Precisamos falar sobre o tapete vermelho

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Autor: Davi Galhardo

Filósofo e crítico de cinema

Oscar 2018 | Precisamos falar sobre o tapete vermelho

 

Embora suas decisões sejam bastante questionáveis nos últimos anos, de fato, o Oscar é de longe a mais pomposa de todas as celebrações da sétima arte, e, costuma voltar as atenções de todo o planeta para a sua realização anual que aglutina, de um só golpe, estrelas de Hollywood, cineastas premiados, produtores, críticos e muito, muito glamour.

Destarte, dentre tantas categorias, sem dúvidas, a premiação mais esperada é a de melhor filme que, por conseguinte, tende a ser considerado o melhor filme do ano em todo o mundo. Ora, como sabemos, em 2018, concorrem à principal estatueta dourada:

1) ‘Me Chame Pelo Seu Nome’, de Luca Guadagnino; 2) ‘O destino de uma nação’, de Joe Wright; 3) ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan; 4) ‘Três anúncios para um Crime’, de Martin McDonagh; 5) ‘Lady Bird: A Hora de Voar’, de Greta Gerwig; 6) ‘A forma da água’, de Guilherme del Toro; 7) ‘Corra!’, de Jordan Peele; 8) ‘Trama Fantasma’, de Paul Thomas Anderson, e, 9) ‘The Post: A Guerra Secreta’, de Steven Spielberg. Tais filmes, pela sua extensão e complexidade, evidentemente, merecem analises independentes que, é claro, podem ser facilmente encontradas pelos quatro cantos.

Contudo, para nós é fundamental, na ocasião presente, realizar apenas um pequeno voo, uma olhadela sobre tais filmes, no intuito de prever o que nos espera no tapete vermelho. Assim como aconselhou o Chapeleiro maluco à Alice, começaremos pelo começo… e, quando chegarmos ao fim: pararemos.

1) ‘Me Chame Pelo Seu Nome’, de Luca Guadagnino.

O que dizer deste trabalho senão um simples: ‘Ah! Que bela encarnação da poesia!’? Grosso modo, o filme é um retrato de pessoas de distintas idades, no auge dos anos oitenta, que por questões sociais são impedidas de expressar seus sentimentos mais profundos. Tal fato, no entanto, não faz com que estes últimos não venham a existir e, é claro, da forma mais doce e fraterna possível. Tais fatores tornam este filme, por si só, uma aula de humanidade, contudo, parece-nos, as chances reais de levar a estatueta dourada são bem remotas.

2) ‘O destino de uma nação’, de Joe Wright

É um filme britânico com B maiúsculo. Este trabalho apresenta a ascensão e êxito do político conservador Winston Churchill, durante a segunda guerra mundial, período no qual exerceu o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido. Curiosamente, aqui, o personagem de Churchill faz um arco dramático que o leva da posição de velho rabugento e acomodado à um homem determinado e radical, que, pasmem, chega a flertar com a participação popular no que tange às decisões políticas na terra do Big Ben. Certamente, passará longe da estatueta do Oscar.

3) ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan.

Poderia ser a parte dois do filme de Wright, sim, poderia, mas, está muito a frente disto. Em verdade, o trabalho do aclamado diretor de Batman: o cavaleiro das trevas (2008) e Interestelar (2014), embora ocorra no mesmo recorte histórico que o filme supracitado, dispõe de uma estrutura, no que tange à linguagem e estética cinematográfica propriamente dita, bem mais complexa e madura, mesmo enfocando um dos temas mais explorados no cinema: os horrores da guerra. Um dos favoritos a levar pelo menos três estatuetas para casa, dentre as quais a de melhor filme, sendo assim, é plausível que sangue irá jorrar pelo tapete vermelho.

