Na transição do século XIX para o XX, a par de um momento particularmente feliz da história – a “belle époque” – onde reinava a paz e a aparente estabilidade politica num clima de otimismo.
Vivia-se uma época onde a maioria das pessoas trabalhavam em fábricas e habitavam nas grandes cidades em prédios sobrelotados, mal conservados e com miseráveis condições de privacidade, higiene e arejamento.
Estas circunstâncias originavam doenças como o raquitismo e a tuberculose, e para melhorar esta situação desumana, houve um regresso à natureza e às suas formas reconhecendo a sua importância.
A arte nova e a Natureza
Desde meados do século XIX que os pintores em França tinham abandonado o trabalho fechado nos seus ateliers e montado os seus cavaletes ao ar livre, conduzindo a pintura a temas ligados à natureza, transpostos também para a arquitetura.
Assim, as condições básicas foram mais consideradas e aliadas à figura do Homem, da fauna e da flora, criando uma nova estética apelidada em Portugal de “ arte nova ”.
Este novo estilo teve origem na Inglaterra, aproximadamente em 1890, mas implementou-se na Europa, sobretudo em Bruxelas e Paris até 1914, terminando com o início da Primeira Guerra Mundial.
Maison de l’Art nouveau, 1895 https://en.wikipedia.org/wiki/Maison_de_l%27Art_Nouveau#/media/File:H%C3%B4tel_Bing_en_1895.jpg
Apresentou diferenças regionais e nacionais na sua estética e no termo empregue para o designar, consoante as formas desenvolvidas.
Em Inglaterra chamou-se Modern Style, em Itália Stile Liberty, na Áustria Sezessionsstil (“estilo secessão”), na Alemanha Jugendstil (“estilo jovem”) e finalmente em Espanha por Modernismo.
A França e a Bélgica designaram-na por Art Nouveau (“ arte nova ”), nome de uma loja em Paris, aberta em 1895, especializada na venda de objetos com design inovador.
Aliada a cada localização estava um artista emblemático das suas formas: em Bruxelas, Victor Horta (1861-1947) com as suas linhas chicotadas e Henry van de Velde (1863-1957), em França o arquiteto decorador Hector Guimard (1867-1942), em Barcelona com Antoni Gaudí, em Viena com Josef Hoffmann, em Turim e Constantinopla com Raimondo D’Aronco e em Glasgow com Rennie Mackintosh.
as artes decorativas
Francisco Augusto da Silva Rocha e Ernesto Korrodi, Casa do Major Pessoa, 1907, em Aveiro https://pt.wikipedia.org/wiki/Art_nouveau#/media/File:Casa_do_Major_Pessoa.jpg
Embora aqui a arquitetura seja a arte maior, as artes decorativas foram muito importantes na arte nova , marcando uma estética favorecida por peças funcionais e belas e uma síntese de todas as artes com a sua integração na vida quotidiana.
Os arquitetos decoradores autores dos projetos, defendiam que nenhum objeto era demasiado banal e merecia ter uma criação pormenorizada, quer fosse um candeeiro, um móvel, um vitral, um puxador, um corrimão, um papel de parede ou uma jarra.
Tudo contribuía para uma arte total, demonstrando uma preocupação excessiva pelo mínimo detalhe do ornamento, cuidando dos interiores com o mesmo rigor dispersado à edificação.
Papel de parede de “Alcachofra”de John Henry Dearle para William Morris & Co. 1897
Este conceito pode-se considerar uma influência causada por William Morris (1834-1896), o fundador das “Arts and Crafts” (“Artes e Ofícios”) no século XIX, na Inglaterra, na qual os seus arquitetos e designers eram a favor do artesanato e adeptos da natureza.
Na arte nova os artistas cedo se aperceberam que as máquinas não podiam ser derrotadas devido às suas vantagens e aliaram-se a elas, criando peças adequadas à produção industrial, reduzindo preços.
Para além desta intervenção no conceito, e da inspiração na natureza, originando um ritmo suave de linhas fluidas com motivos baseados em plantas trepadeiras, quedas de água ou cabelos de mulher compridos e soltos; reanimaram estilos anteriores.
O gótico foi escolhido pela sua verticalidade e profusão, assim como o rococó, pelo seu naturalismo da decoração, valor das artes decorativas e o horror do vazio.
Rejeitaram o academismo e tentaram criar uma arte completamente nova, libertando os artistas do ecletismo e de qualquer referência estilística ao passado.
É disso exemplo, obras como a Casa Batllò e a Casa Milà, ambas na Passeig de Gràcia em Barcelona, obra do arquiteto mais excêntrico deste estilo: Antoni Gaudí.
as fachadas e os materiais na arte nova
Aliada à importância das artes decorativas, criaram também fachadas escultóricas, com superfícies sinuosas e irregulares, texturadas e coloridas com plantas livres, que se opôs ao estilo geométrico precedente.
Os arquitetos arte nova utilizaram materiais como o vidro, o betão e o ferro, que há muito era utilizado, mas escondido, e que agora delineava espaços interiores, e se aliava a outros materiais cerâmicos, com texturas diferentes como o ladrilho cozido e o azulejo.
O ferro fundido foi aplicado pelo francês Hector Guimard nas suas célebres entradas do metropolitano de Paris, onde soube tirar muito bem partido do material nas suas linhas ondulantes, florais e sedutoras, utilizando uma linguagem inovadora e refletora dos conceitos deste movimento.
Baseou-se em princípios da lógica, harmonia e sentimento, em decorações florais, onde baniu a folha e a flor e se interessou apenas pelo caule.
Entrada da Estação Porte Dauphine do Metropolitano de Paris, 1900-1912. https://pt.wikipedia.org/wiki/Art_nouveau#/media/File:La_station_art_nouveau_de_la_porte_Dauphine_(Hector_Guimard).jpg
Foi uma arte caracterizada pela originalidade, excentricidade e por uma nova gramática decorativa e sinuosa, de interior e exterior, inspirada na natureza, na qual combinaram os materiais tradicionais com os novos num resultado gracioso e inovador.
Conheça os cursos online de história da arquitetura
Licenciada em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e mestre em Museologia em Espanha (Valladolid).
Trabalhou na Galleria Nazionale d’Arte Moderna di Roma e na direção da Galleria dos Uffizi, em Florença.
Bolseira diversas vezes com projetos de estudo e trabalho em Itália e Espanha, foi formadora e professora responsável pela disciplina de História da Arte no Porto, e de Introdução à História da Arte, Iconografia e História da Arquitetura, na Academia de Arte em Florença.
Em 2014 publicou o livro Guia dos Tesouros Arquitetónicos. Lisboa, Chiado Editora, 2014, fruto de uma investigação aprofundada sobre os temas.
2 Comentários.
Very interesting article to brief all relevant information on art nouveau
Thank you for your comment.