Jacobus de Voragine e a “Legenda Áurea”: uma fonte essencial para a iconografia medieval
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Como uma coletânea de vidas de santos moldou séculos de arte e símbolos religiosos na Europa.
Poucos livros exerceram tanta influência na arte cristã como a Legenda Áurea, compilada no século XIII por Jacobus de Voragine. Muito mais do que um simples repositório de histórias piedosas, esta obra tornou-se o manual de referência para artistas, escultores e iluminadores que procuravam representar visualmente as virtudes, milagres e martírios dos santos.
Através das suas narrativas, a Legenda Áurea fixou modelos simbólicos e iconográficos que atravessaram fronteiras e séculos — tornando-se uma chave essencial para compreender a linguagem visual da Idade Média.
A Legenda Aurea de Jacobus de Voragine foi um dos livros mais populares na Idade Média. Apesar de ter sido considerada historicamente questionável a Legenda Áurea é uma das fontes mais importantes para a análise da iconografia cristã e da iconografia medieval e para a análise de obras de arte.
Sobre Jacobus de Voragine
Jacobus de Voragine nasceu em Varazze, perto de Génova (região da Ligúria), cerca dos anos 1226-30. Em 1244, ingressou num convento dominicano.
Reconhecido por toda a região Norte da Itália, assumiu diversos cargos importantes, que culminam na sua nomeação para o arcebispado de Génova, em 1292, posição que manteve até à sua morte, em 1298.
Teve um papel importante no processo de pacificação entre os Guelfos e os Gibelinos, que lhe rendeu a beatificação em 1816, pelo Papa Pio VII.
As obras de Jacobus de Voragine | A Legenda Aurea
Ao longo da sua vida religiosa, escreveu diversos sermões e reflexões sobre os Santos e a Virgem.
Foi autor da CrónicadeGénova e, já na fase final da sua vida, da Legenda Aurea (também conhecida por LombardicaHistoria). Esta última trata-se de uma compilação de histórias das vidas dos santos e mártires, de episódios das vidas de Jesus e da Virgem e informação diversa que concerne os dias santos conforme o ano litúrgico.
Para além destes aspetos a Legenda Áurea reveste-se de uma originalidade ao nível do pensamento pois pensa o tempo nas suas várias dimensões, essa grande questão de todas as civilizações e religiões.
Jacobus de Voragine com a Legenda Aurea em suas mãos. Ottaviano Nelli. Palácio Trinci. Foligno, Itália
A popularidade da Legenda Áurea
O livro tornou-se imensamente popular na era medieval e foi traduzido em diversas línguas, por toda a Europa.
Uma das primeiras traduções foi feita para a língua inglesa, por William Caxton, em 1483.
Gradualmente aumentado ao longo dos anos, o livro servia também de base para diversos artistas medievais, que viam nas descrições dos episódios a inspiração para as suas ilustrações e obras de arte.
Tornou-se assim uma espécie de guião das representações dos santos e, atualmente um auxiliar precioso para a análise da iconografia hagiográfica.
Edição do século XIV da Legenda Áurea, com S. Remy e S. Clóvis
O livro perdeu popularidade na época da Reforma Protestante. Foi considerada como inaceitável a perspetiva pouco historicista das narrações e este foi tido como obsoleto.
A história e a narrativa
De facto, o livro trata-se sobretudo de uma leitura sobre os pontos importantes e inspiradores que servem de base ao ideal Cristão e Católico.
A palavra latina legenda, traduz-se em leitura, no sentido de algo que deve ser lido. Assim, e como explica o historiador alemão Heinrich Gunter, a Legenda inclui factos que são historicamente genuínos, mas de par com uma narrativa cuja função se resume à comemoração dos nomes santos, num sentido pedagógico.
A Legenda Aurea de Jacobus de Voragine como fonte iconográfica
Apesar de ter sido considerada historicamente questionável, a leitura dos episódios das vidas dos santos continuou a servir de base aos artistas, que não dispensavam as narrações nas suas ilustrações e na criação de grandes obras de arte.
No âmbito da Iconografia dos Santos e estudos relacionados com Iconografia Cristã a Legenda Aurea de Jacobus de Voragine não pode ser ignorada como uma das fontes mais importantes.
Para aprender a identificar a iconografia dos Santos na arte:
Conceitos iniciais: Ícone, Iconografia e Iconologia
A evolução e definição da Iconografia como corrente do saber
O método de Panofsky
2 – Iconografia Cristã
Arte e Cristianismo – a imagem como veículo da mensagem
Fontes escritas e gráficas
Os primeiros símbolos do Cristianismo
3 – Iconografia dos Santos
Santos e Mártires: aspectos gerais
A Indumentária do Clero Católico
Principais Santos: símbolos e atributos.
Yolanda Silva
Licenciada em História da Arte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). O seu percurso profissional levou-a a trabalhar no Arquivo Histórico Municipal do Porto e no Museu do ISEP, na inventariação e conservação de colecções fotográficas. Deambulou pelo mundo dos antiquários e do turismo, até se tornar formadora/tutora profissional, dedicando-se às áreas da História da Arte, Iconografia e Conservação de Fotografia. Tem vários trabalhos escritos / publicados nas áreas da História da Arte, Iconografia e Conservação.