Tradicionalmente, estabelece-se que as primeiras vozes feministas começaram a surgir no século XVIII.
No entanto, esta afirmação deve ser relativizada, pois podemos constatar que, durante os séculos XVI e XVII, houve mulheres feministas que, individualmente, questionaram o esquema estabelecido para homens e mulheres, bem como a desigualdade.
Sem dúvida que, através dos seus escritos, foram elas as impulsionadoras do movimento coletivo que tomou forma durante os séculos XVIII e XIX, o feminismo .
Saiba mais sobre as primeiras vozes feministas neste artigo de Rocio Rivas Martinez, autora do curso online História da Mulher / Género.
Desta forma, destacam-se as seguintes:
As primeiras vozes feministas – Cristina de Pisano, (1364-1430)
A excelência ou a inferioridade dos seres não reside no seu corpo, segundo o sexo, mas na perfeição da sua conduta ou das suas virtudes.
Esta escritora italiana é considerada a primeira feminista do Ocidente.
O seu trabalho em prol do feminismo começou em França, quando, em 1399, fundou La Querelle de la Rose, uma comunidade ou clube onde as mulheres se reuniam para discutir temas da actualidade e promover os direitos/intelectualidade das mulheres.
Na sua obra literária, dedicou um poema a Joana d’Arc, criticou os preceitos promovidos por Jean de Meung no Roman de la Rose e respondeu a todos os seus detractores com a sua obra mais conhecida, A Cidade das Damas.
Nela, fala de uma cidade habitada por mulheres que deixaram a sua marca na História e governada pela Virgem Maria. Além disso, exorta todas as mulheres a protegerem esta cidade dos inimigos e dos detractores.
As primeiras vozes feministas – Marie de Gournay, (1565-1645)
Esta filósofa francesa foi uma das primeiras mulheres feministas a questionar a ordem estabelecida e a defender os direitos/igualdade das mulheres.
As suas obras incluem: Le promeneoir de Monsieur de Montaigne (1594), Tratado sobre a igualdade dos homens e das mulheres (1622) e Queixas das mulheres (1626).
Em todas e cada uma delas, Marie critica o casamento (para ela, tal como era concebido, era uma limitação para as mulheres), defende um sistema educativo e laboral igualitário e estabelece que a única diferença entre homens e mulheres é o seu físico, não o seu intelecto, pelo que as mulheres não são inferiores, mas simplesmente não têm acesso à educação = para poderem desenvolver-se na esfera pública.
As primeiras vozes feministas – María de Zayas y Sotomayor (1590-1661)
Se as almas não são homens nem mulheres, que razão há para que eles sejam sábios e para que nós não o possamos ser?
Esta escritora espanhola que através das suas obras: Novelas ejemplares y amorosas (1637), Novelas y Saraos (1647), Desengaños amorosos (1648) e Parte segunda del sarao y entretenimientos honestos (1649) expõe o seu pensamento feminista:
a necessidade de adquirir direitos iguais, o direito à cultura e a uma educação que não castre as mulheres porque, para ela, “as almas não são nem homens nem mulheres” e “as mulheres são merecedoras de respeito e cortesia”.
As obras desta escritora tiveram muito sucesso, no entanto, durante os séculos XIX e XX, algumas delas foram censuradas por serem consideradas libertinas.
No entanto ficarão para a história dentro dos primeiros escritos feministas destacando-se o seu sucesso.
As primeiras vozes feministas – Sor Juana Inés de la Cruz (1651-1695)
Homens néscios que acusam as mulheres sem razão, sem verem que são a causa da mesma coisa que acusam?
Esta freira e poetisa mexicana legou-nos uma obra em que destaca a figura da mulher e critica a atitude dos homens em relação às mulheres:
Homens néscios que acusam
as mulheres sem razão,
sem verem que são a
causa da mesma coisa que acusam…
(…) Lutas contra a sua resistência
e depois com gravidade
dizes que foi leveza
o que a diligência fez.
