Coimbra – uma visita guiada a uma cidade com um património surpreendente

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Coimbra – uma cidade com imenso património histórico!

A Biblioteca Joanina está longe de ser a única atração desta surpreendente cidade: há muitos outros monumentos que merecem uma visita cuidada e atenta!


 

Coimbra

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Além de vinhos fabulosos, comida de excelência, praias atlânticas, parques naturais e aldeias típicas, a região do Centro de Portugal, e em particular a cidade de Coimbra, tem um património histórico incrível!

Todos os anos milhares de turistas visitam a Sala dos Capelos e ficam fascinados com as requintadas estantes de madeira exótica decoradas a folha de ouro da Biblioteca Joanina, fundada por ordem do rei D. João V, em 1717. Se bem que os painéis de azulejos e o órgão de tubos da Capela de São Miguel sejam verdadeiramente impressionantes, Coimbra não se resume aos edifícios da antiga Universidade. Há ainda muito mais para ver!

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O Museu Machado de Castro

O Museu Machado de Castro é um dos melhores museus portugueses: está instalado na antiga residência do bispo de Coimbra, muito perto dos edifícios da antiga Universidade. Esteja preparado para passar pelo menos uma hora e meia no Museu pois as coleções de escultura medieval e renascentista são fabulosas e os núcleos de pintura religiosa, cerâmica portuguesa, mobiliário e joalharia são impressionantes!

A Deposição no Túmulo

Além do Cálide de Gueda Mendes, produzido no século XII, ou do Tríptico da Paixão de Cristo, da autoria do pintor flamengo, Quentin Metsys, realizado entre 1514 e 1517, a Deposição no Túmulo de João de Ruão é outra das grandes atrações deste Museu.

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No século XVI, influenciada pelas tendências artísticas italianas, Coimbra tornou-se num importante e dinâmico centro de arte renascentista em Portugal, cruzando-se na cidade artistas franceses, espanhóis, flamengos e alemães que consigo traziam novas influências.

Entre eles destacaram-se os escultores João de Ruão e Nicolau de Chanterene.

Neste conjunto escultórico feito em pedra de Ançã – um tipo de pedra calcária famosa pela sua qualidade e elasticidade – vemos Nicodemos (à esquerda) e José de Arimateia (à direita) – ambos judeus e seguidores de Jesus – a depositar o corpo de Cristo morto sobre o Santo Sudário ou mortalha no túmulo, após a sua crucifixão.

Assistem de pé à cena São João Evangelista (à esquerda) que ampara a Virgem Maria, com as mãos unidas e a cabeça coberta, a qual é ladeada pelas duas Santas Mulheres. A última figura, mais afastada, à direita, é Maria Madalena. Por cima, dois anjos enquadram a cena segurando um lençol que forma uma espécie de dossel. São notórios os sentimentos de angústia, compaixão, resignação e arrependimento contidos nos rostos das personagens que observam esta cena.

Uma verdadeira obra-prima!

O criptopórtico romano

O Museu Machado de Castro esconde também outra surpresa fabulosa: por debaixo do edifício encontrará o criptopórtico de dois andares que suportava o peso do antigo forum romano da cidade de Aeminium (atual Coimbra). Foi construído durante o governo do Imperador Cláudio (41-54 d.C.).

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O criptopórtico era essencialmente um complexo sólido e robusto de galerias abobadadas subterrâneas que sustentava o peso do edifício que estava por cima, podendo ser utilizado também para armazenar produtos perecíveis.

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Os romanos na Península Ibérica

Os romanos provenientes da Península Itálica invadiram a Península Ibérica há mais de dois mil anos em busca de metais preciosos – como o ouro, o estanho e o cobre – e de mais terras para cultivar produtos que pudessem ser exportados para as restantes regiões do seu vastíssimo Império através das vias fluviais, marítimas e terrestres.

