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A Sé Velha de Coimbra
Após a visita ao Museu Machado de Castro recomendo-lhe que inicie o seu passeio a pé pelo centro histórico, descendo a encosta até encontrar uma das ruas mais comerciais da cidade, a rua Ferreira Borges, situada na atual Baixa.
Na sua caminhada passará por outro monumento notável: a Catedral de Coimbra, um templo de três naves, de estilo românico e gótico e de influência francesa, com uma fachada robusta e um aspeto militar. Foi construída entre 1129 e 1220 e um dos seus arquitetos foi o mestre Roberto, proveniente possivelmente da Normandia (região do norte de França).
No século XVIII, a sede episcopal foi transferida para a Sé Nova, uma igreja que tinha sido construída no século XVI em estilo maneirista, ficando a atual Catedral de Coimbra conhecida como Sé Velha.
Entre as atrações deste templo destacam-se:
1) os azulejos hispano-mouriscos com a representação de padrões geométricos que revestem as paredes interiores e que foram encomendados às oficinas de oleiros de Sevilha, em 1503;
2) a Capela de São Pedro, com o famoso retábulo em pedra esculpido por Nicolau de Chanterene (1526);
3) a Capela do Sacramento, da autoria de João de Ruão (1566);
4) e finalmente, o fabuloso retábulo em talha dourada do altar-mor!
D. Jorge de Almeida
Quer o conjunto de azulejos quer o retábulo do altar-mor foram encomendados pelo bispo de Coimbra, D. Jorge de Almeida (1483-1543), um verdadeiro mecenas de arte!
D. Jorge estudou em Pisa e Perugia, em Itália, onde também foi embaixador do rei D. João III em Roma, junto do Papa. Manteve correspondência com Lourenço de Médicis (1449-1492), um dos grandes mecenas do Renascimento italiano e protetor de artistas como Miguel Ângelo, Sandro Botticelli ou Domenico Ghirlandaio. D. Jorge de Almeida foi, assim, um dos grandes responsáveis pela introdução do estilo artístico renascentista em Coimbra e o seu túmulo encontra-se na Capela de São Pedro, na Sé Velha.
O retábulo
Realizado entre 1498 e 1502 pelos artistas flamengos Olivier de Gand e Jean d’Ypres, numa altura em que Portugal era fortemente influenciado pelas correntes artísticas provenientes da Flandres (atuais Bélgica e Holanda), o retábulo em talha dourada apresenta as estátuas dos quatro evangelistas (São Lucas, São João, São Mateus e São Marcos) juntamente com a representação de temas bíblicos como a Adoração dos Pastores e a Ressurreição de Cristo.
Ao centro, é representada a Assunção da Virgem ladeada por de São Pedro e São Paulo, São Cosme e São Damião. Simplesmente soberbo!
Ao sair da Catedral contorne o edifício pela sua direita e não deixe de admirar a Porta Especiosa, da autoria de João de Ruão (1500-1580), escultor e arquiteto francês que se fixou em Coimbra numa altura em que, como já foi referido, a cidade se tornou num centro importantíssimo de arte renascentista.
Financiada por D. Jorge de Almeida e feita em pedra calcária, em 1530, a Porta Especiosa é uma obra preciosa que se inspira nos antigos arcos triunfais da época romana e que combina elementos cristãos (o medalhão da coroação da Virgem com o Menino por cima da porta de entrada) com referências à cultura greco-latina (a representação de Ganimedes, jovem troiano por cuja beleza Zeus, rei dos deuses gregos, se enamorou).
A Igreja e o Mosteiro de Santa Cruz
Continue a sua caminhada pelo núcleo histórico de Coimbra, passe pela Torre de Almedina, uma das entradas da antiga cidade medieval muralhada, e vire à direita quando finalmente encontrar a rua Ferreira Borges.
Se continuar a caminhar no sentido oposto ao rio Mondego encontrará no final da rua a Igreja e o Mosteiro de Santa Cruz, célebres por abrigarem, no altar-mor da igreja, os túmulos renascentistas de D. Afonso Henriques e D. Sancho I, primeiro e segundo reis de Portugal, respetivamente.
No século XII, Coimbra tornou-se na cidade mais importante do Reino de Portugal e a base a partir da qual D. Afonso Henriques lançou ataques contra os muçulmanos que dominavam as regiões situadas a sul do rio Mondego. Com o final da Reconquista Cristã, em 1249, Lisboa tornou-se, a partir de 1255, na cidade mais relevante do Reino, substituindo Coimbra.
A construção e as renovações
Ocupada pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e financiada por D. Afonso Henriques, a sua construção começou em 1131 e, quer a Igreja quer o Mosteiro, passaram por várias renovações ao longo dos séculos, em particular durante os reinados de D. Manuel I (1495-1521) e de D. João III (1521-1557).
Durante os 2 reinados:
Durante este período de tempo são construídos: os dois túmulos reais, atrás mencionados; o portal de entrada renascentista da Igreja e o seu púlpito, executados por Diogo de Castilho, Nicolau de Chanterene e João de Ruão (também responsável pelo claustro da Manga); e o novo claustro do Silêncio e a Capela de São Teotónio, da autoria de Marcos Pires, arquiteto que substituiu o mestre Boytac na campanha de renovação.
O interior da Igreja
No interior da Igreja destacam-se, para além do órgão de tubos do século XVIII:
A sacristia
1) a fantástica sacristia, de 1622, com o teto de caixotões octogonais e os azulejos azuis, amarelos e brancos ditos “de tapete” que revestem as paredes, como em cima observamos;
O cadeiral
2) e o soberbo cadeiral em talha dourada do coro alto executado pelo escultor flamengo Machim, em 1531, no qual são visíveis a representação do brasão de armas real, elementos vegetalistas como alcachofras, ou elementos manuelinos como a esfera armilar (o símbolo do poder e da grandeza de D. Manuel I) e a cruz da Ordem Militar de Cristo.
Termine a sua visita bebendo tranquilamente um café no Santa Cruz, um dos mais famosos Cafés da Baixa de Coimbra, instalado numa antiga dependência do Mosteiro e inaugurado em 1923!
Do autor
Nuno Alegria
Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, pós-graduado em História Contemporânea pela Faculdade de Letras de Coimbra e em Tour Guiding pelo Instituto de Novas Profissões (INP). Guia-Intérprete oficial, fluente em inglês, francês e espanhol, trabalha para a Parques de Sintra e para diversas agências de viagens realizando circuitos turísticos culturais por museus e monumentos de todo o país.
1 Comentário.
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