No entanto, os seus escritos, impróprios de uma freira, foram rapidamente criticados por alguns sectores e, em 1690, o bispo da cidade de Puebla classificou-os de mundanos.
A sua resposta foi a obra La Respuesta de sor Filotea de la Cruz, na qual defendia o direito das mulheres à educação. Finalmente, Juana acabou por se desfazer da sua extensa biblioteca e dedicar-se inteiramente à vida religiosa.
As primeiras vozes feministas – Mary Astell (1666-1751)
Se todos os homens nascem livres, porque é que todas as mulheres nascem escravas?
Esta e outras frases feministas fazem de Mary Astell um vulto incontornável na história do feminismo.
Esta escritora e filósofa inglesa defendia que as mulheres tinham a mesma capacidade intelectual e de raciocínio que os homens, de literacia e de igualdade de oportunidades.
De facto, grande parte do seu pensamento feminista está resumido na sua famosa frase:
“Se todos os homens nascem livres, porque é que todas as mulheres nascem escravas?
Destaca-se assim entre as primeiras e mais ativas vozes feministas da história.
As suas obras incluem A Serious Proposal I e II (1694-1697), em que estabelece que as mulheres podem ser mais do que esposas e mães.
História da Mulher / Género
Curso online
1 – Introdução à História da Mulher (género)
1.1. O nascimento da História da Mulher (género)
1.2. Etapas de estudo e debates na história da Mulher/Género
1.3. Como concebemos a história da Mulher/Género?
2 – A Mulher na pré-história
A Mulher na Pré-história – Introdução
2.1. Arqueologia de Género – Como vemos hoje as mulheres da pré-história?
2.2. Os modos de vida e a organização das sociedades pré-históricas: do matriarcado ao patriarcado?
2.3. A representação da mulher na arte
2.4. Uma abordagem à mulher no início dos tempos.
3 – A Mulher na Mesopotâmia e Egito
Conteúdo da Unidade – Mulheres na Mesopotâmia e no Egipto
3.1. As Mulheres na Mesopotâmia
3.1.1. A mulher e a questão jurídica
3.1.2. As mulheres no âmbito doméstico
3.1.3. As mulheres no âmbito laboral
3.1.4. As mulheres e a religião
3.2. As mulheres no Egito
3.2.2. A mulher no âmbito doméstico
3.2.3. A mulher no âmbito laboral
3.2.4. A mulher na religião
3.2.5. As mulheres e a realeza
Bibliografia – A mulher na Mesopotâmia e Egito
4 – A Mulher na Grécia e Roma
Conteúdo da unidade – A mulher na Grécia e Roma
4.1. O conceito de género no mundo clássico
4.2. A mulher na literatura e na mitologia clássica
4.2.1. A mulher na literatura clássica
4.2.2. A mulher na mitologia e na religião
4.3. O protótipo da mulher grega – a ateniense
4.4. Outro modelo de mulher na Grécia Antiga: as espartanas e as gortienses
4.5. A mulher romana
Bibliografia – A Mulher na Grécia e em Roma
5- A Mulher na Idade Média e Moderna
Conteúdo da unidade – A Mulher na Idade Média e Moderna
5.1. O conceito de mulher na mitologia e literatura
5.1.2. As mulheres no ciclo arturiano
5.1.3. O julgamento de Joana d’Arc
5.2. O conceito nos âmbitos eclesiástico e profano
5.2.1. O conceito da mulher no âmbito eclesiástico
5.2.2. O conceito da mulher no âmbito profano
5.3. A mulher na sociedade medieval / moderna
5.3.1. As marginalizadas: a prostituta
5.3.2. A mulher campesina / urbana
5.3.3. A monja
5.3.4. As nobres
5.4. A bruxaria na Europa Moderna
5.4.1. A bruxa: âmbito e caraterísticas
5.5. As primeiras vozes feministas
Bibliografia – A mulher na Idade Média e Moderna
Sugestão de atividade – A mulher na Idade Média e Moderna