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Por quase todas as regiões por onde passaram e as quais colonizaram os romanos introduziram o latim como a língua oficial da administração pública, e – como excelentes engenheiros que eram – construíram pontes, estradas e aquedutos, exploraram minas, fundaram e desenvolveram cidades nas quais o forum era o centro cívico, administrativo, social e religioso por excelência.

Conheça a arquitetura do Grande Império Romano.

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No forum – localizado por norma no cruzamento de duas estradas fundamentais em qualquer cidade romana, o cardus (orientação N/S) e o decumanus (orientação E/O) – reuniam-se os cidadãos e os estrangeiros, concluíam-se negócios, realizavam-se compras nas várias lojas existentes ou prestava-se o culto no Templo.

Este criptopórtico, construído como plataforma artificial para contrariar o declive da colina, é, atualmente, o edifício romano melhor preservado em Portugal e percorrendo as suas várias galerias encontrará alguns bustos de importantes personagens romanas como os Imperadores Vespasiano (69-79 d.C.) ou Trajano (98-117 d.C.).

A Sé Velha de Coimbra

Após a visita ao Museu Machado de Castro recomendo-lhe que inicie o seu passeio a pé pelo centro histórico, descendo a encosta até encontrar uma das ruas mais comerciais da cidade, a rua Ferreira Borges, situada na atual Baixa.

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Na sua caminhada passará por outro monumento notável: a Catedral de Coimbra, um templo de três naves, de estilo românico e gótico e de influência francesa, com uma fachada robusta e um aspeto militar. Foi construída entre 1129 e 1220 e um dos seus arquitetos foi o mestre Roberto, proveniente possivelmente da Normandia (região do norte de França).

No século XVIII, a sede episcopal foi transferida para a Sé Nova, uma igreja que tinha sido construída no século XVI em estilo maneirista, ficando a atual Catedral de Coimbra conhecida como Sé Velha.

Coimbra Sé Velha

Entre as atrações deste templo destacam-se:

1) os azulejos hispano-mouriscos com a representação de padrões geométricos que revestem as paredes interiores e que foram encomendados às oficinas de oleiros de Sevilha, em 1503;

2) a Capela de São Pedro, com o famoso retábulo em pedra esculpido por Nicolau de Chanterene (1526);

3) a Capela do Sacramento, da autoria de João de Ruão (1566);

4) e finalmente, o fabuloso retábulo em talha dourada do altar-mor!

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D. Jorge de Almeida

Quer o conjunto de azulejos quer o retábulo do altar-mor foram encomendados pelo bispo de Coimbra, D. Jorge de Almeida (1483-1543), um verdadeiro mecenas de arte!

D. Jorge estudou em Pisa e Perugia, em Itália, onde também foi embaixador do rei D. João III em Roma, junto do Papa. Manteve correspondência com Lourenço de Médicis (1449-1492), um dos grandes mecenas do Renascimento italiano e protetor de artistas como Miguel Ângelo, Sandro Botticelli ou Domenico Ghirlandaio. D. Jorge de Almeida foi, assim, um dos grandes responsáveis pela introdução do estilo artístico renascentista em Coimbra e o seu túmulo encontra-se na Capela de São Pedro, na Sé Velha.

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O retábulo

Realizado entre 1498 e 1502 pelos artistas flamengos Olivier de Gand e Jean d’Ypres, numa altura em que Portugal era fortemente influenciado pelas correntes artísticas provenientes da Flandres (atuais Bélgica e Holanda), o retábulo em talha dourada apresenta as estátuas dos quatro evangelistas (São Lucas, São João, São Mateus e São Marcos) juntamente com a representação de temas bíblicos como a Adoração dos Pastores e a Ressurreição de Cristo.

Ao centro, é representada a Assunção da Virgem ladeada por de São Pedro e São Paulo, São Cosme e São Damião. Simplesmente soberbo!

