A arte religiosa está repleta de sinais visuais que ajudam a identificar figuras e suas funções.
Este artigo centra-se nas vestes do clero regular – monges e frades pertencentes a ordens religiosas – e ensina como reconhecê-los em pinturas e esculturas.
Aprenda a distinguir os Franciscanos pelas túnicas castanhas e cordões com nós, os Dominicanos pelo hábito branco com capa preta e os Beneditinos pelos trajes escuros e austeros.
Um guia prático para enriquecer a interpretação da arte sacra com profundidade histórica.
Na história da arte ocidental é frequente a representação de santos, mártires e clérigos do clero regular e uma das formas de identificação das personagens representadas é através da sua indumentária.
Olhemos para as vestes das principais ordens do clero regular neste texto de Yolanda Silva, do curso Iconografia dos Santos.
Como identificar as vestes do clero regular
O clero regular
São Domingos e São Francisco, Angelo Lion , Basilica dei Santi Giovanni e Paolo, Veneza
O clero regular – ou religioso – é aquele que segue uma determinada regra (em latim «regula»), imposta por uma ordem religiosa.
Santa Teresa d’Ávila, Janet McKenzie.
Dentro do clero regular obedecem a uma hierarquia e têm títulos próprios e, ao contrário do clero secular, não vivem entre os leigos, mas em espaços próprios, como os mosteiros, conventos e abadias.
Dentro das ordens religiosas do clero regular podemos encontrar quatro tipos:
Monásticas
Monges e monjas que vivem em clausura, nos mosteiros (ex.: Beneditinos, Cartuxos, Clarissas, Cistercienses);
Mendicantes
Frades e freiras vivem em conventos e mantêm o apostolado mais ativo junto dos leigos, através de obras de caridade, sobrevivendo de esmolas e comprometendo-se a viver da pobreza (ex.: Agostinianos, Carmelitas, Dominicanos, Franciscanos);
Regrantes
Formadas exclusivamente por cónegos regrantes (como a Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e a Ordem Premonstratense);
Clérigos regulares
Não vivem tão enclausurados como os monges e frades, mostrando-se mais orientados para a vida comunitária entre os leigos.
Participam, muitas vezes, das atividades do clero secular, como a liturgia, a educação e a administração dos sacramentos (ex.: Crúzios, Jesuítas, Teatinos).
Vestes do Clero Regular
Os hábitos da maioria das Ordens reflete os seus votos, mostrando-nos um figurino modesto.
Assim, as vestes do clero regular são um traje de grande simplicidade, variando em corte e formas, de acordo com a Ordem a que pertence, e consistindo somente num escapulário e um capuz.
Os Abades e as Abadessas recebiam, com a bênção do bispo um anel e uma cruz peitoral, significando o seu cargo. Aos Abades era, ainda, atribuído um báculo.
Vamos, então, analisar brevemente os hábitos das principais ordens religiosas:
Beneditinos
Chamados de «monges negros», porque vestiam um hábito de lã preta, por tingir; o hábito tinha mangas e capeirote com capuz e calçavam sapatos e meias.
São Bento de Nursia, Giovanni Bellini
Ordem de Cister
O hábito era igual ao dos Beneditinos, inicialmente em castanho, depois passou a branco ou cinzento com escapulário castanho e evoluiu para um hábito branco com escapulário preto.
Cistercienses a trabalhar num detalhe da Vida de São Bernardo de Claraval, ilustrada por Jörg Breu, o Velho (1500)
Cartuxos
Inicialmente usavam hábitos grosseiros e uma camisa de esparto (um arbusto que servia para fazer cordas e esteiras), mas hoje vestem-se com sarja branca.
Pintura na Cartuxa de Nuestra Señora de las Cuevas, em Sevilha, de Francisco de Zurbarán.
Agostinhos
Os Frades Eremitas Agostinhos vestiam cinzento; os Cónegos Regulares de Santo Agostinho usavam roqueta sobre sotaina preta e uma capa preta com capuz.
Os Cónegos Regulares (ordem fundada por São Norberto) usavam branco.
Os Gilbertinos (fundados por São Gilberto) usavam um hábito preto com capa branca.
Os Cónegos Regulares de Santo Antão usavam um hábito preto com uma cruz branca em forma de tau (Τ ou τ).
Finalmente, os Cónegos Regulares da Santíssima Trindade ou frades trinitários tinham um hábito branco, com cruz azul e vermelha e capeirote e chapeirão negros;

Santo Agostinho no seu escritório, de Vittore Carpaccio, 1502
Ordens dos Frades Menores (Franciscanos)
O hábito era cinzento, agora é castanho, com capuz e cinto de corda com três nós (símbolo dos três votos: pobreza, castidade e obediência), e geralmente, descalços ou com sandálias;
A Confirmação da Regra Franciscana, por Domenico Ghirlandaio (1449-1494), Capella Sassetti, Florença
Ordem dos Pregadores (Dominicanos)
Vestindo apenas lã, os seus hábitos são brancos, com capa e capuz brancos ou capa e capeirão em preto; até ao século XIII usavam roqueta, mas esta foi substituída pelo escapulário (em preto).
São Domingos (1170–1221), retrato de El Greco, por volta de 1600
Frades Menores Capuchinhos (Franciscanos Reformados)
Vestem-se como os Franciscanos, embora o capuz seja mais longo, andam descalços ou quase descalços e usam barba.
Frades capuchos no Paraguai, vestindo o hábito tradicional franciscano.
Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo (Carmelitas)
É uma ordem mendicante cujo hábito é variante: originalmente, usavam túnica cintada, escapulário e capuz pretos, castanhos ou cinza; a capa tinha listas verticais pretas e brancas; hoje usam o hábito castanho com capa branca.
Sociedade de Jesus (Jesuítas)
Sem hábito próprio definido, começaram por usar a sotaina preta e barrete ou chapéu, tal como os padres seculares de Espanha da sua época; a única imposição era refletir na sua indumentária o voto de pobreza e os usos locais.
Padre António Vieira
Pode visualizar estas diferenças no vídeo seguinte.
O que os alunos dizem do curso Iconografia dos Santos
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Yolanda Silva
Licenciada em História da Arte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). O seu percurso profissional levou-a a trabalhar no Arquivo Histórico Municipal do Porto e no Museu do ISEP, na inventariação e conservação de colecções fotográficas. Deambulou pelo mundo dos antiquários e do turismo, até se tornar formadora/tutora profissional, dedicando-se às áreas da História da Arte, Iconografia e Conservação de Fotografia. Tem vários trabalhos escritos / publicados nas áreas da História da Arte, Iconografia e Conservação.