O Legado Cultural da Mesopotâmia

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“Na Suméria, um bom milénio antes de os Hebreus terem escrito a Bíblia e os gregos a Ilíada e a Odisseia,encontramos já toda uma literatura rica florescente, que compreendia mitos e narrativas epopeicas, hinos e lamentações, e numerosas colecções de provérbios, de fábulas e de ensaios. Não é utópico predizer que a recuperação e a restauração desta literatura antiga e caída no esquecimento bem poderão ser uma das maiores contribuições do nosso século para o conhecimento do homem”. (KRAMER, 1997: 18).

A Mesopotâmia

A Mesopotâmia é um território situado entre os rios gémeos, Tigre e Eufrates, no Próximo Oriente, ocupado por diversos povos na antiguidade, dos quais sobressaem os sumérios, os assírios e os babilónios, tendo um carácter heterogéneo, não unificado enquanto país.

O legado cultural destes povos começa a ganhar proporção com os sumérios, através da invenção da escrita cuneiforme, e consequente transição da Pré-História para a História. O seu legado alcançou uma forte projeção nas civilizações que lhe sucederam e, inclusivamente, nas sociedades actuais; noções generalizadas sobre as quais reflete o presente texto.

A Civilização da Mesopotâmia

Kramer (1997) nos transmite duas noções. A primeira, demonstra que o desenvolvimento social, económico e político promove a paz e a coesão, das quais resulta o florescimento intelectual. Estas características compõem o conjunto de critérios que define uma civilização devidamente organizada. Segundo, que estas circunstâncias não são exclusivas da modernidade, conforme deixa claro na sua obra “A História começa na Suméria”.

O legado cultural da Mesopotâmia

 

A Escrita Cuneiforme

Quando as descobertas arqueológicas do século XIX revelaram que os povos da Mesopotâmia, há já 3000 anos a.C., dispunham de um sistema de escrita cuneiforme, sobre tabuinhas de argila, desenvolvida e amplamente utilizada para registar, organizar e desenvolver o seu quotidiano em várias vertentes, não só permitiu estudar a civilização em si, como também provou que o contributo e influência dos seus conhecimentos foram determinantes para as civilizações que lhe seguiram.

Assim, estas tabuinhas forneceram um arquivo documental essencial para compreender o espectro cultural desta civilização ao longo do tempo, conhecendo-se os fundamentos da religião, da literatura, do Direito e das ciências, como a Astronomia, a Geografia, a Matemática e a Medicina.

Cada um destes nichos de conhecimentos merece agora uma breve referência que demonstre o que até aqui foi dito.

A Religião da Mesopotâmia

Em termos religiosos sabe-se que os Acádios, os Assírios e os Babilónios (povos que sucederam aos Sumérios e assumiram o poder na Mesopotâmia), assimilaram as divindades sumérias sob a forma de uma tríade cósmica, composta pelo deus do céu, An, deus da atmosfera, Enlil e deus das águas doces, Enki-Ka, que coexistiam com as divindades astrais do sol, Shamash, e da lua, Sin. Os deuses eram concebidos semelhantes aos homens excepto na imortalidade.

Estes povos desenvolveram mitos cosmogénicos que explicavam as origens dos deuses, do mundo e dos homens. O mais famoso foi o poema de Enuma Elish, que exalta o deus babilónio Marduk, que suplanta Enlil, e se torna regente principal e soberano do universo. Algumas destas noções são análogas às doutrinas religiosas em vigor, como o conceito de trindade divina, de imortalidade celestial e de semelhança entre deuses e homens.

A Literatura da Mesopotâmia

 

Respeitante à literatura, Gilgamesh é a epopeia mais antiga que se conhece. Foi encontrada na biblioteca de Assurbanípal, em Ninive e narra as aventuras do rei de Uruk em busca da imortalidade. Facto que atesta a diferença entre os homens e os deuses. Este modelo literário, a epopeia, viria a ser utilizado pelas civilizações clássicas, exercendo forte influência sobre a Ilíada e a Odisseia.

O Direito na Mesopotâmia

codigo de ur-nammu

 

 

Relativamente à legislação, a Mesopotâmia é conhecida como a pátria do Direito escrito da Antiguidade Pré-Clássica, destacando-se o Código de Hamurábi (1728-1686 a.C.) como o mais famoso, pese embora ser sucessor de códigos anteriores como o de Ur-Namu (2050-2032 a.C.), de Lipit-Ishtar (1875-1865 a.C.) e do de Eshnuna (1825-1787 a.C.).

A Geografia na Mesopotâmia

No tocante à Geografia, salientam-se os programas de aprendizagem escolar acerca dos rios, montanhas e países, bem como a existência de um Mapa-mundi do século VI a.C. onde a Terra está representada como um disco com a Babilónia ao centro.

A Matemática e a Astronomia na Mesopotâmia

A Matemática alcançou maior desenvolvimento que a Geografia com o sistema sexagimal, dividindo a circunferência em 360º, a hora em 60 minutos e o minuto em 60 segundos. As tabuinhas de argila do II milénio também revelaram tabelas com números para efectuar divisões e multiplicações, e uma delas, do século XVIII a.C., ilustra graficamente o Teorema de Pitágoras.

O desenvolvimento da Astronomia a partir de 500 a.C. providenciou o calendário lunar que dividia o ano em 12 meses e vinte e nove dias, iniciando-se com a primeira lua nova, que se seguia ao equinócio da Primavera. Também dividiram a semana em 7 dias, aquando da instituição dos sete grandes deuses siderais: o Sol, a Lua e os cinco planetas visíveis a olho nu, os quais iriam ser atribuídos a cada um dos dias da semana pelos povos ocidentais.

A medicina na Mesopotâmia

Acerca da Medicina conhecem-se quais as sanções aplicadas aos médicos em caso de insucesso (através do Código de Hamurábi), algumas receitas, tipos de medicamentos (bebidas purgativas, lavagens, unguentos, pensos, cataplasmas, pomadas, pílulas, supositórios e fumigações), alguns registos de operações efectuadas em pacientes, diagnósticos assertivos da Icterícia e da Epilepsia, a localização da escola onde se formavam os físicos, como foi Nipur, bem como o local mais comum de prática do ofício, como terão sido as divisões escuras e isoladas.

Porém, estes povos eram paralelamente devotos à crença nas propriedades da magia, complementando muitas vezes as receitas ou recomendações com práticas como o exorcismo ou encantações, ou utilizando ingredientes como a urina, os excrementos, o sangue e o esperma.

Conclusão sobre o legado cultural da Mesopotâmia

Para terminar, uma nota: além do legado cultural e dos princípios fundamentais das ciências ocidentais, oriundos da Mesopotâmia, também lhe devemos algumas instituições, nomeadamente a coroação dos reis, alguns símbolos religiosos como o crescente lunar, alguns vocábulos como cana (qânu) ou álcool (guhlu) e a presença de episódios mesopotâmicos na Bíblia, como a queda da Torre de Babel ou o Dilúvio.

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