4) ‘Três anúncios para um Crime’, de Martin McDonagh,

É um filme que clama por justiça e demonstra que a dor da perda de alguém, por maior que seja, pode ser superada… até mesmo por outra dor. Em suma, esta realização narra a história de uma mãe que clama por justiça ao brutal assassinato/estupro de sua filha que jamais ficou esclarecido. Apesar das investidas, a trama não caminha para um final feliz… e é aí que alguns dos personagens parecem cogitar resolver a querela expressa, e, fazer justiça com as próprias mãos. Deixando assim, para nós, o questionamento: afinal, os fins justificam os meios? (Maquiavel).

5) ‘Lady Bird: A Hora de Voar’, de Greta Gerwig.

Sem dúvidas, este filme já angariou haters por todo o mundo, mas, embora ele seja um dos mais distantes de abocanhar uma premiação no Oscar, é preciso reconhecer a sua essência agridoce. Afinal, são muitas as temáticas que passam como secundárias na vida cotidiana que aqui aparecem em primeiro plano, ou seja, o filme de Gerwig dá lugar de fala aos problemas supostamente banais da sociedade, sobretudo quando você é alguém às vésperas da maioridade.

6) ‘A forma da água’, de Guilherme del Toro.

É de longe o favorito ao prêmio de melhor filme de 2018, contudo, vale ressaltar, a sua fórmula não é das mais inovadoras. Numa mistura de Amelie Poulan com o Labirinto do Fauno e/ou de A Bela e a Fera com o Monstro do Lago Ness, o filme de Del Toro é uma intrigante história de amor entre uma jovem mulher e uma criatura aquática humanoide. Mas, isto não é tudo, para rechear este bolo de sentimentos que se constitui de forma a priori, temos ainda temas como a guerra fria e a beleza da própria arte cinematográfica dos seus tempos áureos. Destarte, por todos os ângulos que se queira observar, A forma da água é um filme que ficará para a história.

7) ‘Corra!’, de Jordan Peele.

É, para nós, o último dos três grandes concorrentes a vencer a principal categoria do Oscar. Mas, o que justifica essa escolha? O casamento entre cinema e psicologia é de longe bastante frutífero, e, Peele soube explorar isto de forma bastante profunda usando, para tanto, um MacGuffin social: o eterno racismo nos EUA. Contudo, o que podemos observar neste filme é algo muito mais profundo, qual seja, tal como mostrou Bergman em Persona, as subjetividades humanas nem sempre são o que realmente parecem…

8) ‘Trama Fantasma’, de Paul Thomas Anderson.

Como sabemos, Anderson é um cineasta que dispensa apresentações, e, seu novo trabalho, como de costume, resultou num filme extremamente bem construído, excitante e luxuoso, de fio a pavio. De fato, não demoramos a nos acostumar com a vida requintada de um bem-sucedido estilista que só pensava naquilo: o trabalho. Contudo, é claro, uma Alma, que lhe rodeia, decide colocar as coisas de forma um tanto distinta, embora estas permaneçam exatamente do jeito que sempre foram…

9) ‘The Post: A Guerra Secreta’, de Steven Spielberg.

É, talvez, o mais mediano de todos os filmes indicados, e, certamente a sua escolha deve algo ao próprio nome e significado de Spielberg para a história do cinema. Revisitando uma fórmula recém agraciada com o êxito, sobretudo em Spotlight: segredos revelados em 2016, qual seja, a difusão de escandalosos documentos secretos através de jornais, o novo filme do incansável diretor de 71 anos de idade já pode se considerar um vencedor pelo simples fato de ter sido lembrado pela academia.

Destarte, o que se pode esperar, diante dos trabalhos citados, é uma cerimonia bastante agitada, embora pouco acirrada em suas disputas.

Mais ainda, e para nós esta é a questão fundamental a ser exposta nestas poucas linhas, a partir dos trabalhos supracitados, parece-nos,o cinema do primeiro escalão mundial, ‘o cinemão’, tem se repetido cada vez mais. Até quando?

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