Tenreiro, curso online Arte Africana.

A arte rupestre da região é de extrema riqueza, e dá-nos a conhecer um cenário inteiramente diferente daquele que hoje conhecemos.

Mas mais que isso: revela uma cultura, agora desaparecida, de comunidades que começavam a desenvolver a domesticação animal e a agricultura.

Wadi Sura

Do lado oriental, em Wadi Sura (Egito) nas montanhas de Gilf Kebir, a arte rupestre faz um verdadeiro registo histórico da vida na região há 8000 anos.

Numa área que agora é escassa em água e onde predominam dunas de areia, a arte rupestre contrapõe cenários repletos de animais, fauna e flora abundante e lagos como, na Caverna dos Nadadores, o ex-líbris de Wadi Sura, onde se veem representadas figuras humanas a nadar.

Gruta dos mergulhadoresGruta dos Mergulhadores, Wadi Sura,

Egito, 8000 anos.

 

 

 

 

 

Período Bubalus

A arte rupestre do Saara registou também, um tempo histórico onde a região era propícia a animais que hoje se encontram apenas na África subsaariana.

Ficaram registados antílopes, rinocerontes, girafas, leões, elefantes, avestruzes, hipopótamos e crocodilos, bem como o já extinto Bubalus, uma espécie selvagem semelhante ao bisonte que desapareceu à cerca de 5000 anos.

Assim, representações de Bubalus determinam a idade (superior a 5000 anos) daquela imagem.

Ao conjunto dessas representações convencionou-se chamar Período Bubalus.

Este período também é caracterizado pela presença de animais de grande porte, em contraste com pequenas figuras humanas.

Petroglifo, Período Bubalus, Petroglifo, Período Bubalus, Tassili n’Ajjer, Argélia.

 

 

 

 

 

 

Período Pastorícioarte africana

O estudo de outros pictogramas e petróglifos espalhados pelo Saara, permitiram a arqueólogos e historiadores de arte construir uma sequência cronológica que nos permite vislumbrar uma cultura que gradualmente desenvolveu capacidades de domesticação animal.

Entre 5000 e 2000 AEC temos o Período Pastorício que corresponde a um período de alterações climáticas e mudanças sociais.

As figuras humanas ganham relevo e entre os animais predominam as grandes manadas de gado, embora ainda apareçam animais selvagens.

Período do Cavalo

Depois vem o Período do Cavalo que inclui imagens de cavaleiros guerreiros e de carruagens.

Lembramos que este é um período em que o Egito já era uma civilização importante.

Período do Camelo

E finalmente, há cerca de 2000 anos, o Período do Camelo quando começam a aparecer por todo a extensão do, agora sim, Deserto do Saara, representações deste animal, assinalando o protagonismo que o Camelo ganhou nas culturas nómadas daquela região transformada.

Saara pintura rupestrePintura rupestre, Período Pastorício (com camelos adicionados num período posterior), na gruta de Manda Guéli, nas Montanhas Ennedi no Chade.

 

 

 

 

 

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Manuela Tenreiro

Doutorada em História da Arte pela School of Oriental and African Studies, linha de pesquisa em Artes e Culturas da Diáspora Africana (2008). Estudou artes visuais e fotografia em São Francisco onde atuou como mediadora no mural Pan-American Unity de Diego Rivera. No Brasil, onde residiu entre 2008 e 2017, criou e editou a publicação cultural bilíngue conTRAmare (2013-2018), e colaborou em projetos editoriais, de arte educação, redação, tradução e pesquisa histórica. No Rio de Janeiro frequentou o Curso de Tradução Literária DBB e o Programa Avançado de Cultura Contemporânea na UFRJ. Em Lisboa desenvolve projetos de tradução, escrita e educação nas áreas de história da arte e das culturas da diáspora africana, vindo também a dedicar-se à aprendizagem de ferramentas para a execução de projetos na área das humanidades digitais.

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