Coimbra retábulo

Ao sair da Catedral contorne o edifício pela sua direita e não deixe de admirar a Porta Especiosa, da autoria de João de Ruão (1500-1580), escultor e arquiteto francês que se fixou em Coimbra numa altura em que, como já foi referido, a cidade se tornou num centro importantíssimo de arte renascentista.

Coimbra porta especiosa

Financiada por D. Jorge de Almeida e feita em pedra calcária, em 1530, a Porta Especiosa é uma obra preciosa que se inspira nos antigos arcos triunfais da época romana e que combina elementos cristãos (o medalhão da coroação da Virgem com o Menino por cima da porta de entrada) com referências à cultura greco-latina (a representação de Ganimedes, jovem troiano por cuja beleza Zeus, rei dos deuses gregos, se enamorou).

A Igreja e o Mosteiro de Santa Cruz

 Continue a sua caminhada pelo núcleo histórico de Coimbra, passe pela Torre de Almedina, uma das entradas da antiga cidade medieval muralhada, e vire à direita quando finalmente encontrar a rua Ferreira Borges.

Coimbra rua

Se continuar a caminhar no sentido oposto ao rio Mondego encontrará no final da rua a Igreja e o Mosteiro de Santa Cruz, célebres por abrigarem, no altar-mor da igreja, os túmulos renascentistas de D. Afonso Henriques e D. Sancho I, primeiro e segundo reis de Portugal, respetivamente.

No século XII, Coimbra tornou-se na cidade mais importante do Reino de Portugal e a base a partir da qual D. Afonso Henriques lançou ataques contra os muçulmanos que dominavam as regiões situadas a sul do rio Mondego. Com o final da Reconquista Cristã, em 1249, Lisboa tornou-se, a partir de 1255, na cidade mais relevante do Reino, substituindo Coimbra.

Coimbra Santa Cruz

A construção e as renovações

Ocupada pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e financiada por D. Afonso Henriques, a sua construção começou em 1131 e, quer a Igreja quer o Mosteiro, passaram por várias renovações ao longo dos séculos, em particular durante os reinados de D. Manuel I (1495-1521) e de D. João III (1521-1557).

Durante os 2 reinados:

Durante este período de tempo são construídos: os dois túmulos reais, atrás mencionados; o portal de entrada renascentista da Igreja e o seu púlpito, executados por Diogo de Castilho, Nicolau de Chanterene e João de Ruão (também responsável pelo claustro da Manga); e o novo claustro do Silêncio e a Capela de São Teotónio, da autoria de Marcos Pires, arquiteto que substituiu o mestre Boytac na campanha de renovação.

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O interior da Igreja

No interior da Igreja destacam-se, para além do órgão de tubos do século XVIII:

A sacristia

1) a fantástica sacristia, de 1622, com o teto de caixotões octogonais e os azulejos azuis, amarelos e brancos ditos “de tapete” que revestem as paredes, como em cima observamos;

O cadeiral

2) e o soberbo cadeiral em talha dourada do coro alto executado pelo escultor flamengo Machim, em 1531, no qual são visíveis a representação do brasão de armas real, elementos vegetalistas como alcachofras, ou elementos manuelinos como a esfera armilar (o símbolo do poder e da grandeza de D. Manuel I) e a cruz da Ordem Militar de Cristo.

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Termine a sua visita bebendo tranquilamente um café no Santa Cruz, um dos mais famosos Cafés da Baixa de Coimbra, instalado numa antiga dependência do Mosteiro e inaugurado em 1923!

Do autor

Nuno Alegria

Nuno Alegria

Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, pós-graduado em História Contemporânea pela Faculdade de Letras de Coimbra e em Tour Guiding pelo Instituto de Novas Profissões (INP). Guia-Intérprete oficial, fluente em inglês, francês e espanhol, trabalha para a Parques de Sintra e para diversas agências de viagens realizando circuitos turísticos culturais por museus e monumentos de todo o país.

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