3 níveis de leitura da arte | A iconografia como disciplina

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Erwin Panofsky (1892-1968) elevará a iconografia a área de estudo através da definição de 3 níveis de leitura da arte.

Artigo de Yolanda Silva, autora de cursos na área de Análise de Arte | Iconografia.

Inclui um vídeo explicativo.

A utilização de símbolos na arte

O uso de símbolos para comunicar remonta ao início da comunicação em si.

Como expressão artística, o uso de ícones na expressão artística remonta a 3000 a.C., ao Médio Oriente. Aqui, as civilizações neolíticas existentes, como a Egípcia, usavam figuras de formato animalista para fazer representar os seus deuses.

Por exemplo: Hathor é uma mulher cuja cabeça é a de uma vaca e Hórus pode ser representado com cabeça de falcão.

leitura da arte Hórus

O deus egípcio Hórus, no Templo de Edfu.

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Edfu_Tempel_09.jpg

Na Antiguidade clássica

Do outro lado do Mediterrâneo, na antiga Grécia, podemos identificar, por exemplo, Zeus acompanhado de uma águia ou de um relâmpago, Apolo com uma lira e Diana, sendo a caçadora, traz consigo arco e flecha.

Os deuses gregos eram, assim, representados com determinados objectos ou atributos que os identificavam.Area iconografia

Na Antiga Roma, o uso de alegorias será mais desenvolvido ainda, podendo uma mulher rodeada de flores poder significar a Primavera.

Pode ficar a conhecer estes símbolos, atributos e representações no curso online Mitologia Greco Romana.

Cristianismo

O uso de símbolos foi importante nos primeiros anos do Cristianismo. De facto, ainda o Império Romano venerava deuses pagãos e já os Cristãos, para fugir às perseguições, faziam figurar a sua fé por meio de símbolos mais ou menos evidentes. É desta maneira que a pomba ou o peixe representam o Espírito Santo ou Jesus Cristo.

A tendência implantou-se rapidamente e o número de símbolos entrou em crescendo. Desta forma, na arte cristã mais tardia, temos uma maior quantidade de representações iconográficas.

Será a par desta tendência que se apurarão, também, os atributos dos Santos. Do mesmo modo como as divindades greco-romanas são identificadas através de determinados objectos relevantes da sua função ou história de vida, também os santos assim serão identificados.

Pode saber mais sobre símbolos e atributos dos Santos no curso online Iconografia dos Santos.

A partir da Renascença

Iconografia Memento MoriA pintura alegórica tornou-se mais popular durante o período da Renascença e através do século XVIII. Os artistas imaginavam complexas composições cheias de simbolismo, representando, por exemplo, o tema da vaidade humana, popular na época Barroca. Jóias, moedas de outro ou instrumentos musicais significariam os prazeres mundanos, enquanto crânios, velas apagadas ou ampulhetas recordariam o espectador que a morte é iminente (Memento Mori).

 

Memento Mori. Óleo sobre tela de Vincent Laurensz van der Vinne (séc. XVII).

http://necspenecmetu.tumblr.com/page/317

 

 

 

A Iconografia como disciplina de estudo

É Aby Warburg quem, no século XIX, assume a defesa da iconografia como corrente de estudo. Warburg dizia que a história das imagens fala-nos da função geral das imagens, na medida em que é simultaneamente um meio de expressão de necessidades e expectativas e uma forma de comunicação religiosa e política.

É no sentido de desenvolver a ideia da importância do estudo das obras de arte em todos os seus detalhes, que funda o Instituto Warburg, em Hamburgo (Alemanha).

3 níveis de leitura da arte

No entanto, será o seu discípulo Erwin Panofsky (1892-1968) elevará a iconografia a área de estudo propriamente dita, orientando-se para a definição da Iconologia.

Em 1939, no seu ensaio Estudos em Iconologia, Panofsky, tal como Warburg antes o fizera, fala de uma leitura que deverá ir para além do estudo descritivo e formalista da obra.

Ou seja, Panofsky sugere que, perante uma qualquer representação artística, nós devemos não apenas perguntar «O quê?», mas também «Por quê?».

E a sua análise d’O Casamento dos Arnolfini, de Jan Van Eyck, de 1935, será o primeiro estudo que faz dentro da temática da simbologia e iconografia de obras de arte.

Casamento dos arnolfiniPanofsky dizia que aquilo que, à partida, poderia parecer um retrato confuso e desorganizado, estava, na realidade, a transmitir uma mensagem muito clara: era a representação de um contrato de casamento.

Simbolizado através da presença de diversos elementos cuja simbologia oculta apontavam para o sacramento do casamento (como o cão, a sandália, o leito nupcial, o espelho, a própria assinatura do pintor, que afirma que «…esteve aqui», como se tivesse testemunhado um evento de importância) e o significado que poderiam assumir no contexto em que a obra foi produzida.

 

O Casamento dos Arnolfini, de Jan Van Eyck

 

 

 

 

E detalha, assim, a sua ideia de uma análise através de três níveis de «leitura»

Panofsky, defendendo a necessidade de conhecer os costumes e hábitos diários específicos da época, do local e, até, dos intervenientes da produção em questão, afirma que é possível «melhorar» a possível leitura que se faça de uma qualquer obra.

Tornar a análise mais precisa e directa. Porque há uma razão pela qual o autor incluiu aquele símbolo, há que fazer um trabalho de análise contextualizado.


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